O Tanoeiro da Ribeira

sábado, outubro 30, 2010

Em homenagem às gentes do campo

Aconteceu em Soalhães, no passado dia 20 de Outubro. O dobre a finados, que se alongara pelas quebradas dos montes, anunciava a morte de um “freguês” (filho da Igreja) e convidava para o seu funeral. E as pessoas vieram, a maioria muito alquebrada pelos anos, vários com o apoio de bengalas e mesmo em cadeira de rodas. E a igreja paroquial encheu-se.

Quem morrera? Quem juntara ali toda aquela gente? Um senhor da “Casa da Quintã? Uma pessoa influente? - Não. Foi a tia Maria da Venda da Giesta, um mulher do campo que passara a vida a guardar vacas e ovelhas, a cuidar de umas magras “leiritas” e a tratar das lides domésticas. Mulher modesta, pobre nos haveres, mas rica na bondade do coração, nas palavras mansas e no sorriso que, mesmo nas horas mais duras da doença, partilhava com toda a gente. Que o digam os que com ela privaram e que tão bem a trataram no lar da Santa Casa da Misericórdia do Marco.

E quem eram aquelas pessoas que, com sacrifício, deixaram as suas casas, interromperam o trabalho e vieram acompanhar a vizinha ao seu último repouso?
Na casa mortuária, vi os rostos tisnados da maioria e apertei-lhes as mãos rugosas, ásperas, mãos calejadas pelo cabo da enxada e pela rabiça do arado. Gente digna que não vive à custa do suor alheio, e, quantas vezes, “come o pão que o diabo amassou”. Trabalho que urge o Estado incentivar e a sociedade valorizar. Lembrei-me, então, da homilia que, há anos, ouvira, em S. Martinho de Campo, ao saudoso Pe. Torres Maia, no funeral dum criado de lavoura. Em homenagem às gentes do campo e a todos os que, com o seu trabalho, colaboram ou colaboraram com Deus na renovação da terra, deixo-vos com alguns excertos desse belo poema:
Estes homens do campo passaram uma vida em contacto com a natureza, magoando os pés na fraga e tisnando o rosto ao sol, no calor da eira, escorrendo suor na hora da canícula ou tiritando e sacudindo as mãos geladas, a cortar mato, pela solidão dos montes e no silêncio das cavadas.
Como foram dignos ao comer o seu pão, tantas vezes amargo, na incompreensão injusta da sociedade.
Vivendo ao ritmo da natureza, espreitando o sol e a chuva da vidraça da janela, o trabalhador agrícola está na dependência do tempo atmosférico e sereno para aceitar a intempérie. Ele é, sobretudo, o homem que põe a sua vida nas mãos de Deus.
Felizes aqueles que conservarem pela vida fora um coração simples e uma fé robusta e temperada como a alma do homem da lavoura e que não se deixaram engolfar pela vaidade, o orgulho, a ambição!


Todo o trabalho honesto dignifica o homem e fá-lo participante da acção criadora de Deus, mas o trabalhador do campo, ao alegrar-se com o desabrochar das sementes que lançou à terra e com o frutificar das árvores que plantou, sente-se mais próximo de Criador que “colocou o homem no jardim do Éden, para o cultivar e guardar.” (Gn. 2,15).

Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o reino dos céus”. “Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra.” (Mt 5,3,5)

TE DEUM

“Nós Vos louvamos, ó Deus,
Nós Vos bendizemos, Senhor
Toda a terra Vos adora,
Pai eterno e omnipotente.”


Ainda há poucas semanas, ouvíamos Jesus queixar-se da ingratidão: “Não foram dez os que ficaram curados? Onde estão os outros nove?” (Lc 17,17).

A nossa ROMAGEM pretende ser uma acção de agradecimento. Culminará na Eucaristia cujo cântico final, o “Te Deum”, é um hino de louvor a Deus, Senhor e Pai. Será cantado pelo Coro Gregoriano do Porto e intercalado por aclamações da Assembleia: “O céu e a terra proclamam a vossa glória.” Para que todos possam acompanhá-lo, será distribuída a sua tradução.

