SANTO NA MILÍCIA
O segundo livro que me acompanhou na romagem a
Cernache do Bonjardim foi “O
Concreto da Paz Só com Justiça”, de Januário Torgal Ferreira, que nos oferece
um capítulo com reflexões “Para a interpretação de um combatente, D. Nuno
Álvares Pereira”.
Na quinta do Seminário das Missões, ergue-se um
pequeno monumento com a imagem do «Santo Condestável» e a inscrição “Local em
que existiram os Paços do Bomjardim - Solar da Família de Nuno Álvares Pereira
que aqui nasceu em 24 de Junho de 1360”.
O capítulo supramencionado abre com interrogações
deixadas por D. António. “Mas que significado único representou para Portugal o
grande D. Nuno Álvares Pereira? Foi só Aljubarrota? Foram os desígnios
práticos, sempre repetidos, que o inspiraram? Não havia um projeto reformista,
uma superior escala de valores, um desígnio nacional em ordem a libertar-nos de
limites e protocolos de interesses e conveniências? Não havia nada de superior
na defesa da Pátria e na distribuição respeitadora de poderes, enquanto serviço
igual, fraterno e ético, do ponto de vista político?”
Após breves considerações, o autor afirma: “A
cultura de cidadania e os critérios cristãos brilharam em condições laicas,
onde a defesa da independência representou a luta pela liberdade e dignidade de
seus iguais, e não a revelação da Pátria com absoluto de propriedade privada, e
onde a distribuição dos bens pessoais aos «companheiros de armas» teve o significado
da promoção de gente anónima, em contraponto com a fidalguia e os burgueses
cúmplices com Castela… E evidentes foram a ética e o direito, enquanto valores
com peso bem mais decisivo que a estratégia das armas.”
E, em síntese, conclui… “ O seu génio não foi apenas
guerreiro e a sua santidade não foi exclusivamente monástica, sem esquecer a
sombra a que foi votado o homem da cultura política, onde os imperativos da
ética social apontaram caminhos da história e da identidade portuguesa.”
Depois de afirmar que “ser santo é o mais normal: o
seu primeiro «altar» é a condição de habitante do mundo, dele sendo
protagonista enquanto construtor de uma história muitíssimo mais justa e
solidária”, D. Januário qualifica São Nuno de Santa Maria como “Santo na milícia”
e “ Profeta da mudança ético-política”.
E termina com uma pergunta: -“Um santo em conflitos
bélicos e em escaramuças políticas?” A que logo responde: “Os santos descem aos
infernos de toda a ordem na habitualidade existencial da desordem. Por isso o
são, ou seja, santos!”
Na Exortação Apostólica “Alegrai-vos e Exultai” o
Papa Francisco diz: “Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e
oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se
encontra”.
Como escreveu Tolentino de Mendonça: “A flor do mundo é a santidade. ”
Um Santo Natal para todos!
( 19/12/218)