Em memória do Dr. Alves de Oliveira
No
dia 30 de junho, faleceu, em Roma, Manuel Joaquim Alves de Oliveira que foi
sepultado na capela-jazigo do Colégio Português onde, entre outros, jazem os
restos mortais de D. Custódio Alvim, Arcebispo de Lourenço Marques.
Natural
de Campo, Valongo, foi aluno brilhante dos seminários do Porto. Ordenado presbítero
em 1959, foi professor no Seminário de Vilar. Em 1960, a Diocese enviou-o para
Roma estudar Direito Canónico na Universidade Gregoriana, onde se doutorou.
Ainda
estudante, colaborou com o Protocolo do Concílio Vaticano II. Foi então que
acompanhou de perto os primeiros tempos de exílio de D. António, como recorda
no livro “Dom António Ferreira Gomes – Bispo do Porto ao Serviço da Liberdade”,
com o texto “Um Natal com D. António”.
Findo o Concílio, a Santa Sé convidou-o para a “Academia dos Nobres” onde se
formam os Núncios Apostólicos.
Já como diplomata em Taiwan, seguiu a par e
passo a Revolução Cultural Chinesa. Enviado pelo Vaticano para Jerusalém, lidou
com a complexa questão palestiniana. Como secretário da Nunciatura no Peru
deparou-se com a problemática da nascente “Teologia da Libertação”.
Quando se avizinhava a promoção a Núncio
Apostólico, Monsenhor Oliveira, após madura reflexão, renunciou a tão promissora
carreira diplomática, pedindo dispensa das “obrigações inerentes ao estado
sacerdotal”. Constituiu família e iniciou, então, um novo caminho profissional
de excelência como diretor da maior empresa farmacêutica europeia.
Quando
se aposentou, por convite de D. José Policarpo passou a colaborar na
administração do Colégio Português em Roma, onde fez amizade com a maioria dos
bispos portugueses. Como expressão de reconhecimento e amizade, o P. Cordeiro,
antigo reitor, deu-lhe lugar de honra na sua sagração episcopal em Bragança e o
P. Caldas, atual reitor, visitou-o diariamente no hospital onde, a seu pedido,
lhe ministrou os últimos sacramentos. D. Manuel Clemente, no dia 29 de junho,
depois de ter recebido o pálio das mãos do Santo Padre como novo Arcebispo de
Lisboa, foi vê-lo ao hospital onde veio a falecer no dia seguinte.
Sempre
transportou o Porto no seu coração e de tal modo o amava que os filhos
decidiram colocar dentro do seu caixão um símbolo desta sua cidade. Quando as
circunstâncias o permitiam, confessava a sua admiração pelos seus professores
do Porto. Fê-lo no ciclo de conferências com que o Colégio Português assinalou
o ”quinquagésimo aniversário da abertura do Concílio” em que, com o Cardeal
Ravasi, participou: “Ao preparar estas notas, recordei dois dos
meus professores de Seminário do Porto: o padre Luís Faria; o Dr. Xavier
Coutinho”, publicado no livro “O Mundo no Coração da Igreja”. O mesmo
sucedeu quando, a pedido do Cardeal Patriarca, veio falar ao clero de Lisboa.
Nas
exéquias, D. Carlos Azevedo, em breves e sentidas palavras, realçou a sua
dedicação à Igreja com uma referência especial ao trabalho no Colégio Português
e à amizade que o ligava a D. António Ferreira Gomes.
Por
sua vez, o seu pároco enalteceu o colaborador, o pai de família, o homem
discreto que “era grande na humildade, na bondade, na simplicidade, na
serenidade e na profundidade com que abordava todas as situações”. A presença,
entre outros sacerdotes, do reitor da igreja de Santo António dos Portugueses
foi uma homenagem silenciosa ao homem de cultura que sempre se afirmava como
cristão e português.
A Voz Portucalense apresenta sentidas condolências aos
seus familiares, amigos e condiscípulos.
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