O PORTO VISTO À MINHA MANEIRA : uma
exposição de memória
No passado dia 12, na Casa do Infante
foi inaugurada, com a colaboração e intervenção do Coro
Gregoriano do Porto, a exposição fotográfica “O Porto visto à
minha maneira”, de Serafim Marques, que faz memória do Porto e
suas gentes no 3.º quartel do século passado. O seu autor, natural
do Bonfim, foi durante cinquenta anos (1939-1989) fotógrafo de “O
Primeiro de Janeiro” e professor em várias escolas com destaque
para a Escola Soares dos Reis, no Porto e Escola EB2,3 de Rio Tinto
donde, aos 70 anos, se aposentou. Como diz o cartaz da exposição,
“continua interessado no mundo que o cerca. Continua a fotografar o
que vê e o que sente. A cidade onde nasceu merece-lhe um carinho
especial” Por isso, caminheiro incansável, na verticalidade dos
seus 92 anos, é vê-lo, de máquina a tiracolo, calcorrear o Porto
em busca de um recanto, dum ângulo, duma tonalidade, dum
instantâneo, como o vem fazendo ao longo de muitas dezenas de anos.
Homem discreto e humilde, nunca quis expor o seu trabalho porque,
dizia,”isso era vaidade”. E só aceitou fazê-lo quando amigos o
convenceram de que era uma obrigação que devia à sua cidade. Esta
exposição representa uma pequeníssima parte do seu enorme legado
fotográfico. São 36 fotografias a preto e branco, legendadas em
português e inglês, pontilhadas por textos/poemas sobre o Porto, de
Carlos T, José Gomes Ferreira, Luís Veiga Leitão, Pedro Homem de
Mello, José Saramago, Eugénio de Andrade, Miguel Torga. Os
técnicos da Casa do Infante deram-lhe um enquadramento de luz e uma
organização espacial que os dignifica e honra os seus visitantes.
São dignos de louvor. Para além da beleza das fotografias que, por
vezes, parecem pinturas, a exposição oferece-nos um rico e raro
acervo documental que nos permite rever/conhecer não só como era a
cidade nesse tempo, mas também os tipos humanos, o vestuário, o
modo de ser e viver de um povo que fez do trabalho o brasão da sua
nobreza. Sem desprimor para as restantes, gostaria de realçar, pela
sua densidade humana e pelas imagens que já são apenas memória:
Alfândega – comboios de mercadoria (1960); Avenida dos
Aliados (1960) que nos traz a saudade dos canteiros em flor;
Trabalho duro – Upa.upa! (1963); Barcos saveiros
(1967) a dormitar junto da Ribeira (1967); Mercado da Ribeira “Ó
freguesa! Olhó bom peixe... fresquinho! (1967); O homem da
bicicleta (1967);
Olhó graxa! C'roa ou caixa! (1967), Esperando a subida das
águas – cheias (1968).
Está de parabéns a Casa do Infante
por mais este serviço à cultura e à memória do Porto. A
exposição, de entrada gratuita, está patente até 19 de abril.
Quem quiser conhecer melhor a cidade do Porto, poderá aproveitar
esta visita para percorrer os espaços disponíveis da Casa do
Infante que nos falam duma cidade que, no passado, encontra as raízes
da sua identidade. Merece uma visita..
( 18/3/2015)
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