O Tanoeiro da Ribeira

segunda-feira, maio 19, 2014

Foi há cem anos


Faz amanhã cem anos que D. António Barroso regressou à Diocese, após o exílio em Remelhe.

O P. José Adílio, na festa de S. Francisco de Sales deste ano, disse:

“Nos primeiros meses de 1914, com Afonso Costa fora do governo e Bernardino Machado na pasta da Justiça, saiu a Lei que amnistiou os acusados dos crimes de religião. D. António preparou, atempadamente, o momento do regresso. E no dia 3 de Abril, pela tardinha, deixou a sua casa de Remelhe e dirigiu-se, quase em segredo, para o Porto, indo instalar-se na Casa de Sacais (o seu novo Paço).

No dia seguinte, 4 de Abril, ei-lo na Sé Catedral, para, em soleníssimo Te Deum, reassumir publicamente as suas funções episcopais que, de facto nunca havia perdido. Antes, porém, sobe ao púlpito, e em eloquentíssima alocução, saúda o bom povo da sua diocese, que enche literalmente a catedral, dizendo que aquele dia era o mais feliz da sua vida, por ter podido regressar à sua diocese.

O Te Deum foi soleníssimo, ajuntando-se às vozes da sonoridade as lágrimas do contentamento pelo seu regresso à sua amada diocese e ao seu amado povo.”

 No Réu da República, D. Carlos Azevedo escreveu: “Decorridos três anos de exílio, (D. António) pôde voltar ao Porto, ao cair da tarde do dia 3 de Abril de 1914. No dia seguinte realizou-se um Te Deum de acção de graças, na Catedral. Muitos choravam de alegria ao ouvir de novo a voz do pastor a quem amavam. Evitou, contudo, qualquer manifestação com esta entrada quase furtiva. Mas mal o povo conheceu este regresso ansiado fez romaria à volta do palacete de Sacais. Os jornais do Porto, como A Ordem, que classificava a recepção como “espectáculo deslumbrante e verdadeiramente esmagador”, O Primeiro de Janeiro e O Comércio do Porto noticiaram estes gestos festivos de todos os grupos sociais, sublinhando o clima de festa e euforia. A revista Lusitânia assim se expressava:

Ei-lo que volta! Traz do exílio mais brancos os cabelos. Há todavia na sua face o mesmo sorriso afável e bom que atrahe os corações e na luz dos seus olhos vibra ainda a centelha fina do brilhantíssimo espírito que o tom firme da voz revela…”

Por coincidência (ou não?), no próximo domingo a Catedral vai novamente encher-se não já para aclamar o bispo que regressa, mas para acolher o seu novo bispo que, no primeiro aniversário do pontificado de Francisco, escreveu no JN: “ À luz desta mesma fé, que nos faz viver na certeza de que Deus usa a nossa história para nela fazer História e nos salvar (…)”  

A Igreja do Porto, neste primeiro centenário, não deixará de celebrar a História que Deus nela escreveu a letras de santidade na pessoa de D. António Barroso.

Deixo uma pergunta: quem sabe onde fica o “Paço de Sacais”?

(2/4/2014)