UM MOTIM ESCOLAR EM 1911
Em outubro, visitei terras que foram atormentadas
pelos incêndios do ano passado. Acompanhavam-me dois livros de amigos. O
primeiro - “Um erro de Afonso Costa” -
lembrei-o quando, ao visitar o Seminário das Missões em Cernache do Bonjardim,
a nossa guia, D. Benilde, denunciou o mal que os “republicanos maçónicos” lhe
fizeram
Na entrada do atual Seminário, há dois painéis de
azulejos que evocam a memória de D. António Barroso.
D. António ingressou nesse Colégio em 1873. Ordenado
em 1879, partiu, de seguida, para Angola. Voltou, em 8/3/ 1911, para nele
cumprir o exílio a que fora condenado. Mas só aí viveu durante um mês porque
uma sublevação dos alunos aconselhou a sua saída.
Sempre me questionei sobre esse motim escolar. No
livro em análise, o autor, Amadeu Gomes de Araújo, deu-me a resposta: “Houve
quem defendesse que a propalada «revolta dos alunos» não foi mais que uma
encenação manobrada do exterior. Afirma-se até que tudo não terá passado de uma
«golpada»”. Por detrás, terá estado o Dr. Abílio Marçal, antigo aluno do CMU e
comparsa de Afonso Costa. Afirma-o o P. Manuel Castro Afonso para quem o “mito
da sublevação dos alunos” foi sua criação. E confirma-o o responsável pelo
“acerbo documental legado pelo CMU”, Castro Afonso, que concorda com o
testemunho do “então pároco de Cernache do Bonjardim, P. José Adriano, que
apontava o Dr. Abílio Marçal como o instigador. E o próprio Dr. Abílio confessa
que foi ele que apoiou a revolta dos colegiais”.
Era enorme o prestígio de D. António… O mesmo Dr.
Abílio, para justificar as suas teorias sobre as missões, invocava seu nome:
”Assim pensa e escreve o distinto missionário padre Barroso”. Afonso Costa,
para mostrar a sua estima pelo Colégio, apresentava o facto de lhe ter confiado
“a guarda e vigilância do Bispo do Porto”. E “os estudantes, há muito
descontentes com o Superior, aguardaram apenas, para se manifestar, a sahída do
sr. D. António Barroso, a quem pelo respeito que lhes merece o seu carácter,
não queriam desgostar”.
No prefácio, o Dr. Mário Soares – seu pai, João
Lopes Soares (1878-1970), foi Ministro das Colónias em 1919 - explica-nos o
erro de Afonso Costa que “transformou o Colégio das Missões Ultramarinas num centro
laico, e, paralelamente converteu as Missões religiosas do padroado, em Missões
civilizadoras laicas”. E confessa: “A Primeira República, em parte caiu, pelo
conflito entre a República e a Igreja Católica. Depois do 25 de Abril, quando
regressei do meu exílio em França, trazia uma ideia na cabeça: não repetir a
luta entre o Estado Laico e a Igreja Católica. E assim actuei sempre, como a
Igreja Portuguesa sabe bem – e o Vaticano - desde que tive responsabilidades no
Portugal e Abril, apesar de não ser religioso, como se sabe”.
Como é bom conhecer a História e aprender as suas
lições…
( 5/12/2018)
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