O Tanoeiro da Ribeira

terça-feira, fevereiro 04, 2014

Concertos de Reis na Casa da Música



Foi no dia 2 de janeiro. Pouco passava das 21 horas, quando a Sala Suggia embarcou numa viagem de sonho que, partindo dum porto inglês (Portsmouth Point), nos levou, por paisagens misteriosas do Médio Oriente (Marcha Persa, Marcha Egípcia, Mil e Uma Noites), ao encontro de uma princesa japonesa (Aberture de La Princesse Jaune). É bem verdade que, ao mergulhar numa melodia, esquecemo-nos de nós e, no entanto, é lá que somos verdadeiramente nós, escreveu o P. Anselmo Borges.

E esta experiência heterocósmica foi-nos oferecida pela Orquestra Sinfónica do Porto. Ao consultar seu elenco, verifiquei que, dos 66 músicos, 31 eram portugueses. Sem chauvinismos bacocos, devo confessar que fiquei satisfeito ao confirmar um número crescente de artistas nacionais nas nossas grandes orquestras. E interroguei-me: a que se deve tal incremento?

A resposta foi-me dada, na tarde do dia 4, pelo “concerto escolar” da Academia de Música de Costa Cabral, com um coro juvenil e duas orquestras (de sopros e sinfónica) com 100 instrumentistas: flauta transversal, oboé, clarinete, fagote, saxofone, trompa, trompete, trombone, eufónio, tuba, percussão, violino I, violino II, viola d’arco, violoncelo, contrabaixo, harpa e piano. E todos com nomes bem conhecidos, onde não faltavam silvas, pereiras, carvalhos, teixeiras, ferreiras… O próprio maestro era português.

Na 1ª parte, foi a Orquestra de Sopros que mereceu as nossas prolongadas ovações. A 2ª parte iniciou-se com Abertura Sinfónica, de Joly Braga Santos, pela Orquestra Sinfónica. E a emoção atingiu o auge quando a esta se juntaram duzentas vozes do Coro Juvenil a cantar a “Lenda das três árvores” com arranjo do professor Daniel Martinho. Começava: “No alto de uma colina existiam três lindas árvores sonhadoras. Sonhavam…” Depois de nos contar seus fracassos e realizações, a voz límpida e bem timbrada de uma menina deixava-nos esta mensagem: “Todos sonhamos… Deixemos que os sonhos nos conduzam no sorriso de uma criança”. Que melhor apelo?

Ao acompanhar de pé e com palmas, por detrás da orquestra, a Marcha Radezky, de Johann Srauss, aquelas crianças, cujas gravatas semeavam rubis no branco das camisas, pareciam avezitas a esvoaçar. E, no final, seus gritos e aplausos foram como uma revoada de pombas que se soltou e encheu de gorjeios a pérola mais preciosa do nosso “emblema maior da música”.

Neste início de ano, gostaria de expressar dois desejos.

- Que os pais, que puderem, ponham seus filhos pequenos a aprender música - a mais imaterial das artes - que, para além do mais, os irá ajudar a crescer em autodisciplina, autodomínio e autoestima.

Que todos possam assistir, pelo menos, a um concerto na Casa da Música neste que é o seu “Ano do Oriente”.

 É sonhar muito?