DE QUEM É ESTA IMAGEM?
Há
dias, uma jovem, ao passar perto do monumento cuja fotografia encima
este texto, disse para o companheiro: - “ De quem é aquela
estátua? Parece o Manuel Luís Goucha.” O amigo apressa-se a ler a
inscrição e esclarece: - “Não, não é. É um bispo qualquer.”
(Sic) Sem comentários...
Como
certamente já se aperceberam, trata-se da escultura de D. António
Ferreira Gomes que a Fundação Eng. António de Almeida ofereceu ao
Porto, como paradigma da cidade onde, dizia Almeida Garrett, se
há muito quem troque o B por V, há muito pouco quem troque a
liberdade pela servidão. Ergue-se
entre a Igreja dos Clérigos e a Universidade do Porto, local prenhe
de significado
para
um bispo que privilegiava a pastoral
da inteligência e
que
a história consagra como “O Bispo do Porto”.
D.
António nasceu a 10 de Maio de 1906, em Milhundos, Penafiel. Entre
1926 e 28 frequentou a Universidade Gregoriana de Roma. Ordenado
presbítero em 22 de setembro de1928, foi professor do seminário de
Vilar de que se tornaria reitor e onde procurou inculcar nos alunos
as palavras: “Fostes resgatados por grande preço, não queirais
tornar-vos escravos de homens (1 Cor 7,23). Nomeado bispo de
Portalegre em1949, veio para o Porto em 1952. Marcou a história pela
lucidez e coragem na denúncia dos males político-sociais e também
eclesiais. Num encontro de clero no Seminário Maior, disse “ando
a ler o Livro de S. Cipriano e aconselho a todos a sua leitura porque
a prática de muitos cristãos está mais próxima deste livro que do
Evangelho.” e aconselhou especial cuidado na preparação dos
noivos para o matrimónio porque “muitos casamentos na igreja
não são sacramento, mas depois, como se trata dum ato do direito
positivo, é preciso provar juridicamente a sua nulidade”.
A
13 de Agosto de 1958, escreveu uma carta a Salazar, na qual, fiel à
doutrina da Igreja, exprimia preocupações acerca do estado da Nação
e do “Estado Novo”. Em consequência, Salazar, logo no ano
seguinte, condenou-o a um exílio de que só regressou 10 anos
depois, retomando as suas funções episcopais, das quais resignou em
1982, ao atingir o limite de idade, vindo a falecer em 1989. Polémico
porque profético.
Em
sua homenagem, faço minhas as palavras de D. Armindo que, junto
deste monumento em 2005 , exaltou o seu combate
pela liberdade, pela dignificação da pessoa, pela valorização dos
trabalhadores; a sua inteligência lúcida nas leituras sobre o
sentido da história, o desenvolvimento e a afirmação da Igreja.
Para conhecer o
pensamento de D. António, aconselho os seus livros editados pela
Fundação SPES, particularmente as Cartas ao Papa.
(22/4/2015)
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