O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, abril 24, 2013

“Terra de heróis e santos” - I

Esta exaltação patriótica foi-me inculcada nos primeiros bancos da escola. De santos, eu conhecia o S. João de Sobrado com bugios e mourisqueiros, S. Martinho a cuja “Pia” se subia, em prece, nas secas extremas, Sant’Águeda de Recarei com afamado concurso de gado bovino, S. Jerónimo e Santa Bárbara invocados em dia de trovoada, Santa Justa cuja capela se via de minha casa, Santo António a quem minha mãe encomendava as vacas para parir, S. Simão de cuja festa sempre me traziam rosquilhas. De heróis, bastava D. Afonso Henriques que derrotou os Mouros com a ajuda de Nosso Senhor que lhe aparecera antes da batalha de Ourique. Depois, veio a desilusão ao aperceber-me que, destes santos, só António era português e que D. Afonso Henriques andou à guerra com a mãe. Com a idade, tomei consciência que, sem complexos nem chauvinismos, devemos honrar-nos dos nossos heróis e santos que o foram no anonimato das suas vidas. Quanto mais conheço a biografia de D. António Barroso mais me convenço da heroicidade dos seus atos e da santidade da sua vida. O mesmo se diga da vida e obra do nosso P. Américo. No final do filme O Cônsul de Bordéus que recorda “a enorme coragem do diplomata Aristides de Sousa Mendes”, surpreendi-me a bater palmas ao herói que, nesta hora de acabrunhamento nacional, me deu a alegria de ser português. No filme, transparece o seu humanismo e a força do seu caráter perante a angústia de milhares de judeus ameaçados pelo terror nazi. Só lamento que este filme não fosse dirigido por Spielberg para correr o mundo como a “Lista de Schindler” que exalta a coragem dum empresário que salvou do Holocausto cerca de mil judeus. É que o nosso Sousa Mendes salvou trinta mil refugiados de todas as nacionalidades, quando os primeiros aviões alemães já descarregavam bombas sobre Bordéus. E, para o fazer, desobedeceu a Salazar que decretou a sua aposentação e lhe proibiu o exercício da advocacia. ”. Em 1954, morreu na miséria, “pobre e desonrado”. Em 1966, o “Memorial do Holocausto” de Jerusalém consagrou-o como “Justo entre as nações”. Mas seu País só o reabilitou em 1986 com a “Ordem da Liberdade”. E de que valeu este gesto se a casa onde nasceu continua em ruinas e ele permanece um ilustre desconhecido para os portugueses? Dos manuais escolares que consultei, só um lhe consagra um texto com o título “Um Homem com H grande” em que afirma “Portugal compreendeu que é em pessoas como esta que “repousa a esperança do futuro da humanidade”. Desejo que sim, mas, infelizmente, continua a ser verdade que “ninguém é profeta na sua terra”. Nem Sousa Mendes é honrado como merecia na sua Pátria, nem D. António Barroso é lembrado como devia na sua Diocese. E mesmo o “Pai Américo”, como é esquecido na cidade que tanto amou e ajudou…