O Tanoeiro da Ribeira

segunda-feira, maio 19, 2014

Órfãos da Ponte da Barca



No dia 25 de abril, a Junta de Freguesia de Campanhã homenageou três instituições da cidade do Porto: Batalhão de Sapadores Bombeiros do Porto, Obra Diocesana de Promoção Social e Centro Juvenil de Campanhã. A primeira, criada em 1728 por D. João V, é de natureza pública. As restantes são IPSS, nascidas à sombra da Igreja em contextos diferentes mas animadas pelo mesmo espírito de bem servir: a Obra, em 1964 (50º aniversário) para colaborar na promoção das populações dos recém-criados bairros camarários, o Centro, em 1814 (200.º aniversário) para dar abrigo aos órfãos da Ponte das Barcas. É desta que hoje vou falar.

 Mais de quatro mil pessoas terão perecido nessa tragédia e muitas crianças ficaram sem pais. O P. José Oliveira começou por recolher alguns desses órfãos na sua própria casa e em casa do amigo João Manuel Rodrigues Barbosa. Dado o seu grande número, acabou por criar em 6 de janeiro de 1814, o Seminário dos Meninos Desamparados que, inicialmente, funcionou numa casa da Rua das Hortas, atual Rua do Almada. Porque, entretanto, a casa se tornara pequena, mudou-se para a Rua de S. Dinis. Também esta, rapidamente, fez-se insuficiente o que o obrigou a transferir- se para a Torre da Marca onde agora funciona o Centro de Cultura Católica. Em 1825, por cedência dos Marqueses de Abrantes, passou a ocupar o Paço da Marquesa, na Rua Chã. Com o passar do tempo, os órfãos da Ponte iam diminuindo, mas crescia o número dos “desamparados”. E, por isso, acabou por fixar-se na quinta do Pinheiro de Campanhã que lhe foi doada, em 30 de abril de 1863, por Luís António Gonçalves, a pedido do Bispo do Porto, D. João de França, onde, ainda hoje, tem a sua sede.

É um “ex-libris” do espírito de solidariedade das gentes do Porto. Nos seus duzentos anos de existência, foi “casa e família” para milhares e milhares de crianças e jovens. Em 2002, abriu o Pólo de Vila do Conde para poder responder às muitas solicitações que lhe eram feitas.

 Atualmente, acolhe crianças do sexo masculino de todo o país com especial relevo para as que proveem da zona norte

Ao longo dos tempos, mudou de local e também de nome. Durante cerca de século e meio, manteve a denominação com que nasceu, até que, em 24 de novembro de 1967, passou a chamar-se Internato Juvenil de Campanhã. Em Julho de 1982, numa justa homenagem ao seu fundador, passou a ser Internato Juvenil Padre José de Oliveira. Em 20 de novembro de 1986, recebeu o seu nome atual: Centro Juvenil de Campanhã.

Esta instituição, filha da Igreja e velhinha de duzentos anos, foi-se adaptando às exigências socioeducativas dos tempos, mas nunca perdeu de vista o desejo de acolher com afeto e preparar para a vida os seus educandos. Para ela e seus responsáveis, o nosso bem-haja.

(21/5/2014)