O Tanoeiro da Ribeira

terça-feira, novembro 26, 2013

Em memória do Dr. Alves de Oliveira




No dia 30 de junho, faleceu, em Roma, Manuel Joaquim Alves de Oliveira que foi sepultado na capela-jazigo do Colégio Português onde, entre outros, jazem os restos mortais de D. Custódio Alvim, Arcebispo de Lourenço Marques.

Natural de Campo, Valongo, foi aluno brilhante dos seminários do Porto. Ordenado presbítero em 1959, foi professor no Seminário de Vilar. Em 1960, a Diocese enviou-o para Roma estudar Direito Canónico na Universidade Gregoriana, onde se doutorou.

Ainda estudante, colaborou com o Protocolo do Concílio Vaticano II. Foi então que acompanhou de perto os primeiros tempos de exílio de D. António, como recorda no livro “Dom António Ferreira Gomes – Bispo do Porto ao Serviço da Liberdade”, com o texto “Um Natal com D. António”. Findo o Concílio, a Santa Sé convidou-o para a “Academia dos Nobres” onde se formam os Núncios Apostólicos.

 Já como diplomata em Taiwan, seguiu a par e passo a Revolução Cultural Chinesa. Enviado pelo Vaticano para Jerusalém, lidou com a complexa questão palestiniana. Como secretário da Nunciatura no Peru deparou-se com a problemática da nascente “Teologia da Libertação”.

 Quando se avizinhava a promoção a Núncio Apostólico, Monsenhor Oliveira, após madura reflexão, renunciou a tão promissora carreira diplomática, pedindo dispensa das “obrigações inerentes ao estado sacerdotal”. Constituiu família e iniciou, então, um novo caminho profissional de excelência como diretor da maior empresa farmacêutica europeia.

Quando se aposentou, por convite de D. José Policarpo passou a colaborar na administração do Colégio Português em Roma, onde fez amizade com a maioria dos bispos portugueses. Como expressão de reconhecimento e amizade, o P. Cordeiro, antigo reitor, deu-lhe lugar de honra na sua sagração episcopal em Bragança e o P. Caldas, atual reitor, visitou-o diariamente no hospital onde, a seu pedido, lhe ministrou os últimos sacramentos. D. Manuel Clemente, no dia 29 de junho, depois de ter recebido o pálio das mãos do Santo Padre como novo Arcebispo de Lisboa, foi vê-lo ao hospital onde veio a falecer no dia seguinte.

Sempre transportou o Porto no seu coração e de tal modo o amava que os filhos decidiram colocar dentro do seu caixão um símbolo desta sua cidade. Quando as circunstâncias o permitiam, confessava a sua admiração pelos seus professores do Porto. Fê-lo no ciclo de conferências com que o Colégio Português assinalou o ”quinquagésimo aniversário da abertura do Concílio” em que, com o Cardeal Ravasi, participou: “Ao preparar estas notas, recordei dois dos meus professores de Seminário do Porto: o padre Luís Faria; o Dr. Xavier Coutinho”, publicado no livro “O Mundo no Coração da Igreja”. O mesmo sucedeu quando, a pedido do Cardeal Patriarca, veio falar ao clero de Lisboa.

Nas exéquias, D. Carlos Azevedo, em breves e sentidas palavras, realçou a sua dedicação à Igreja com uma referência especial ao trabalho no Colégio Português e à amizade que o ligava a D. António Ferreira Gomes.

Por sua vez, o seu pároco enalteceu o colaborador, o pai de família, o homem discreto que “era grande na humildade, na bondade, na simplicidade, na serenidade e na profundidade com que abordava todas as situações”. A presença, entre outros sacerdotes, do reitor da igreja de Santo António dos Portugueses foi uma homenagem silenciosa ao homem de cultura que sempre se afirmava como cristão e português.
A Voz Portucalense apresenta sentidas condolências aos seus familiares, amigos e condiscípulos.