Eu quero o Jesus que reza.
Em
28 de outubro, o nosso neto, que ainda não fez três anos, foi connosco à missa.
Ao ver o acólito anunciar as “intenções”, logo me perguntou: “onde está o Jesus?” Indiquei-lhe uma
imagem do altar. - Não é esse. Eu quero o Jesus que reza. Perguntava
pelo celebrante. Recordei, então, as palavras de Jesus: “ Da boca dos meninos
tirastes o vosso louvor” (Mt 21,16).
Ao ver o sacerdote como
“alter Christus”, fez-me lembrar, na ternura da sua inocência, o poema “Deus no
sacerdote” de Miguel Trigueiros e o cântico “sacerdote que é na terra outro
Jesus”. - “Alter-ego” de que Jesus? - Do Jesus
que reza.
X. Léon-Dufour diz que
“não há nada no Evangelho que revele melhor a necessidade absoluta da oração
que o lugar que ela mesma ocupa na vida de Jesus”. Ele reza com frequência na
solidão da montanha: Subiu a montanha
para orar na solidão. E, chegando a noite estava lá sozinho (Mt,
14,23).
Com os discípulos. Num dia em que Ele
estava a orar a sós como os discípulos (Lc9,18).
Mesmo quando todos o procuravam: Antes do
amanhecer, Ele saiu e foi para um lugar deserto e ali se pôs em oração (Mc,1,35).
Para além de buscar a intimidade silenciosa com o Pai, Jesus queria preparar os
momentos fortes da Sua missão e do Seu magistério. Esta conexão é clara logo
nos quarenta dias do deserto onde se assume como o Moisés da Nova Lei que vence
o projeto satânico de tentar a Deus: Não
tentarás o Senhor teu Deus (Mt 4,7). Depois, na
manifestação da Sua divindade: no batismo Tu
és meu Filho bem-amado (Lc 3,21)
e na transfiguração (Lc 9,29). Também antes
da eleição dos apóstolos (Lc 6,12);
quando os ensina a rezar o Pai Nosso (Lc11,1)
e na última Ceia (Jo 17,1). Essa ligação
entre a oração e a missão de Jesus atinge o seu clímax na solidão do Getsémani:
Abba! O Pai! (Mc
14,36).
A. Matteo, ao analisar
a situação da Igreja, diz “Se nela entrar uma qualquer pessoa que não saiba
rezar, dificilmente encontrará alguém disposto a ensinar-lhe como se reza. E
como é importante a oração, sobretudo no nosso tempo… Estamos sempre com
pressa, sempre nervosos, sempre distraídos. Ora, a oração irrompe como ar
fresco no coração e na mente: é como abrir as janelas do nosso próprio eu e
deixarmo-nos inundar pelo ar puro de Deus. Pois bem, onde é que se ensina a rezar?
E, se não há oração, não há fé”.
Quão reconfortante é
ver um sacerdote a rezar junto ao Santíssimo ou a acompanhar o terço orientado
por leigos. Ou ouvir um presbítero dizer que, em terra sem jovens, o essencial
da sua pastoral é rezar com os doentes. E aqueloutro que aproveita a solidão
para “ler, escrever e rezar”.
Como será difícil a
padres sempre a correr de um lado para o outro arranjar tempos de intimidade
silenciosa com Deus! E, no entanto, a oração é a flor da espiritualidade. Sem
ela…
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