O Tanoeiro da Ribeira

segunda-feira, abril 06, 2015

A igreja de Santa Clara no Porto



Há dias, ao passar no Bonfim, reparei num casal de turistas que hesitava em subir a longa escadaria da igreja. Contrariamente ao que lhes disseram, aquela não parecia a “igreja de Santa Clara” referenciada no seu guia turístico. E não era mesmo.
Muita gente chama igreja de Santa Clara à igreja do Bonfim por nesta se venerarem as relíquias de Santa Clara em honra da qual se realiza uma romaria, no início de setembro. Esta santa foi mártir, como disse D. António Francisco na sua festa: “Santa Clara, que hoje aqui evocamos, era uma jovem romana dos primeiros tempos da Igreja, que afirmou a sua fé até ao testemunho do martírio. Vincula-nos a esta devoção uma tradição muito antiga que vem dos nossos antepassados. A tradição diz-nos que as relíquias de Santa Clara foram trazidas de Roma para a nossa igreja do Bonfim, no séc. XIX.”
Mas a “igreja de Santa Clara”, monumento nacional desde 1910, fica no Largo 1.º de Dezembro (perto do monumento a D. António Barroso) e deve o seu nome a Santa Clara, discípula de São Francisco, a respeito da qual respiguei algumas notas no livro chamo-me Clara de Assis:
Nasci em 1193 em Assis. Pelo património familiar éramos uma das famílias mais ricas da cidade. Francisco (nascido em 1182)) e seus companheiros viviam do seu trabalho e das esmolas, anunciavam com simplicidade a Palavra, serviam os enfermos, os leprosos, rezavam … e viviam em fraternidade e com alegria. Cada dia crescia em mim o desejo de viver como eles. A 16 de março de 1212, saí sozinha de casa e corri até à Porciúncula onde me esperavam Francisco e os seus companheiros. Vesti um vestido simples e cortaram-me os cabelos, como sinal de consagração a Deus. Quando pude mudar-me para São Damião ia contente, embora pressentisse que não seria fácil sobreviver sozinha. E não tardou a chegar um presente do pai do Céu: as primeiras irmãs! E, para maior surpresa, a primeira foi a minha própria irmã Inês. E uns anos mais tarde, a nossa mãe Hortulana... Nalgumas ocasiões passámos fome e penúria, mas então surgiram os milagres do amor. O pão , partilhado, era suficiente para todas.” A sua iconografia faz memória do dia em que afugentou os soldados que tentavam assaltar o mosteiro, mostrando-lhes a Sagrada Custódia com o Santíssimo Sacramento.
Foi em honra desta santa, fundadora da Ordem de Santa Clara (Clarissas), que D. João I - um rei muito grato ao Porto e em cuja Sé contraiu matrimónio -, cumprindo um voto da esposa, D. Filipa de Lencastre, apoiou a construção do Convento de Santa Clara de que subsiste a igreja, embora muito transformada no século XVII e XVIII. O seu interior está coberto de magnificente talha dourada comparável à da igreja de S. Francisco. Uma joia que vale a pena conhecer...