Casa dos Transmontanos e Alto-Durienses do Porto
Mais uma vez, esta “Casa Regional” foi encontro de
amigos e polo difusor de cultura. No dia 31 de maio, sob a presidência do Dr.
Diogo Fernandes, presidente da Assembleia Geral, foi apresentado o livro Gente da Minha Terra. O presidente da
direção, Eng. José Gonçalves, saudou a numerosa assistência que enchia o
auditório, com uma palavra de apreço especial para a presença do P. José Maria
Cabral Ferreira que fora seu insigne professor.
Na
obra apresentada, José Augusto Vieira dá vida ao povo que lhe moldou a alma,
forjou o caráter e ensinou a voar. Na sua romagem às origens, o autor
oferece-nos uma narrativa multifacetada, de fino recorte literário. É com rigor
histórico que fala de Vila Real e Constantim nas Terras de Panóias e transcreve
a carta de bons foros que, em 1096, o
Conde D. Henrique, passou a vós homens de
bens e bons costumes, que viestes habitar na Vila de Constantim de Panóias. O
mesmo cuidado se verifica quando fala de Frutuoso
Gonçalves: o sacerdote e o taumaturgo e do santuário rupestre de Panóias. Em
Crianças nascidas durante a guerra, ao
pintar o quadro negro da sua infância distante, sente-se as agruras de quem
poeticamente confessa que me vieram à
lembrança /os meus tempos de criança / (só de criança) / porque eu nunca fui
menino. O realismo das cores e a riqueza de pormenores fazem-nos reviver
esses tempos de fome, mercado negro, racionamento e meia sardinha.
Em Lugares
de Constantim, o historiador cede lugar ao antropólogo. Especialmente nos
ciclos do milho e do vinho, sente-se a tensão dialética de quem se quer afastar
do objeto para apresentar uma descrição objetiva e a necessidade de se
aproximar para ver por dentro o fenómeno humano que lhe está subjacente. Em
todas as descrições, perpassa um fio de ternura que as humaniza. Na
particularidade da sua experiência, a narrativa atinge um grau de
universalidade que se aplica a todo o mundo rural dos meados do século passado.
O avolumar de
vivências atinge o auge ao lembrar as madrugadas em que acompanhava o seu
pároco até Valnogueiras para ajudar à missa: Quantas vezes às cinco da manhã já se misturavam as patadas do seu
cavalo com as minhas ligeiras pegadas de rapazinho ensonado despertando a
montanha, também ela admirada de semelhante quadro.
Situações e personagens
ganham significado através de uma linguagem que nos fala dum povo que encontrou
no engenho e na solidariedade a alegria e a força de viver. E porque, na vida
das pessoas e comunidades, o presente radica no passado e frutifica no futuro,
um voto está implícito em todas estas páginas. Que as sinergias de outrora ajudem
os jovens a construir, no hoje incerto, um amanhã aberto à esperança.
Para a “Casa dos Transmontanos”, os
nossos parabéns.
(18/6/2014)
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