Concertos de Reis na Casa da Música
Foi
no dia 2 de janeiro. Pouco passava das 21 horas, quando a Sala Suggia embarcou
numa viagem de sonho que, partindo dum porto inglês (Portsmouth Point), nos levou, por paisagens misteriosas do Médio
Oriente (Marcha Persa, Marcha Egípcia,
Mil e Uma Noites), ao encontro de uma princesa japonesa (Aberture de La Princesse Jaune). É bem
verdade que, ao mergulhar numa melodia,
esquecemo-nos de nós e, no entanto, é lá que somos verdadeiramente nós, escreveu
o P. Anselmo Borges.
E
esta experiência heterocósmica foi-nos oferecida pela Orquestra Sinfónica do
Porto. Ao consultar seu elenco, verifiquei que, dos 66 músicos, 31 eram
portugueses. Sem chauvinismos bacocos, devo confessar que fiquei satisfeito ao
confirmar um número crescente de artistas nacionais nas nossas grandes
orquestras. E interroguei-me: a que se deve tal incremento?
A
resposta foi-me dada, na tarde do dia 4, pelo “concerto escolar” da Academia de
Música de Costa Cabral, com um coro juvenil e duas orquestras (de sopros e sinfónica)
com 100 instrumentistas: flauta transversal, oboé, clarinete, fagote, saxofone,
trompa, trompete, trombone, eufónio, tuba, percussão, violino I, violino II,
viola d’arco, violoncelo, contrabaixo, harpa e piano. E todos com nomes bem conhecidos,
onde não faltavam silvas, pereiras, carvalhos, teixeiras, ferreiras… O próprio
maestro era português.
Na
1ª parte, foi a Orquestra de Sopros que mereceu as nossas prolongadas ovações.
A 2ª parte iniciou-se com Abertura
Sinfónica, de Joly Braga Santos, pela Orquestra Sinfónica. E a emoção
atingiu o auge quando a esta se juntaram duzentas vozes do Coro Juvenil a
cantar a “Lenda das três árvores” com
arranjo do professor Daniel Martinho. Começava: “No alto de uma colina existiam três lindas árvores sonhadoras.
Sonhavam…” Depois de nos contar seus fracassos e realizações, a voz límpida
e bem timbrada de uma menina deixava-nos esta mensagem: “Todos sonhamos… Deixemos que os sonhos nos conduzam no sorriso de uma
criança”. Que melhor apelo?
Ao
acompanhar de pé e com palmas, por detrás da orquestra, a Marcha Radezky, de Johann Srauss, aquelas crianças, cujas gravatas
semeavam rubis no branco das camisas, pareciam avezitas a esvoaçar. E, no
final, seus gritos e aplausos foram como uma revoada de pombas que se soltou e encheu
de gorjeios a pérola mais preciosa do nosso “emblema maior da música”.
Neste
início de ano, gostaria de expressar dois desejos.
-
Que os pais, que puderem, ponham seus filhos pequenos a aprender música - a
mais imaterial das artes - que, para além do mais, os irá ajudar a crescer em
autodisciplina, autodomínio e autoestima.
Que
todos possam assistir, pelo menos, a um concerto na Casa da Música neste que é
o seu “Ano do Oriente”.
É sonhar muito?
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