O Tanoeiro da Ribeira

quinta-feira, abril 25, 2013

Té lholho papabo, abiabo!

“Da boca das criancinhas de peito tirastes o vosso louvor”.(Mt, 21,16) Meses atrás, meu neto, ao ver os autocarros no Campo 24 de Agosto, acenou-lhes com a mãozita e disse a frase que dá título a este texto e que traduzo: Até logo autocarro, obrigado! Logo a seguir, numa passadeira perigosa e sem semáforos, várias pessoas aguardavam que alguém lhes desse passagem. Ao aperceber-me, parei e fiz sinal para atravessarem em segurança. E ninguém fez um mínimo gesto de agradecimento. Bastava um braço, um inclinar de cabeça. Eu sei: os peões têm prioridade nas passadeiras. É verdade, mas o contraste foi chocante. O meu neto saudou os autocarros e agradeceu a sua presença como se pessoas fossem. E naquelas pessoas não houve ninguém a reparar que foi “um seu semelhante” que lhes acenou a dar passagem. Estavam no seu direito, dir-se-á. Este é o problema. Vivemos numa sociedade em que os direitos (mais do que os deveres) foram elevados à categoria de norma única do agir. “Eu tenho direito”, ouve-se repetir constantemente. De fato, o respeito pelos direitos é infraestrutura imprescindível numa sociedade democrática. Mas nem por isso a humaniza. Também a rede de esgotos é uma infraestrutura essencial numa cidade e nem por isso a torna mais bela. O que lhe dá beleza é a relva e as flores dos jardins que cobrem as canalizações. Também viver é bom, mas saber apreciar a vida é bem melhor. O mesmo acontece com a sociedade. Os direitos são fundamentais mas o que a torna humana, o que lhe dá perfume é a simpatia, a gentileza, a atenção ao outro. Sem isso, torna-se uma sociedade fria onde não dá gosto viver. Em outubro, o teatro Carlos Alberto encenou ”Porto-S. Bento” - uma estação de partidas e chegadas onde se cruzam viajantes, a caminho uns dos outros, no caminho uns dos outros. É o retrato da nossa sociedade onde as pessoas têm, obrigatoriamente, de se encontrar mas se ignoram e se evitam. Pelo átrio da estação, passavam as mais variadas personagens, umas voando na leveza dos sonhos, outras acabrunhadas sob o peso das angústias. Mas cada um permanecia só, fechado no seu mundo. Até que a personagem mais idosa começou a provocar os outros com brincadeiras de criança. De início, relutantes, todos acabaram por aderir. Voltaram à infância. E foi, de mãos dadas e a dançar em roda, que partilharam palavras e sorrisos. A solidão tinha acabado. Nascia a comunhão. A verdadeira solidariedade conjuga-se na primeira pessoa: Eu-Nós. Quão fácil é exigi-la aos outros… Praticá-la é bem mais difícil. A solidariedade e a gentileza darão mais luz a esta nossa sociedade ameaçada por nuvens escuras de egoísmo e solidão. Sejamos gentis e solidários e o Menino Jesus nos dirá: “abiabo!”. “Se não fordes como crianças…” (Lc 18,17)