O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, setembro 21, 2016

"TRANSMITIR A FÉ


 



Aconteceu neste verão. Avós e neto deliciavam-se a apreciar um gelado e o neto falava do passeio que, com os pais, acabava de fazer à Madeira. – Sabes, avô, a casa da Lu (é uma amiga dos pais que aí visitaram) tem uma capela. – E tu foste vê-la? – Perguntou a avó. - Sim. – E rezaste por nós? – Foi lá a missa pela mãe da Lu. E eu rezei pela minha família, pelos meus amigos da escolinha e até pelos amigos que vou ter na primária. Sabes, o pai disse-me que Jesus mora no meu coração. Posteriormente, a mãe contou que todos ficaram admirados com o seu entusiasmo:  - Foi quem rezou mais alto o Pai-Nosso.

Esta conversa trouxe-me ao pensamento A Alegria do Amor onde o papa Francisco aborda, ao longo de quatro números, o papel da família na transmissão da fé.

No n. 287, escreve “ A educação dos filhos deve estar marcada por um percurso de transmissão da fé, que se vê dificultado pelo estilo de vida atual. (…) Apesar disso, a família deve continuar a ser lugar onde se ensina a perceber as razões e a beleza da fé, a rezar e a servir o próximo. Isto começa no batismo, onde – como dizia Santo Agostinho – as mães que levam os filhos «cooperam no parto santo». Depois tem início o percurso de crescimento desta vida nova. A fé é dom de Deus (…); mas os pais são instrumentos de Deus para a sua maturação e desenvolvimento. Por isso, «é bonito quando as mães ensinam os filhos pequenos a enviar um beijo a Jesus ou a Nossa Senhora. Quanta ternura há nisto! Naquele momento, o coração das crianças transforma-se em lugar de oração».

No número seguinte, elucida os pais sobre a pedagogia a seguir: “A educação na fé sabe adaptar-se a cada filho, porque os recursos aprendidos ou as receitas às vezes não funcionam. As crianças precisam de símbolos, gestos, narrações. Os adolescentes habitualmente entram em crise com a autoridade e com as normas, pelo que é conveniente estimular as suas experiências pessoais de fé e oferecer-lhes testemunhos luminosos que se imponham simplesmente pela sua beleza”.

No n. 289, fala do papel evangelizador da família. “O exercício de transmitir aos filhos a fé, no sentido de facilitar a sua expressão e crescimento, permite que a família se torne evangelizadora e, espontaneamente, comece a transmiti-la a todos os que se aproximam dela e mesmo fora do próprio ambiente familiar”.

E por último, abre a família a novos horizontes: “A família torna-se sujeito da ação pastoral, através do anúncio explícito do Evangelho e do legado de múltiplas formas de testemunho, nomeadamente a solidariedade com os pobres, a abertura à diversidade das pessoas, a salvaguarda da criação, a solidariedade moral e material para com as outras famílias (…), o empenho na promoção do bem comum”.

Ensinamentos que merecem ser meditados na sua versão integral.
(21-9-2016)

 

quarta-feira, setembro 14, 2016

DE QUEM ESTOU A FALAR?


 

Foi no mês de março. Estava a almoçar num restaurante em Pavia, no Alto Alentejo, quando entraram dois casais e um menino – ouvi chamar-lhe Francisco - que brincava com o avô. Esta coincidência despertou a minha atenção e então reparei que o avô era uma pessoa bem conhecida. No final, dirigi-me à sua mesa e disse-lhes: - “Peço desculpa. Nunca interrompi uma figura pública quando está em família, mas hoje fiz uma exceção para agradecer a este senhor. E não o faço por ser o «Engenheiro do Penta» do Porto nem pela boa campanha que a seleção nacional tem feito sob o seu comando. Faço-o porque várias vezes me cruzei com ele na igreja das Antas no Porto”. Então, ergueu a cabeça e olhou para mim. E continuei: “Faço-o porque, numa época, em que alguns «fazedores de opinião» não-crentes sentem gozo em o publicitar e os cristãos se escondem num público silêncio, este senhor tem a coragem de afirmar a sua Fé. Como cristão, não podia deixar passar esta oportunidade sem lhe manifestar a minha gratidão”. E acrescentei: “ O culpado foi o vosso neto que tantas vezes chamou pelo avô. Os netos são o rebuçado com que Deus nos adoça a vida”. Sorriu e pediu-me para repetir esta frase à sua esposa que entretanto chegou à mesa. Os dois beijaram o neto. E agradeceram.
 

No final do Campeonato Europeu de Futebol, o mesmo senhor iniciou a conferência de imprensa lendo uma carta que levava escrita. Começava assim: “Em primeiro lugar e acima de tudo, quero agradecer a Deus Pai por este momento e tudo aquilo da minha vida”. E terminava com estas palavras:Por último, mas em primeiro, ir falar com o meu maior amigo e sua mãe. Dedicar-Lhe esta conquista e agradecer-Lhe por ter sido convocado e por me conceder o dom da sabedoria, perseverança e humildade para guiar esta equipa e Ele a ter iluminado e guiado. Espero e desejo que seja para glória do Seu nome".

No dia 25 de agosto, a “Sábado” ilustrava a primeira página com a sua fotografia e anunciava: “A Primeira grande entrevista depois do Euro - «Foi Cristo que mudou a minha vida». O entrevistador esclarecia: “É uma conversa com um homem que tem a fé no centro da sua vida e se empenha para a pôr ao serviço dos outros todos os dias”. E acrescentava: “Foi o primeiro a levar a seleção nacional a um título, mas nem esse feito se compara ao impacto que a sua vida sofreu quando assumiu o compromisso com Cristo. Desde então empenha-se em evangelizar, sem impor nada a ninguém mas também sem disfarçar a relação intensa com a fé. “ - “Uma das minhas vocações é evangelizar”- é o título da entrevista que se desenrola ao longo de nove páginas. Vale a pena ser lida. Só uma ponta do véu…: ”Descobri que Cristo está vivo. Essa a grande revelação.”

Certamente, já se aperceberam de quem estive a falar...

(
14-9-2016)