O Tanoeiro da Ribeira

terça-feira, novembro 26, 2013

Eu quero o Jesus que reza.


 


Em 28 de outubro, o nosso neto, que ainda não fez três anos, foi connosco à missa. Ao ver o acólito anunciar as “intenções”, logo me perguntou: “onde está o Jesus?” Indiquei-lhe uma imagem do altar. - Não é esse. Eu quero o Jesus que reza. Perguntava pelo celebrante. Recordei, então, as palavras de Jesus: “ Da boca dos meninos tirastes o vosso louvor” (Mt 21,16).

Ao ver o sacerdote como “alter Christus”, fez-me lembrar, na ternura da sua inocência, o poema “Deus no sacerdote” de Miguel Trigueiros e o cântico “sacerdote que é na terra outro Jesus”. - “Alter-ego” de que Jesus? - Do Jesus que reza.

X. Léon-Dufour diz que “não há nada no Evangelho que revele melhor a necessidade absoluta da oração que o lugar que ela mesma ocupa na vida de Jesus”. Ele reza com frequência na solidão da montanha: Subiu a montanha para orar na solidão. E, chegando a noite estava lá sozinho (Mt, 14,23). Com os discípulos. Num dia em que Ele estava a orar a sós como os discípulos (Lc9,18). Mesmo quando todos o procuravam: Antes do amanhecer, Ele saiu e foi para um lugar deserto e ali se pôs em oração (Mc,1,35). Para além de buscar a intimidade silenciosa com o Pai, Jesus queria preparar os momentos fortes da Sua missão e do Seu magistério. Esta conexão é clara logo nos quarenta dias do deserto onde se assume como o Moisés da Nova Lei que vence o projeto satânico de tentar a Deus: Não tentarás o Senhor teu Deus (Mt  4,7). Depois, na manifestação da Sua divindade: no batismo Tu és meu Filho bem-amado (Lc 3,21) e na transfiguração (Lc 9,29). Também antes da eleição dos apóstolos (Lc 6,12); quando os ensina a rezar o Pai Nosso (Lc11,1) e na última Ceia (Jo 17,1). Essa ligação entre a oração e a missão de Jesus atinge o seu clímax na solidão do Getsémani: Abba! O Pai! (Mc 14,36).

A. Matteo, ao analisar a situação da Igreja, diz “Se nela entrar uma qualquer pessoa que não saiba rezar, dificilmente encontrará alguém disposto a ensinar-lhe como se reza. E como é importante a oração, sobretudo no nosso tempo… Estamos sempre com pressa, sempre nervosos, sempre distraídos. Ora, a oração irrompe como ar fresco no coração e na mente: é como abrir as janelas do nosso próprio eu e deixarmo-nos inundar pelo ar puro de Deus. Pois bem, onde é que se ensina a rezar? E, se não há oração, não há fé”.

Quão reconfortante é ver um sacerdote a rezar junto ao Santíssimo ou a acompanhar o terço orientado por leigos. Ou ouvir um presbítero dizer que, em terra sem jovens, o essencial da sua pastoral é rezar com os doentes. E aqueloutro que aproveita a solidão para “ler, escrever e rezar”.

Como será difícil a padres sempre a correr de um lado para o outro arranjar tempos de intimidade silenciosa com Deus! E, no entanto, a oração é a flor da espiritualidade. Sem ela…