O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, julho 16, 2014

São João o Novo


No dia 24 de junho, a igreja de S. João Novo, encheu-se para celebrar a Eucaristia em honra de S. João. Marcaram presença as irmandades e confrarias de S. Nicolau e da Vitória que, assim, quiseram associar-se à renovada Irmandade do Senhor dos Passos, Cruz de Cristo e Nossa Senhora do Rosário que, nesse dia, fazia a primeira apresentação pública. A valorização das antigas irmandades faz parte do projeto do seu pároco, P. Jardim Moreira, que, pelo culto e pela cultura, quer fazer das igrejas do centro histórico, habitualmente vazias e muitas vezes fechadas, centros de proximidade e polos revitalizadores duma zona da cidade que, nos últimos anos, perdeu cerca de 20 mil habitantes.

Há dias, o Cónego Rui Osório afirmava que a matriz da Foz do Douro era “ a única igreja da cidade do Porto que tem S. João Baptista como padroeiro”. Sendo assim, que dizer da igreja de S. João Novo? Quem é este “S. João-o-Novo”? Um pouco de história.

Quando, nos finais do século XVI, se extinguiu a freguesia de S. João Baptista de Belomonte, criada em 1582,  a igreja paroquial foi entregue aos Frades Eremitas Descalços de Santo Agostinho que a apearam e construiram um convento dedicado a um novo S. João - S. João de S. Fecundo - um santo da sua Ordem, que acabava de ser beatificado (1601) e foi canonizado em 1690. O complexo monástico, que levou cerca de um século a levantar, passou a chamar-se S. João-o- Novo, depois S. João Novo.

 No convento, nacionalizado em 1834, funciona o Tribunal Criminal que conserva o antigo nome. A igreja manteve-se ao culto. A fachada, de imponência austera, “tem a discreta dignidade de uma verídica obra de arquitectura”. Faz lembrar S. Lourenço (dos Grilos). Divide-se em três partes coroadas por três frontões e uma cruz enquadrada por dois colunelos barrocos.  No interior,  abre-se, logo à direita da entrada, a capela de S. João Baptista a lembrar o velho orago da primitiva igreja e padroeiro da antiga freguesia. Ao entrar, prende-nos a atenção a abóbada cilíndrica, toda de pedra, com caixotões lavrados. Nas paredes, podemos admirar quarto portais alusivos a Nossa Senhora, Santo Agostinho e São Patrício e azulejos decorativos do século XVIII.

Em conclusão, na cidade do Porto (nessa época, S. João da Foz ainda não fazia parte) havia uma igreja dedicada a S. João Baptista, bem no centro histórico, demolida no início do século XVII e substituída por uma nova igreja consagrada a outro S. João – “o novo”. Mas a memória do “velho” S. João (Baptista) perdurou nas gentes do Porto e o P. Jardim faz bem em avivar essa tradição cujas raizes remontam a tempos medievais.

Que a renovada Irmandade conseguia manter aberta diariamente essa igreja que bem merece a nossa visita. Fica o voto.

(16/7/2014)