O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, junho 18, 2014

Casa dos Transmontanos e Alto-Durienses do Porto


 

Mais uma vez, esta “Casa Regional” foi encontro de amigos e polo difusor de cultura. No dia 31 de maio, sob a presidência do Dr. Diogo Fernandes, presidente da Assembleia Geral, foi apresentado o livro Gente da Minha Terra. O presidente da direção, Eng. José Gonçalves, saudou a numerosa assistência que enchia o auditório, com uma palavra de apreço especial para a presença do P. José Maria Cabral Ferreira que fora seu insigne professor.

Na obra apresentada, José Augusto Vieira dá vida ao povo que lhe moldou a alma, forjou o caráter e ensinou a voar. Na sua romagem às origens, o autor oferece-nos uma narrativa multifacetada, de fino recorte literário. É com rigor histórico que fala de Vila Real e Constantim nas Terras de Panóias e transcreve a carta de bons foros que, em 1096, o Conde D. Henrique, passou a vós homens de bens e bons costumes, que viestes habitar na Vila de Constantim de Panóias. O mesmo cuidado se verifica quando fala de Frutuoso Gonçalves: o sacerdote e o taumaturgo e do santuário rupestre de Panóias. Em Crianças nascidas durante a guerra, ao pintar o quadro negro da sua infância distante, sente-se as agruras de quem poeticamente confessa que me vieram à lembrança /os meus tempos de criança / (só de criança) / porque eu nunca fui menino. O realismo das cores e a riqueza de pormenores fazem-nos reviver esses tempos de fome, mercado negro, racionamento e meia sardinha.

                  Em Lugares de Constantim, o historiador cede lugar ao antropólogo. Especialmente nos ciclos do milho e do vinho, sente-se a tensão dialética de quem se quer afastar do objeto para apresentar uma descrição objetiva e a necessidade de se aproximar para ver por dentro o fenómeno humano que lhe está subjacente. Em todas as descrições, perpassa um fio de ternura que as humaniza. Na particularidade da sua experiência, a narrativa atinge um grau de universalidade que se aplica a todo o mundo rural dos meados do século passado.

                 O avolumar de vivências atinge o auge ao lembrar as madrugadas em que acompanhava o seu pároco até Valnogueiras para ajudar à missa: Quantas vezes às cinco da manhã já se misturavam as patadas do seu cavalo com as minhas ligeiras pegadas de rapazinho ensonado despertando a montanha, também ela admirada de semelhante quadro.

                 Situações e personagens ganham significado através de uma linguagem que nos fala dum povo que encontrou no engenho e na solidariedade a alegria e a força de viver. E porque, na vida das pessoas e comunidades, o presente radica no passado e frutifica no futuro, um voto está implícito em todas estas páginas. Que as sinergias de outrora ajudem os jovens a construir, no hoje incerto, um amanhã aberto à esperança.

Para a “Casa dos Transmontanos”, os nossos parabéns.

(18/6/2014)