O BRIO DE SER PORTUGUÊS
Foi
na 5.ª Feira Santa. Embalado, ainda, pelo misticismo de Meteora que
respirara nos mosteiros de Varlaam e de Santo Estêvão, fui, ao
chegar a Atenas, surpreendido pela notícia. A EuroNews abria
o seu noticiário da noite:“Manuel de Oliveira morreu”. Sem mais
nem menos, a notícia corria mundo e encontrava eco nas grandes
cadeias de televisão da “Aldeia Global”. Manuel de Oliveira era
tratado como personagem universal. Só ao iniciar a longa reportagem
sobre a sua vida e obra é que acrescentou: “O português Manuel de
Oliveira morreu”. Seguiram-se longos minutos com fotografias,
reportagens, excertos de filmes, entrega de prémios, entrevistas,
comentários... E, mais uma vez, o Porto e o Douro foram exaltados...
Logo aí senti saudade da sua figura acolhedora a passear, de chapéu
e bengala, nas ruas da “Baixa” mas soube-me bem vê-lo
enaltecido como figura mundial. Esqueci que estava num hotel de
Atenas. Sentia-me em casa. E o gosto de ser português saiu redobrado
quando vi o relevo que lhe era dado na imprensa internacional. Nos
escaparates da “Placa”, no sopé do Areópago onde S. Paulo
pregou aos atenienses (Atos dos Apóstolos, 17,16), lá estava o El
País, com fotografia e notícia de primeira página. Apetecia-me
dizer: “Eu sou português! Ele é da minha cidade!” Mas
contive-me...
Na
semana seguinte, ao ver cheia a Sé Catedral, emocionei-me. Fez bem
a família e a Câmara Municipal ao querer que a “Missa de 7.º
Dia” fosse celebrada na Casa- Mãe da Diocese. A Universidade do
Porto fez-se representar pelo vice-reitor Pedro Teixeira. Na homilia
D. António Francisco
disse: Manuel
de Oliveira era um homem de brilhante saber que se maravilhava diante
da sensibilidade dos mais humildes e dos gestos mais simples! (…)
Assumia o trabalho como arte caldeada na arte da vida. Antes de ser
mestre internacionalmente prestigiado na arte do cinema foi mestre
exemplar na arte da vida que nos legou, como primeira e sublime
herança.
Deixo aqui uma homenagem ao Mestre na arte da vida e à Cidade dos Afetos que o amou porque se sentiu amada por ele. E também a Fernanda Matos, a Terezinha do Aniki-Bóbó, que nos honra como nossa assinante. E faço-o, transcrevendo um excerto da entrevista que, há anos, me concedeu: “- E do Manuel de Oliveira, que recordações tem? É capaz de nos falar dele? - Do tempo de criança, recordo a sua paciência, ternura, gentileza que sempre demonstrou para com todas as crianças. Hoje, como mulher, rendo-lhe as mais humildes homenagens e sinto-me orgulhosa do grande cineasta e Senhor que continuou e desejo continue ainda por alguns anos mais.” (VP, 16/1/2008)
Sem
chauvinismos mas em tempos de crise identitária, são pessoas como
Manuel de Oliveira que acalentam a honra de ser português...
(10/6/2015)
(10/6/2015)
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