Louvaremos a Deus e daremos graças:

- pelos bispos que fundaram e mantiveram viva esta VOZ da Igreja do Porto;

- pelos directores, administradores, colaboradores, correspondentes, jornalistas, funcionários e por todos os que, ao longo de 90 anos, lhe deram vida;

- pelas mães dos sacerdotes e pelas nossas mães que nos conduziram “aos pórticos do templo”, como diz o citado poema em louvor das Mães.

- pelos 50 anos de sacerdócio de D. João Miranda e de todos os que, com ele, foram ordenados presbíteros. Na sequência do “Ano Sacerdotal”, daremos graças a Deus por todos os sacerdotes.

Porque, como escreveu D. Manuel Clemente, “a Voz Portucalense vive essencialmente da generosidade e do contributo material dos seus assinantes”, daremos graças por todos os que ajudaram a manter vivo o jornal diocesano, lembrando de modo especial os que, apesar das dificuldades económicas, se conservam connosco.

Este Te Deum será também pelos 280 assinantes que se inscreveram em 2010 que consideramos as “prendas do nosso 40º aniversário”. E não esqueceremos os “assinantes divulgadores”.



O Coro Gregoriano do Porto, que, por iniciativa do Dr. Belarmino Soares, nasceu na igreja da Lapa no primeiro domingo do Advento de 1995, faz desta Romagem o primeiro acto das comemorações do seu 15.º aniversário que irão terminar na “Missa do Peregrino”, em 11 de Dezembro, na Catedral de Santiago de Compostela. Ao associarmo-nos ao seu canto de louvor, estamos a agradecer-lhes a simpatia com que acederam ao nosso convite.

ÀS MÃES

Ó Santas que embalais o berço das crianças
E assim lho revestis de flórias esperanças!
Que andais sempre a cuidar das almas por abrir
E a verter-lhes no seio o gérmen do porvir!

Sois vós que, pela mão, da glória à vida inquieta,
Levais um vosso filho, um pálido profeta,
Que é Newton ou Petrarca, Ângelo ou Rafael,
Com o pincel e a pena, o compasso e o cinzel,
Fazendo enobrecer quem lhe seguir o exemplo…

Sois vós que o conduzis aos pórticos do templo,
Onde o porvir coroa os génios imortais,
E, mal chegados lá, de todo o abandonais,
Sem aguardar sequer nas sombras duma arcada
A grande aclamação que lhe festeja a entrada!
E – modestas que sois! – voltais a vosso lar
E só vos contentais em vê-lo atravessar
- C’roada de lauréis a fronte cismadora –
Um arco triunfal que o cerca duma aurora…

Mas nós, cabeças vãs, escravos pelo amor,
Andamos a dizer “Beatriz! Leonor!”
E o nome vosso, ó mães, não lembra um só instante!
- Quem sabe o nome vosso, ó mães de Tasso e Dante?

Ó Santas, perdoai! Lá tendes o Senhor
A cobrir-vos de luz, de bênçãos e de amor,
Fazendo abrir ao sol as vossas esperanças!
- Ó Santas, embalais o berço das crianças.

GUILHERME BRAGA - Heras e violetas

Poema publicado na “Voz do Pastor”, em 19 /7/1969, com a fotografia de D. António Ferreira Gomes a rezar junto do túmulo de sua mãe, Albina de Jesus Ferreira Gomes.

Homenagem às mães

Quem sabe o nome vosso, mães de Tarso e Dante?”. D. António Ferreira Gomes gostava de evocar este verso sempre que prestava homenagem às mães, como fez numa visita ao mosteiro de Singeverga. E como se chamaria a sua mãe?- interroguei-me. Em busca de resposta, viajei até S. Martinho de Milhundos. Os seus restos mortais estão num jazigo que tem, apenas, a inscrição “Casa da Quebrada”, sem qualquer menção às pessoas nele sepultadas.

Romagem aos túmulos dos Bispos Fundadores

Desloquei-me, então, à casa da família. Recebeu-me o actual proprietário, Inácio Magalhães Ferreira Gomes, sobrinho de D. António. Sua esposa, D. Maria Alice, foi aos arcanos da família e ofereceu-me uma das suas relíquias: a pagela / memória da mãe de D. António - Albina de Jesus Ferreira Gomes, falecida em 21 de Novembro de 1965: “Deixou aos filhos o exemplo da virtude.”

