O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, abril 22, 2015

DE QUEM É ESTA IMAGEM?








Há dias, uma jovem, ao passar perto do monumento cuja fotografia encima este texto, disse para o companheiro: - “ De quem é aquela estátua? Parece o Manuel Luís Goucha.” O amigo apressa-se a ler a inscrição e esclarece: - “Não, não é. É um bispo qualquer.” (Sic) Sem comentários...
Como certamente já se aperceberam, trata-se da escultura de D. António Ferreira Gomes que a Fundação Eng. António de Almeida ofereceu ao Porto, como paradigma da cidade onde, dizia Almeida Garrett, se há muito quem troque o B por V, há muito pouco quem troque a liberdade pela servidão. Ergue-se entre a Igreja dos Clérigos e a Universidade do Porto, local prenhe de significado para um bispo que privilegiava a pastoral da inteligência e que a história consagra como “O Bispo do Porto”.
D. António nasceu a 10 de Maio de 1906, em Milhundos, Penafiel. Entre 1926 e 28 frequentou a Universidade Gregoriana de Roma. Ordenado presbítero em 22 de setembro de1928, foi professor do seminário de Vilar de que se tornaria reitor e onde procurou inculcar nos alunos as palavras: “Fostes resgatados por grande preço, não queirais tornar-vos escravos de homens (1 Cor 7,23). Nomeado bispo de Portalegre em1949, veio para o Porto em 1952. Marcou a história pela lucidez e coragem na denúncia dos males político-sociais e também eclesiais. Num encontro de clero no Seminário Maior, disse “ando a ler o Livro de S. Cipriano e aconselho a todos a sua leitura porque a prática de muitos cristãos está mais próxima deste livro que do Evangelho.” e aconselhou especial cuidado na preparação dos noivos para o matrimónio porque “muitos casamentos na igreja não são sacramento, mas depois, como se trata dum ato do direito positivo, é preciso provar juridicamente a sua nulidade”.
A 13 de Agosto de 1958, escreveu uma carta a Salazar, na qual, fiel à doutrina da Igreja, exprimia preocupações acerca do estado da Nação e do “Estado Novo”. Em consequência, Salazar, logo no ano seguinte, condenou-o a um exílio de que só regressou 10 anos depois, retomando as suas funções episcopais, das quais resignou em 1982, ao atingir o limite de idade, vindo a falecer em 1989. Polémico porque profético.
Em sua homenagem, faço minhas as palavras de D. Armindo que, junto deste monumento em 2005 , exaltou o seu combate pela liberdade, pela dignificação da pessoa, pela valorização dos trabalhadores; a sua inteligência lúcida nas leituras sobre o sentido da história, o desenvolvimento e a afirmação da Igreja.
Para conhecer o pensamento de D. António, aconselho os seus livros editados pela Fundação SPES, particularmente as Cartas ao Papa.
(22/4/2015)