O Tanoeiro da Ribeira

segunda-feira, maio 19, 2014

Doutor Albino Moreira - in memoriam


Em fevereiro, um conhecido presbítero do Porto escreveu: “Recordei com proveito acontecimentos e pessoas. O Mourão, o Domingos e o Dr. Albino Moreira (meu reitor com quem privei e me marcou) e outros. Marcaram a História pessoal e coletiva. Não podemos deixar esquecer quem tanto fez (e sofreu) pela Igreja e pela Sociedade. O Dr. Albino foi um deles. Porquê? Este livro é um pequeno gesto de justiça.”

Vários foram os antigos alunos do Seminário do Porto que me expressaram idênticos sentimentos.

O Dr. Albino, para além de grande exigência intelectual, incutia nos alunos uma profunda vivência espiritual que se abria para a ação pastoral junto dos mais pobres. Sinal desta abertura foi o apoio que deu aos que aproveitavam o fim de semana para colaborar com as paróquias mais empobrecidas do Porto e aos que interrompiam os estudos para, durante um ano, fazer estágio profissional em fábricas e casas comerciais. A presença destes seminaristas trouxe às paróquias uma lufada de ar fresco que as ajudou a seguir novos caminhos. Por sua vez, eles encarnaram as palavras da Gaudium et Spes:As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo. E viveram no terreno os sucessos e as dificuldades da ação pastoral. Tudo isto terá contribuído para uma opção vocacional mais consciente e responsável. São ainda de referir os que, nas férias grandes, iam “trabalhar nas obras” em França, sofrendo na pele a dureza do trabalho emigrante. Dos que percorreram estes caminhos, alguns hoje são bispos, bastantes presbíteros, outros são leigos mas todos jamais esqueceram o seu reitor.

Foi, porém, na Páscoa de 1970, ano de grande sofrimento, que senti quanto o Dr. Albino prezava os seus seminaristas. Como já escrevi, entrou, com ar de grande aflição, na sede da Obra Diocesana, pedindo uma casa num bairro camarário para que dois seminaristas, que o bispo de Vila Real acabava de expulsar, pudessem terminar o ano como alunos externos. E como ficou feliz ao ver satisfeito o seu pedido. Ele sabia os riscos que corria. Mesmo assim…

Mas a sua ação não se limitava ao Seminário. Estudou as delimitações territoriais das novas paróquias, orientou muitos padres novos, inspirou a perspetiva eclesial que esteve subjacente à “Obra dos Bairros”.

Extremamente discreto, a sua aparente timidez escondia a inteligência e a força interior de um homem de grande espiritualidade e profundamente livre que muito amava a Igreja. A morte furtou-o cedo ao nosso convívio. Até aqui vai o meu testemunho. Mas outros haverá … É tempo de reavivar o nome de “quem tanto fez (e sofreu) pela Igreja e pela Sociedade”.

(9/4/2014)