O dia da morte da mãe foi, no dizer de um dos sobrinhos de D. António, o dia mais triste do seu exílio, até porque Salazar não autorizou a sua vinda ao funeral, nem a notícia do falecimento saiu nos jornais donde o nome do filho tinha sido proscrito. Consolou-o saber que, apesar destas limitações, a presença em massa do clero do Porto e de muitos fiéis no funeral era o testemunho de quanto o estimavam e desejavam o seu regresso à diocese. Reconfortou-o, ainda, a companhia, em Roma onde estava, de vários sacerdotes que aí estudavam e a quem desabafou: “Quando morre o pai ou a mãe, deixamos de ser meninos”. Foi tão grande a sua dor que, quando regressou à terra, o primeiro local que visitou foi a campa de sua mãe onde se demorou a rezar e, certamente, terá lembrado a jaculatória que, muitas vezes, ouvira a sua mãe nas horas de sofrimento: “valha-me o Senhor do Calvário”. A Voz do Pastor, no dia 19 de Julho de 1969, publicou uma fotografia, onde se vê D. António, de pé, junto do jazigo da mãe, acompanhada pelo poema “Às Mães”, de Guilherme Braga, que integra o verso com que abri este texto.

Ao programarmos a “Romagem aos túmulos dos Bispos Fundadores”, no 40.º aniversário da Voz Portucalense, ficámos felizes quando verificámos que, este ano, o dia 21 de Novembro calhava a um domingo. E, logo, resolvemos escolher a tarde desse dia para a Romagem. Junto do túmulo da mãe de D. António, iremos ler o poema de Guilherme Braga e cantar o “Salve Regina” àquela a quem todos chamamos MÃE e nela, rezaremos e prestaremos homenagem às mães dos sacerdotes e às nossas mães.

quarta-feira, outubro 13, 2010

Romagem aos túmulos de D. António Ferreira Gomes e de D. António Barbosa Leão

Domingo-21 de Novembro

Estamos a comemorar os 40 anos da criação da Voz Portucalense por D. António Ferreira Gomes. No próximo ano, ocorre o 90º aniversário da fundação da Voz do Pastor por D. António Barbosa Leão. Para celebrar estes aniversários, iremos organizar uma romagem aos túmulos dos bispos fundadores.


Aproveitaremos esta romagem para prestarmos homenagem às mães dos sacerdotes. Por isso, escolhemos o dia 21 de Novembro uma vez que, nessa data, faz 45 anos que faleceu a mãe de D. António Ferreira Gomes, Albina de Jesus Ferreira Gomes



PROGRAMA

14.30 horas – Partida das camionetas, junto da Câmara Municipal do Porto, ao lado da Estação dos Correios.
15.15 horas – Cemitério de Parada de Todeia, Paredes:

* Junto do túmulo de D. António Barbosa Leão
- Deposição de uma coroa de flores
- Momento de Oração
- Requiem - Coro Gregoriano do Porto
16.15 horas – Cemitério de S. Martinho de Milhundos, Penafiel:

* Junto do túmulo de D. António Ferreira Gomes
- Deposição de uma coroa de flores
- Momento de Oração
- In Paradisum - Coro Gregoriano do Porto

* Junto do túmulo da mãe de D. António:
- Deposição de uma coroa de flores
- Momento de Oração
- Salve Regina - Coro Gregoriano do Porto
17.00 horas – Igreja de S. Martinho de Milhundos
- Eucaristia pelos bispos fundadores, colaboradores e
assinantes.
Será presidida por D. João Miranda ou outro dos bispos
presentes.
- “Te Deum” cantado pelo Coro Gregoriano do Porto
18.15 horas- Partida das camionetas
19.00 horas- Chegada ao local da partida

Romagem aos túmulos dos Fundadores




Domingo-21 de Novembro

Une-os a partilha da mesma coragem profética na defesa da liberdade.

D. António Barbosa Leão criou em 1923 o jornal da diocese para dar voz ao pastor que a Primeira República queria silenciar. D. António Ferreira Gomes, em tempo de Vaticano II, refunda-o para dar voz à igreja portucalense que a Ditadura procurava calar.

