Levas contigo o bem que fizeste
No
mês passado, faleceu o avô da bebé que, no primeiro Dia da Voz Portucalense, recebeu, na Sé, o diploma de “Semente de
Esperança”. D. Manuel Clemente, quando o entregava aos seus pais e avós que a
tinham ao colo, fez-lhe uma festinha na face e perguntou: tu também já lês a Voz Portucalense? Estou a ver a alegria estampada
no rosto do avô ao ouvir o senhor bispo dizer: És uma menina com sorte! Até os avós quiseram vir contigo! É bem
verdade, acrescento eu, o que um dia escreveu um teólogo de renome: um neto é o sacramento da presença viva de
Deus e da Esperança que anima a vida dos avós! Como eles preenchem
solidões…Fazem-nos rejuvenescer. Passamos a ter a sua idade. Somos comparsas
nas suas brincadeiras. E continua a ser verdade o provérbio: quem meus filhos beija minha boca adoça.
E se os avós são pais duas vezes…
Um
parêntesis – A assinatura da VP foi uma prenda que a “Vitorinha” recebeu no dia
do seu batizado. Os pais leem e arquivam todos os números para que ela, mais
tarde, possa partilhar das suas memórias. Um bom exemplo para os avós. Aproveitem
um nascimento, um batizado, uma comunhão, um aniversário para introduzir a Voz
Portucalense na casa dos vossos filhos e habituar os netos à sua presença. Fica
o apelo.
Continuando…Quando
os anos se alongam, vamos deixando atrás de nós um rasto de vozes que se
silenciam, de sorrisos que se apagam, de conversas inacabadas. Uma nuvem de
nostalgia sombreia-nos a alma e uma teia de silêncio vai apertando o nosso
casulo. Salta-me ao pensamento o poema de Miguel Trigueiros: Vêm as sombras, hoje ter comigo/ Vêm as
sombras num cortejo lento/ Vêm as sombras hoje ter comigo /Ou sou eu que as
procuro em pensamento.
Ajuda-nos
a Esperança. Mas, como dizia um bem conhecido bispo, se a Esperança nos anima, é a saudade que faz doer! Por isso, no
cartão que acompanha as flores, costumo escrever: Amigo, levas contigo o bem que fizeste. Connosco fica a memória e a
saudade. A crueza do caixão mostra-nos que as vaidades deste mundo passaram
e que aos amigos resta chorar, rezar e recordar. Mas a Fé diz-nos que as suas
boas obras o acompanham na viagem para o outro lado da vida, como Cristo nos
ensinou no Sermão da Montanha (Mt.5,3): Bem-aventurados
os que têm um coração de pobre, porque deles é o reino dos céus”.
Quando
alguém que amamos nos morre há um bocado de nós que vai com ele. Abre-se uma
lacuna que jamais se fecha e os olhos vestem-se de amargura. Mas, em
contrapartida, há sempre um pouco dele que permanece em nós e nos enriquece a
vida. Torna-se mais íntimo à nossa própria intimidade e não mais nos abandona. Como
tão bem escreveu Saint-Exupéry: Aqueles
que passam por nós não vão sós. Deixam-nos um pouco de si, levam um pouco de
nós.
(16/4/14)
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