NAS PERIFERIAS EXISTENCIAIS
Anunciavam-se
relâmpagos para a noite de 18 de abril, mas foram as velas que
iluminaram o adro da capela da Senhora da Paz. Fez bem a Vigararia do
Porto Nascente ao iniciar a “Via da Alegria” nesta capelinha que
está a celebrar as bodas de ouro. Belo presente!
Na festa do seu
aniversário, foi lido um texto que começava: “Corria o ano de
1965. No dia 7 de março, na ausência de D. Florentino de Andrade e
Silva, Administrador Apostólico da Diocese do Porto, a participar no
Concílio Vaticano II, o sacerdote da “Obra dos Bairros” benzeu
a imagem, celebrou a primeira missa e deu à capela o nome de N.ª
Srª da Paz. No primeiro aniversário, dia 7 de março de 1966, D.
Florentino, num gesto de carinho, veio presidir à Eucaristia.”
Em 7 de março
de 1965, entrou em vigor a reforma litúrgica do Vaticano II: a
Missa passou a ser em português e o sacerdote começou a celebrar de
frente para os fiéis. A escolha desse dia para a primeira missa quis
ser um sinal da “Igreja pobre e peregrina”que o Concílio
Vaticano II anunciou: uma Igreja missionária e próxima, plantada no
meio das pessoas e partilhando das suas “alegrias e tristezas...”.
A Câmara
Municipal havia cedido as arrecadações dos serviços de jardins, no
coração do bairro de S. Roque, nos limites do nordeste portuense.
Era um edifício com chão de cimento e telhado de telha vã. E foi
aí que Deus armou a sua tenda de encontro com os homens que dela
fizeram “casa de oração”. Entre outros, nela celebraram a
Eucaristia dominical o Cónego Marcelino, então diretor espiritual
do Seminário Maior e D. João Miranda, quando era vice-reitor do
Seminário do Bom Pastor. E também
rezou D. António Ferreira Gomes, em 1972.
Na Igreja,
sopravam ventos de esperança. O País, porém, continuava vestido de
luto: era a Guerra Colonial que ameaçava não ter fim. Muitos jovens
partiam cheios de vida e regressavam estropiados ou num caixão.
Nossa Senhora da Paz seria a mãe que reconfortava este povo sem
esperança. A sua imagem é a de uma jovem, de rosto sereno e braços
abertos em gesto de acolhimento a lembrar a Senhora da Misericórdia.
Celebrar
as “bodas de ouro” é evocar a memória, mas é também
perspetivar o futuro. E foi, num momento de inspiração, que o
pároco anunciou que a capelinha iria ser lugar de encontro para
todos os que estão ao serviço da caridade. E foi certamente essa a
intenção que presidiu à realização, neste local, da “Via da
Luz”.
Que
lugar paradigmático para, no “Ano da Misericórdia”, a Igreja
(paróquia/vigararia) abrir o coração às periferias existenciais,
como aconselha o Papa Francisco na bula “O Rosto da Misericórdia”!
Seria regressar à sua matriz original. E bem o mereciam quantos nela
trabalharam e rezaram e aí se encontraram com Deus na Assembleia dos
Crentes.
( 29/4/2015)
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