D. António Ferreira Gomes sofreu um exílio de 10 anos por ter escrito a famosa “Carta a Salazar” onde denunciava as injustiças do Estado Novo. D. António Barbosa Leão foi expulso, em 1912, da sua Diocese do Algarve, por ter afirmado que a Lei da Separação das Igrejas do Estado era “espoliadora, opressiva e afrontosa”.. Quando regressou à Diocese, em 1914, um cónego caracterizou-o como: “um bispo reduzido à pobreza, expulso do seu paço, que acaba de cumprir uma penalidade de desterro, imposto pelo ministro da justiça em pleno regime de liberdade de cultos”;

D. António Ferreira Gomes foi sempre fiel ao lema” De joelhos diante de Deus, de pé diante dos homens.”. D. António Barbosa Leão não se atemorizou perante o poder político e ousou escrever ao Presidente da República da altura: “O Estado entrou na Igreja e lançou algemas a todos os seus membros”.

São estas figuras insignes da Igreja do Porto que vamos homenagear junto dos túmulos onde repousam os seus restos mortais.

Um Bispo de “Coração Quente”

“Porque é que Você, que é Bispo, quando vem falar comigo, nunca fala de Deus e da religião, mas do povo, da defesa dos seus direitos e da sua dignidade?”, perguntou o presidente Samora Machel. ”Porque um Deus que precisasse da minha defesa seria um Deus que não é Deus. Deus não precisa que O defendam. O Homem sim”, respondeu.

Quem é este Bispo?

Director espiritual do Seminário de Vilar, dizia aos alunos “Cristo quer padres de coração quente que façam da sua missão um serviço apaixonado a Deus e às Pessoas.”

Ele próprio foi um sacerdote “de coração quente”. Um apaixonado. E foi essa paixão que arrastou multidões atrás de si. Ficaram memoráveis as conferências que enchiam o Palácio de Cristal com mais de 15 000 pessoas. Eram lufadas de liberdade num país amordaçado. E as “semanas pastorais” foram sementes de futuro para um clero em renovação conciliar.

Foi essa mesma paixão que, já bispo, o fez beijar um bebé negro ao chegar à sua diocese em Moçambique e o levou a cometer o “crime” denunciado pela PIDE em 1971: “acariciava os pretinhos, visitava-os nas suas palhotas e, quando algum lhe retribuía a visita, se porventura se encontrava à mesa, não tinha rebuço em fazer sentar o visitante, sem olhar à sua condição social, maneira como vestia ou se apresentava”.

Foi expulso, como “famigerado traidor à Pátria”, no início de 1974, porque defendia a dignidade da pessoa humana e denunciava os horrores da guerra colonial.

Após a independência, clamou contra a violência que se abatia sobre o povo moçambicano, ao ponto de, logo em 1975, ter sido expulso como “reaccionário”, embora só simbolicamente, na pessoa do seu secretário particular. E na sua Catedral, teve a força de proclamar bem alto: “Meus filhos, tanto me bati pela vossa liberdade, e não sois livres! Fui avisado de que há quem não goste das minhas homilias. Mas eu expus a minha vida por vós. A minha vida não é minha, mas vossa. Entreguei completamente a minha vida pelo Homem em Moçambique. Se disparardes contra mim, hei-de gritar ainda mais alto, depois de morto”.

Sempre a mesma paixão e a mesma coragem. Porque, como escreveu Anselmo Borges, ele, “ Bispo de Deus e da Igreja, quer ser Bispo do Homem, seja quem for, independentemente da raça, cor ou religião. A sua opção não foi por um regime ou sistema mas pelo Povo e o Homem, tendo a preferência o humilhado e esquecido”.

Em Junho de 1992, recebeu uma longa carta de João Paulo II: “São, afinal, já tantos anos que Tu tens vivido, não em regiões tranquilas e prósperas, mas, pelo contrário, nessas terras onde as armas continuam a semear tão grandes calamidades contra o povo. Nós queremos apresentar-te os nossos rasgados louvores, porque nunca deixaste de cumprir generosamente os teus deveres de Pastor. Entregaste-te de alma e coração, cumprindo incansavelmente todos os teus deveres de Bispo.

