Foi há 185 anos - I
Há,
na cidade do Porto, dois topónimos que sempre me intrigaram: Rua dos Mártires da Liberdade e Campo dos Mártires da Pátria. Porquê
“mártires”? Quem são? São as mesmas pessoas?
Para
situar a resposta, revisitemos a História.
Nasceu
conturbado o século dezanove. Logo no início, as Invasões Francesas (1807,
1809, 1810), lançaram o caos sobre o país e obrigaram a Corte a refugiar-se no
Brasil onde permaneceu longo tempo. Expulsos os franceses, os ingleses, nossos
aliados na guerra, ficaram a mandar na metrópole, Mas, diz-nos José Hermano
Saraiva que " Em Portugal havia
um descontentamento profundo. A miséria
geral, a ruína dos comerciantes,
a impaciência dos militares que
viam os melhores comandos nas mãos dos oficiais ingleses; a ideologia de pequenos grupos,
impregnados de teorias liberais foram os quatro factores decisivos que levaram
à revolta militar que triunfou no Porto, em 24 de Agosto de 1820."
A Junta Provisional do Governo Supremo do
Reino, saída da revolução de 1820, assumiu o poder em todo o país e exigiu que
D. João VI regressasse do Brasil, deixando aí, como regente, o príncipe
herdeiro D. Pedro.
Em
1822, foi promulgada a primeira Constituição Portuguesa. Portugal passou de
Monarquia Absoluta para Monarquia Liberal ou Constitucional onde o poder
soberano provém da vontade do Povo e não de Deus. Mais, na Monarquia Absoluta,
o rei detinha todos os poderes, já a Monarquia Constitucional institui a
divisão tripartida dos poderes (legislativo, executivo e judicial), reservando
para o Rei apenas o executivo.
Nem
todos os portugueses aceitaram esta mudança de regime. Entre estes, contava-se
o príncipe D. Miguel que liderou duas revoltas contra o regime liberal: a
Vilafrancada (1823) e Abrilada (1824)). Derrotado, o próprio pai o condenou ao
exílio em Viena. Em 1826, morreu D. João VI e sucedeu-lhe D. Pedro IV, então já
Imperador do Brasil.
Para
conciliar os portugueses desavindos, D. Pedro manteve o regime constitucional
mas substituiu a “Constituição de 22” pela “ Carta Constitucional” que atribuía
ao rei, também, o poder moderador. E, sabendo que poderia não ser bem aceite em
Portugal por ter proclamado a independência do Brasil em 1822 (“Grito do
Ipiranga”), abdicou em favor da filha, D. Maria da Glória, de 7 anos, com a
promessa de vir a casar com o tio, D. Miguel que, entretanto, assumiria a
Regência. Este aceitou a proposta e jurou cumprir a Carta mas logo, em 1828,
convocou as “Cortes ao modo antigo” que o proclamaram Rei Absoluto. Os liberais
foram perseguidos. Muitos fugiram do País. “No
ano de 1829 a violência na cidade do Porto atingiu, mais uma vez cúmulos de
barbárie.” E os “Mártires da Pátria” e os “Mártires da Liberdade”? Já se
vislumbra a resposta que será dada na próxima semana.
(12/11/2914)
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