A civilização do espetáculo
As
palavras que o Santo Padre dirigiu ao pessoal do Centro Televisivo do
Vaticano no dia 13 de dezembro (VP, 17/12/2014) fizeram-me lembrar,
em contraponto, o que o “Prémio Nobel”, Mário Vargas Losa,
escreveu no livro que deu título a este texto. Segundo ele, vivemos
num “mundo onde o primeiro lugar na tabela dos valores vigente é
ocupado pelo entretenimento e onde divertir-se, fugir ao
aborrecimento, é paixão universal”. E acrescenta “Converter a
propensão natural para passar uns bons momentos num valor supremo
tem consequências inesperadas: a banalização da cultura, a
generalização da frivolidade e, no campo da informação, que
prolifere o jornalismo irresponsável da bisbilhotice e do
escândalo”. Deu-se uma inversão de prioridades e “as notícias
passam a ser importantes ou secundárias sobretudo, e às vezes
exclusivamente, não tanto pelo seu significado económico, cultural
e social e mais pelo seu caráter insólito, escandaloso e
espetacular”. As publicações que mais conquistam o público são
as revistas
do coração.
As pessoas gostam muito das “notícias sobre como os ricos e
famosos se casam, descasam, vestem, despem, brigam, ficam amigos e
gastam os seus milhões, os seus caprichos e gostos, desgostos e maus
gostos”. O mais eficaz para divertir e entreter é o que alimenta
as
baixas paixões,
como “a revelação da intimidade do próximo, sobretudo se for uma
figura pública”. Farejar
a sujidade alheia
dá mais colorido à monotonia da vida. Quando acontece uma desgraça,
os jornalistas esforçam-se por
transformar as vítimas em peças de um espetáculo
que se apresenta como informação necessária, mas cuja função é
saciar a curiosidade perversa dos consumidores de escândalos. Esta
curiosidade corrói as vastas maiorias a que nos referimos quando
falamos de opinião
pública.
“Essa vocação maldizente, escabrosa e frívola é a que dá o tom
cultural do nosso tempo”. As catástrofes amenizam muito a vida das
pessoas. Todas, desde os terramotos e maremotos até aos crimes em
série e, sobretudo, se neles houver agravantes de sadismo
e de perversões sexuais.
“Por isso, na nossa época, nem a imprensa mais responsável pode
evitar que as suas páginas se vão tingindo de sangue, de cadáveres
e de pedófilos”.
Reconhece que
“nenhum jornal pode sobreviver se desobedecer de maneira absoluta
aos traços distintivos da cultura que converteu o entretenimento
passageiro na aspiração suprema da vida humana e o direito de
contemplar com cinismo e desdém tudo o que aborrece, preocupa e nos
faz lembrar que a vida também é drama, dor, mistério e
frustração”. Qual a minha atitude face a esta cultura do divertimento?
(21/1/2015)
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