“O bispo dos pobres”
No “Dia da Voz Portucalense”, fez-se memória e rezou-se pela beatificação de D. António Barroso, o bispo que D. Manuel Clemente, no livro D. António Barroso Memórias de um Bispo Missionário, apresenta como “ figura altamente inspiradora do que um prelado há de fazer na sociedade contemporânea e em tempos de “nova evangelização”.
“A participação de Portugal na Primeira Grande Guerra provocou o aumento dos impostos e a subida dos preços. Isto degradou muito o nível de vida dos portugueses e generalizou o descontentamento”. (A Grande Viagem).
Nesses tempos de miséria, no dealbar do século passado, D. António Barroso agigantou-se como “pai dos pobres”. Quando faleceu, toda a imprensa nacional e regional lamentou a morte do “bispo dos pobres”.
Ele sabia que, antes de dar a cana e ensinar o pobre a pescar, é preciso ajudá-lo a ter forças para segurar na cana. D. António Barbosa Leão, seu sucessor no Porto, disse que “Em sua casa faltaria talvez na mesa até o necessário; o seu vestuário muitas vezes denunciava pobreza (…) mas para os pobres havia sempre: esmola e palavras amigas”. A mãe ofereceu-lhe o seu cordão de ouro. Mais tarde, ele confessou que o cordão já não existia porque o foi partindo aos bocadinhos para dar, quando nada mais tinha, aos pobres que lhe batiam à porta. Dele escreveu Raul Brandão, “o Bispo é uma grande figura de bondade. Dá tudo o que tem”.
Além disso, dinamizou várias instituições de assistência, como a Oficinas de S. José, Asilo de Vilar, Recolhimento das Meninas Desamparadas, Recolhimento do Ferro, Irmãzinhas dos Pobres. Fez renascer o Círculo Católico Operário. E criou a Associação de Proteção à Infância.
Mais ainda. Em 1918, escreveu uma carta pastoral em que, diz José Gomes Campinho, começa por constatar a crise das subsistências, que se manifesta num quadro confrangedor em que a miséria “se reflete na vida familiar, na ordem pública, na paz social”. Afirma que o trabalho, enquanto “nobre meio de se ganhar o sustento de cada dia” deve ser valorizado e tratado não como uma mercadoria mas como expressão da vida humana; que os salários devem ser proporcionais com as necessidades dos trabalhadores, e lembra aos patrões que “brada ao céu o pecado de se não pagar a quem trabalha o jornal merecido e juso”; que os trabalhadores, para não ficarem à mercê do arbítrio dos patrões, têm o direito de se organizarem em sindicatos e federações, mas que as reivindicações se devem fazer sem sedições nem violências; a luta de classes não resolve a “questão social” porque esta só poderá ser resolvida “pelo princípio da solidariedade humana e da fraternidade cristã”. Que atualidade! Era a aplicação da “Rerum Novarum” de Leão XIII.
Hoje, clamaria com D. Manuel Clemente “Não apertem de mais, precisamos de respirar”.
João Alves Dias
No “Dia da Voz Portucalense”, fez-se memória e rezou-se pela beatificação de D. António Barroso, o bispo que D. Manuel Clemente, no livro D. António Barroso Memórias de um Bispo Missionário, apresenta como “ figura altamente inspiradora do que um prelado há de fazer na sociedade contemporânea e em tempos de “nova evangelização”.
“A participação de Portugal na Primeira Grande Guerra provocou o aumento dos impostos e a subida dos preços. Isto degradou muito o nível de vida dos portugueses e generalizou o descontentamento”. (A Grande Viagem).
Nesses tempos de miséria, no dealbar do século passado, D. António Barroso agigantou-se como “pai dos pobres”. Quando faleceu, toda a imprensa nacional e regional lamentou a morte do “bispo dos pobres”.
Ele sabia que, antes de dar a cana e ensinar o pobre a pescar, é preciso ajudá-lo a ter forças para segurar na cana. D. António Barbosa Leão, seu sucessor no Porto, disse que “Em sua casa faltaria talvez na mesa até o necessário; o seu vestuário muitas vezes denunciava pobreza (…) mas para os pobres havia sempre: esmola e palavras amigas”. A mãe ofereceu-lhe o seu cordão de ouro. Mais tarde, ele confessou que o cordão já não existia porque o foi partindo aos bocadinhos para dar, quando nada mais tinha, aos pobres que lhe batiam à porta. Dele escreveu Raul Brandão, “o Bispo é uma grande figura de bondade. Dá tudo o que tem”.
Além disso, dinamizou várias instituições de assistência, como a Oficinas de S. José, Asilo de Vilar, Recolhimento das Meninas Desamparadas, Recolhimento do Ferro, Irmãzinhas dos Pobres. Fez renascer o Círculo Católico Operário. E criou a Associação de Proteção à Infância.
Mais ainda. Em 1918, escreveu uma carta pastoral em que, diz José Gomes Campinho, começa por constatar a crise das subsistências, que se manifesta num quadro confrangedor em que a miséria “se reflete na vida familiar, na ordem pública, na paz social”. Afirma que o trabalho, enquanto “nobre meio de se ganhar o sustento de cada dia” deve ser valorizado e tratado não como uma mercadoria mas como expressão da vida humana; que os salários devem ser proporcionais com as necessidades dos trabalhadores, e lembra aos patrões que “brada ao céu o pecado de se não pagar a quem trabalha o jornal merecido e juso”; que os trabalhadores, para não ficarem à mercê do arbítrio dos patrões, têm o direito de se organizarem em sindicatos e federações, mas que as reivindicações se devem fazer sem sedições nem violências; a luta de classes não resolve a “questão social” porque esta só poderá ser resolvida “pelo princípio da solidariedade humana e da fraternidade cristã”. Que atualidade! Era a aplicação da “Rerum Novarum” de Leão XIII.
Hoje, clamaria com D. Manuel Clemente “Não apertem de mais, precisamos de respirar”.
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