Doutor Albino Moreira - in memoriam
Em
fevereiro, um conhecido presbítero do Porto escreveu: “Recordei com proveito acontecimentos
e pessoas. O Mourão, o Domingos e o Dr. Albino Moreira (meu reitor com quem
privei e me marcou) e outros. Marcaram a História pessoal e coletiva. Não
podemos deixar esquecer quem tanto fez (e sofreu) pela Igreja e pela Sociedade.
O Dr. Albino foi um deles. Porquê? Este livro é um pequeno gesto de justiça.”
Vários foram os antigos alunos do
Seminário do Porto que me expressaram idênticos sentimentos.
O Dr. Albino, para além de grande
exigência intelectual, incutia nos alunos uma profunda vivência espiritual que
se abria para a ação pastoral junto dos mais pobres. Sinal desta abertura foi o
apoio que deu aos que aproveitavam o fim de semana para colaborar com as
paróquias mais empobrecidas do Porto e aos que interrompiam os estudos para,
durante um ano, fazer estágio profissional em fábricas e casas comerciais. A
presença destes seminaristas trouxe às paróquias uma lufada de ar fresco que as
ajudou a seguir novos caminhos. Por sua vez, eles encarnaram as palavras da
Gaudium et Spes:As alegrias e as
esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos
pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças,
as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo. E viveram no terreno
os sucessos e as dificuldades da ação pastoral. Tudo isto terá contribuído para
uma opção vocacional mais consciente e responsável. São ainda de referir os que,
nas férias grandes, iam “trabalhar nas obras” em França, sofrendo na pele a
dureza do trabalho emigrante. Dos que percorreram estes caminhos, alguns hoje
são bispos, bastantes presbíteros, outros são leigos mas todos jamais
esqueceram o seu reitor.
Foi, porém, na Páscoa de 1970, ano de
grande sofrimento, que senti quanto o Dr. Albino prezava os seus seminaristas.
Como já escrevi, entrou, com ar de grande aflição, na sede da Obra Diocesana,
pedindo uma casa num bairro camarário para que dois seminaristas, que o bispo
de Vila Real acabava de expulsar, pudessem terminar o ano como alunos externos.
E como ficou feliz ao ver satisfeito o seu pedido. Ele sabia os riscos que
corria. Mesmo assim…
Mas a sua ação não se limitava ao Seminário.
Estudou as delimitações territoriais das novas paróquias, orientou muitos
padres novos, inspirou a perspetiva eclesial que esteve subjacente à “Obra dos
Bairros”.
Extremamente discreto, a sua aparente
timidez escondia a inteligência e a força interior de um homem de grande
espiritualidade e profundamente livre que muito amava a Igreja. A morte
furtou-o cedo ao nosso convívio. Até aqui vai o meu testemunho. Mas outros
haverá … É tempo de reavivar o nome de “quem
tanto fez (e sofreu) pela Igreja e pela Sociedade”.
(9/4/2014)
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