Nossa mãe é um tesouro
Aí pelas
quatro da tarde do dia 2 de outubro, a tempestade abateu-se sobre a Padrela, serra
que se levanta abrupta sobre Vila Pouca de Aguiar e desce suave para as bandas
de Murça. Lá nas alturas, bátegas de água fustigavam, impiedosas, a multidão
que, vinda de muitas e variadas terras, enchia o adro da capela de Raiz do
Monte em Vreia de Jales. A capela de S. João Batista tornara-se pequena para
abrigar as muitas pessoas que nela se comprimiam. Mas ninguém arredou pé. Todos
queriam prestar a última homenagem à “senhora Aninhas”, mulher de “olhar doce”
que, mesmo no sofrimento, tinha um sorriso acolhedor, como disse o jovem pároco
que acompanhou a sua longa doença.
Eram
de ouro as minas onde seu marido trabalhou e em cujo bairro, em Campo de Jales,
criaram os filhos. De ouro era o coração desta “mulher forte”, costureira hábil,
que soube criar nove filhos que, depois, se dispersaram por Portugal inteiro mas
nunca deixaram de regressar ao berço que os embalou. Antes do funeral, um deles
disse: ”andei a vida toda a tentar expulsar Deus da minha vida e nunca o
consegui porque sempre regressei ao colo de minha mãe”. E esse regaço falava-lhe
de Deus e de Nossa Senhora. Em sua honra, leu o “pranto” que lhe dedicara: “Vem/ ó mãe/água pura/raiz do bem/fonte da ternura/o céu tem o teu rosto/nas estrelas
incrustado/e eu trago em mim exposto/teu amor sagrado/mas sou refém/da saudade/que arde/mãe!”
E foi ele que, no velório, rezou e cantou o “terço”,
hinos tradicionais à Virgem e um poema da sua autoria: Querida Mãe de todos nós, fonte de toda a ternura, deixa-nos sentir
crianças, dá-nos força e esperanças, traz-nos à tua procura”. Com os amigos
da Associação “Os sinos da Sé” de Braga, cantou a missa do funeral. E, no cemitério, por
convite seu, cantámos: Coração Virginal de Maria/ Sede luz e guia…”.
O título desta
crónica foi-me sugerido pela mensagem que lhe enviou um amigo, missionário no
Paraguai. Deixo-a à vossa reflexão. “Vi a notícia
do falecimento da tua mãe neste dia 1 de Outubro, dia de
Santa
Teresinha do Menino Jesus, a padroeira das missões. A nossa mãe é um tesouro. A
sua partida provoca uma dor que não sabemos explicar. Vivemos muito tempo
dentro dela e muitos anos com ela. Guardamos em nosso corpo e no nosso espírito
as marcas da sua maternidade. Choras certamente como todos quando lhes é dado
viver este momento. Pelo que te ouvi algumas vezes a tua mãe era uma verdadeira
missionária. Foi no dia da padroeira das missões, Santa Teresinha, que o Senhor
a chamou a si. Para quem não tem fé, é uma simples coincidência; para quem tem fé,
é um sinal que Deus premiou o seu ardor missionário e a sua bondade”.
Ser missionário é partilhar a Fé, diz o Santo Padre. Obrigado, ó mães! Que
Deus vos agracie.
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