A igreja de Santa Clara no Porto
Há dias, ao passar no Bonfim, reparei
num casal de turistas que hesitava em subir a longa escadaria da
igreja. Contrariamente ao que lhes disseram, aquela não parecia a
“igreja de Santa Clara” referenciada no seu guia turístico. E
não era mesmo.
Muita gente chama igreja de Santa
Clara à igreja do Bonfim por nesta se venerarem as relíquias de
Santa Clara em honra da qual se realiza uma romaria, no início de
setembro. Esta santa foi mártir, como disse D. António Francisco na
sua festa: “Santa Clara, que hoje aqui evocamos, era uma jovem
romana dos primeiros tempos da Igreja, que afirmou a sua fé até ao
testemunho do martírio. Vincula-nos a esta devoção uma tradição
muito antiga que vem dos nossos antepassados. A tradição diz-nos
que as relíquias de Santa Clara foram trazidas de Roma para a nossa
igreja do Bonfim, no séc. XIX.”
Mas
a “igreja de Santa Clara”, monumento nacional desde 1910, fica
no Largo 1.º de Dezembro (perto do monumento a D. António Barroso)
e deve o seu nome a Santa Clara, discípula de São Francisco, a
respeito da qual respiguei algumas notas no livro chamo-me Clara
de Assis:
“Nasci
em 1193 em Assis. Pelo património familiar éramos uma das famílias
mais ricas da cidade. Francisco (nascido em 1182)) e seus
companheiros viviam do seu trabalho e das esmolas, anunciavam com
simplicidade a Palavra, serviam os enfermos, os leprosos, rezavam …
e viviam em fraternidade e com alegria. Cada dia crescia em mim o
desejo de viver como eles. A 16 de março de 1212, saí sozinha de
casa e corri até à Porciúncula onde me esperavam Francisco e os
seus companheiros. Vesti um vestido simples e cortaram-me os cabelos,
como sinal de consagração a Deus. Quando pude mudar-me para São
Damião ia contente, embora pressentisse que não seria fácil
sobreviver sozinha. E não tardou a chegar um presente do pai do Céu:
as primeiras irmãs! E, para maior surpresa, a primeira foi a minha
própria irmã Inês. E uns anos mais tarde, a nossa mãe
Hortulana... Nalgumas ocasiões passámos fome e penúria, mas então
surgiram os milagres do amor. O pão , partilhado, era
suficiente para todas.” A sua iconografia faz memória do dia em
que afugentou os soldados que tentavam assaltar o mosteiro,
mostrando-lhes a Sagrada Custódia com o Santíssimo Sacramento.
Foi
em honra desta santa, fundadora
da Ordem de Santa Clara (Clarissas), que
D. João I - um rei muito grato ao Porto e em cuja Sé contraiu
matrimónio -, cumprindo um voto da esposa, D. Filipa de Lencastre,
apoiou a construção do Convento de Santa Clara de que subsiste a
igreja, embora muito transformada no século XVII e XVIII. O seu
interior
está coberto de magnificente talha dourada comparável à da igreja
de S. Francisco. Uma joia que vale a pena conhecer...
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