Este grande missionário, natural de Amarante, ordenado presbítero na Sé do Porto em 1949 e sagrado bispo na igreja da Trindade em 1967, que D. António Ferreira Gomes colocou “na galeria dos bispos de quem se honra a Igreja em Portugal”, é D. Manuel Vieira Pinto, Arcebispo Emérito de Nampula que, muito doente, vive entre nós, na Casa Sacerdotal.
A nossa homenagem.
É parca a gratidão dos homens e curta a sua memória…

sexta-feira, outubro 08, 2010

Cartão de agradecimento do (ao) Dr. Armindo

Tenho na minha frente uma carta que guardo como um tesouro.
Ainda recordo a emoção com que a recebi. O remetente vinha impresso, já o meu endereço estava escrito à mão com uma letra trémula mas perfeitamente compreensível.
Continha um cartão timbrado de “ D. Armindo Lopes Coelho - Bispo Emérito do Porto”. Mas quem o assinava era o Dr. Armindo Lopes Coelho.
Ao ler a mensagem “Grato pela visita que serviu para matar saudades”, compreendi a complementaridade. Começava por agradecer a visita que nós, da Fundação Voz Portucalense, com o Pe. Salgueirinho, lhe fizéramos no dia 24 de Março passado. Fôramos visitar o D. Armindo. E terminava “que serviu para matar saudades”. Que saudades? Não falei nada sobre o seu tempo de bispo, mas relembrei o seminário e dei particular ênfase à sua participação numa colónia de férias em “Albergaria da Serra”. E fi-lo porque um seu antigo secretário me havia confidenciado que ele gostava muito de lhes contar as diversas peripécias que aí vivera.
Em síntese:

Foi em Agosto de 1961. Colaborei com o Teixeira Coelho na realização de uma colónia de férias para 19 rapazes do Bairro da Sé. O Dr. Armindo acompanhou-nos durante todos esses dias, com excepção do primeiro em que esteve o Dr. Ângelo Alves. Naquele tempo, a aldeia chamava-se “Albergaria das Cabras” e a única via de acesso era por uma estrada florestal que vinha de Arouca e terminava junto do Radar da Força Aérea. A partir daí, descia-se por caminhos de cabras. Dormíamos em beliches que montámos num sobrado da maior casa da aldeia: ao todo éramos 27 pessoas. As refeições realizavam-se na escola primária. O Dr. Armindo sempre nos acompanhou nesta aventura própria da juventude. E era ver a sua descontracção nos passeios que dávamos pela serra. A rapaziada ficava feliz quando ele participava nos jogos de futebol. É que ele tinha muito jeito... Nunca interferiu minimamente nas nossas orientações. Os responsáveis éramos nós e nós tínhamos 22 anos…

Na nossa conversa do dia 24, ele relembrou os pormenores que acompanhavam o “fazer a barba” na água do rego que “passava atrás da escola”, precisou ele.
Compreendi, então, que quem nos recebera fora o amigo que, sendo bispo, era, antes de tudo, o nosso antigo professor.

Gratidão com gratidão se paga…

Dr. Armindo, quando no final da “Vigília de Oração” no dia 29 de Setembro, me aproximei do seu caixão pousado no chão da capela-mor da Sé Catedral, veio-me à mente a frase ”Assim, passa a glória do mundo”. Mas logo acrescentei, para mim não é a glória do mundo mas a glória do Professor e do Amigo. E essa não passa. A sua presença física já não está entre nós. Mas, como “creio na Comunhão dos Santos”, sei que continua connosco. E permanecerá na nossa memória. Guardarei para sempre o seu último sorriso quando eu, ao despedir-me, lhe repeti o que costumo dizer a todos os meus professores:”Por favor, viva por muitos anos, porque enquanto os meus professores forem vivos, eu não envelhecerei e serei sempre um dos vossos meninos”. Que bom é ter memória!...E memórias para evocar! Como dizia minha mãe, “só peço a Deus que me dê juizinho até à hora da morte”.

Dr. Armindo, levou consigo o bem que nos fez e connosco ficou a memória e a saudade. Consola-nos a Fé na Ressurreição.