O Tanoeiro da Ribeira

sexta-feira, março 20, 2015

Bodas de Ouro da Senhora da Paz



    A Data - Corria o ano de 1965. No dia 7 de março, na ausência de D. Florentino de Andrade e Silva, Administrador Apostólico da Diocese do Porto, a participar no Concílio Vaticano II, em Roma, o Pe. João, da Obra Diocesana de Promoção Social, benzeu a imagem, celebrou a primeira Eucaristia e deu à capela o nome de Nossa Senhora da Paz. No seu primeiro aniversário, dia 7 de março de 1966, D. Florentino, num gesto de carinho, veio presidir à Eucaristia em que esteve presente a vereadora, D. Maria José Novais, em representação da Câmara Municipal do Porto
    As razões da escolha – No dia 7 de março de 1965 - primeiro domingo da Quaresma – por decisão do Papa Paulo VI, entrou em vigor a reforma litúrgica do Vaticano II: a Missa deixou de ser em latim e passou a ser na língua de cada país e o sacerdote deixou de estar de costas para o povo e começou a celebrar de frente para os fiéis. A escolha do dia 7 de março para a primeira missa na nova capela quis ser um sinal da “igreja pobre e peregrina”que o Concílio Vaticano II anunciou e a futura paróquia quereria testemunhar: uma igreja próxima, plantada no meio das pessoas. Sopravam ventos de esperança...
    A Origem da Capela - A capela de Nossa Senhora da Paz nasceu do encontro de duas vontades. O desejo de um grupo de moradores do Bairro de S. Roque da Lameira, com realce para os senhores Carlos Pereira e Joaquim Costa e D. Aida Matos, que há muito queria missa no bairro e o plano do P. João que precisava de alargar a sua ação pastoral para fora do Bairro do Cerco, onde vivia, e assim cumprir a missão de criar a paróquia de Nossa Senhora do Calvário que D. Florentino lhe confiara.
    O Edifício - A pedido do sacerdote da Obra Diocesana, a Câmara cedeu, para servir de capela, as instalações onde até aí funcionaram os serviços de jardins, higiene e limpeza que foram transferidos para o bloco 1 do bairro. Inicialmente estava dividido em duas secções. Obras posteriores, feitas pela Câmara, converteram-no no edifício atual.
    O Orago - Nossa Senhora da Paz. 1965 era tempo da Guerra Colonial. Uma guerra que parecia não ter fim, com muita dor e angústia. Muitos jovens partiam cheios de vida e regressavam estropiados ou num caixão. Eram muitas as mulheres vestidas de preto; mães sem filhos, filhas sem pais, viúvas de noivos vivos. Nossa Senhora era a Mãe dolorosa que assistia de pé à agonia do filho (Nossa Senhora do Calvário) e reconfortava as mulheres esmagadas pelo sofrimento (Nossa Senhora da Paz). Senhora da Paz e Senhora do Calvário são, pois, duas invocações marianas que se complementam.
    A Imagem - Foi comprada na Companhia Funerária Portuense, na rua de Santa Catarina, onde, no ano seguinte, iria ser adquirida a imagem de Nossa Senhora do Calvário. Trata-se duma jovem, de rosto bondoso e sereno, que inspira confiança e tranquilidade. Uma bonita imagem da “Senhora da Paz”. Esta foi a primeira imagem da futura paróquia de Nossa Senhora do Calvário. Era ela que, levada em andor, presidia à procissão de velas que, no dia 31 de Maio, unia o Cerco do Porto e S. Roque da Lameira, durante vários anos e apenas terminou quando o Comando Distrital da PSP proibiu a sua passagem na rua de S. Roque.
    A Memória – Muitas noivas depuseram os ramos junto do seu altar. Muitos pais consagraram-lhe os filhos no dia do batizado. Muitas mães choraram junto dela e imploraram a sua proteção para seus filhos. Muitas crianças lhe cantaram nos dias da sua “Primeira Comunhão e da “Comunhão Solene”. Muitas mães e jovens lhe deram graças. Foi confidente de muitos namoros. Abençoou muitos casais. Assistiu à despedida de muitos defuntos. Quantas pessoas lhe rezaram durante os milhares de Eucaristias que aí foram celebradas! Quantas lágrimas secou e quantos sorrisos acolheu! Quantas conversões ela pôde testemunhar! A sua memória tem de ser preservada. A Câmara pôs o edifício ao serviço da Paróquia e esta não o pode desprezar sob pena de o perder e, assim, esquecer todos aqueles que fizeram da capela da Senhora da Paz a sua casa de oração, e ofender a Deus que aí plantou a sua tenda para se encontrar com os homens.
    As Bodas de Ouro – Celebrar uma data não é apenas comemorar o passado. É acima de tudo, perspetivar o futuro. A Senhora da Paz merece uma prenda. Que prenda lhe vamos dar?