Faz amanhã 55 anos
No
dia 1 de julho, na Torre da Marca, Torres Queiruga, ao iniciar a magnífica conferência
sobre o “Sacramento do Perdão”, lembrou o seu encontro com D. António cuja
Carta XIII ia comentar. Foi na 2.ª feira de Páscoa de 1970. Um grupo de padres
galegos quis visitar o recém-regressado bispo que os recebeu na sua casa de Penafiel.
Ao aperceber-se da presença de um professor de Teologia do Seminário de Santiago,
entabulou com ele um profundo diálogo sobre a enculturação do cristianismo na
“nação galega” e a identidade da “alma luso-galaica”. Torres Queiruga nunca
mais o esqueceu e no livro Repensar a
Teoloxia, Recuperar o Cristianismo, lembrou “aquel obispo valiente
desterrado por Salazar ”
Quando
se passam 55 anos da sua partida para o exílio (24/7/1959), gostaria de
registar alguns testemunhos que poderão ajudar a conhecer o bispo sábio e corajoso de que falou o
conhecido teólogo galego, na palestra promovida pela Fundação SPES.
.
No dia do funeral de Salazar, D. António, ao ver as exéquias no cemitério de
Santa Comba Dão, ficou imóvel. Benzeu-se. E em total recolhimento. Pareceu
balbuciar uma oração. No final, voltou a benzer-se e, em jeito de desabafo,
disse para si mesmo: “este já não faz mais mal a ninguém”.
.
Quando em 1976, entregava a um presbítero o rescrito que o dispensava “das
obrigações do estado sacerdotal”, afirmou que não concordava com a expressão
“redução ao estado laical”. E acrescentou: “A grande maioria dos que pedem
dispensa são homens de muito valor, eu espero que formem a retaguarda teológica
da Igreja”.
.
Numa conversa informal em que falava de D. António Barroso, alguém lhe
perguntou a razão para a independência dos bispos do Porto face ao Estado. Respondeu,
de modo muito simples: “É que nós não casamos as filhas dos Senhores Ministros
nem lhes batizamos os netos…”
.
Num dia de inverno, em 1970, na grande sala de audiências, a conversa era sobre
os sinais de pobreza na Igreja. D. António disse que era preciso ter cuidado
com a autenticidade desses sinais. “Este paço episcopal é muito frio e
desconfortável. Eu podia ir viver para um apartamento. Há quem mo aconselhe. E
todos louvariam a minha atitude. Seria visto como um sinal de pobreza mas eu é
que sairia beneficiado... Não o farei”.
.
Quando, em 1975, um grupo que, por motivações políticas, havia tomado de
assalto um centro social da Obra Diocesana, lhe veio propor conversações, D.
António mandou-lhes dizer que “não negociava com ladrões”.
Autêntico
e frontal. Era assim o “famoso bispo do Porto”, como lhe chamou João Paulo II, quando,
em 1982, se despedia na Serra do Pilar. Para melhor o conhecer, aconselha-se a
leitura das suas “Cartas ao Papa”, obra que se encontra disponível na livraria
da Voz Portucalense.
(23/7/2014)
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