O Tanoeiro da Ribeira

terça-feira, novembro 26, 2013

"Estava enfermo e me visitastes"




As obras de misericórdia são catorze, sete corporais e sete espirituais. As corporais são: Dar de comer a quem tem fome. - Dar de beber a quem tem sede. - Vestir os nus. - Dar pousada aos peregrinos. - Assistir aos enfermos. - Visitar os presos. - Enterrar os mortos.

E as espirituais: Dar bom conselho. - Ensinar os ignorantes. - Corrigir os que erram. - Consolar os tristes. - Perdoar as injúrias. - Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo. - Rogar a Deus por vivos e defuntos.

Assim aprendíamos e assim dizíamos no exame da Comunhão Solene.

Recordei-as, no dia 14 de setembro, quando, entre os irmãos da Irmandade das Almas de S José das Taipas, vi um rosto que jamais esqueci mas de quem nunca soube o nome. Fiquei-lhe grato pelo apoio que nos deu quando nosso filho esteve internado no IPO a fazer quimioterapia. Durante a adoração do Santíssimo, dei graças pelo bem que, de forma generosa e anónima, os voluntários prestam nos nossos hospitais. E, porque, estava próximo o de Santo António, a minha memória fez-me regressar ao Seminário Maior do Porto dos inícios da década de sessenta. Vivia-se então em rigoroso regime de internato, apenas quebrado por um passeio semanal na tarde de 4ª feira. Inspirados pela espiritualidade de Charles de Foucauld, o missionário dos Tuaregues assassinado em 1916 e beatificado em 2005, alguns seminaristas aproveitavam essa saída para visitar doentes naquele hospital, com o apoio do seu capelão, P. Vieira Mendes. Não havia telefone acessível aos doentes, nem telemóvel nem internet. Muitos dos doentes vinham do interior do país e eram analfabetos. As viagens eram demoradas e caras. Com a hospitalização, ficavam longe dos seus familiares. Para além da doença, atormentava-os o isolamento a que eram obrigados. Quando os seminaristas entravam numa enfermaria, logo havia braços no ar a pedir-lhes para ler ou escrever uma carta. Para além das confidências dos doentes, esta tarefa criava uma grande proximidade com o seu mundo e a sua dor e eles aprendiam a partilhar o sofrimento. Era a sua “via-sacra” semanal. E quão enriquecedora!...

A perceção das necessidades hospitalares levou-os a inscrever-se como dadores de sangue. Ainda há pouco, vi um cartão de dador que assinalava: “primeira colheita em 29 de setembro de 1961”

Mais, na Quaresma, com autorização do reitor, P. Miguel Sampaio, havia alunos, já diáconos, que iam ajudar o P. Mendes a distribuir a Sagrada Comunhão pelas muitas enfermarias do hospital. Ainda a cidade dormia e já eles calcorreavam as velhas ruas do Porto histórico. Às 9 horas, estavam novamente no seminário para as aulas. Sem tolerâncias nem desculpas.
Assim, no estudo, na oração e no serviço se iam formando os futuros presbíteros diocesanos.