COERÊNCIA EXEMPLAR
Mão amiga fez-me chegar o livro “Critérios para uma vida coerente” que
diz:
“É a nossa vocação de humanos, a nível pessoal e colectivo, buscar as razões
de ser e de bem viver. E, desde que há gente, a fundamental preocupação foi,
após o espanto pela observação da harmonia cósmica, tentar perceber o porquê da
sua regularidade, a respectiva causalidade e finalidade. E do cosmocentrismo
passou-se para o antropocentrismo em busca de decifrar o enigma que somos, a
complexidade da relação cognitiva entre o sujeito e o objecto, assim como a
diversidade opinativa sobre quem somos, donde vimos e como planear e construir
a história com ética e estética, buscando a unidade no essencial, no respeito
pela diversidade cultural, religiosa e política, sempre a caminho da possível
convergência.”
Quando me deliciava com este “novo presente da
ternura de Deus “, como diz Luísa Maria na dedicatória, li na crónica de Francisco
Seixas da Costa (JN, 3/8/2018):
“A ocasião era triste. As
palavras do sacerdote, ditas na circunstância, não tinham gongorismos.
Encerravam a simplicidade das coisas bem ditas, porque bem pensadas, sem a
menor teatralidade”
Para enfatizar, informava: “Como vivo essas
cerimónias «de fora», sem a menor sensibilidade à dimensão religiosa do ato,
procuro isolar a parte da mensagem que resulta universal a crentes e não
crentes”. E acrescenta: “Às vezes, confesso, passo por imensas «estopadas», que
aturo com paciência protocolar. Porém, em outras circunstâncias, dou o tempo
por bem empregue. Foi o que agora aconteceu. O sacerdote falava do caráter
«democrático» da vida. O discurso era feito de expressões comuns, não trazia
preso a ele nenhum determinismo, eram palavras abertas para pessoas livres, a
quem apenas – o que não é pouco - se pedia sentido de responsabilidade na
relação com os outros”.
Depois de explicar como havia conhecido esse
presbítero, confessa: ”Admirei-lhe a cultura sem alardes, o humor e o espírito
fino de ironia consigo mesmo, a postura de quem se olhava sem magnificar o seu
papel - e tenho visto como a sua figura é, afinal, tão importante para muitos”
E comenta: “Percebemo-nos desde o primeiro instante, desenhando com facilidade
o terreno que nos era comum, que afinal era imenso. Criámos amizade.”
Que elos ligam estes dois textos? Coincidência (ou
não), o sacerdote de que fala a crónica é o autor do livro. Mostram a coerência
entre o que ensina e o que pratica. Mestre na palavra e exemplo na vida, pode,
contrariando a máxima de “frei Tomás”, afirmar: “Olha para o que eu faço e
certificarás o que eu digo”. Isto é coerência…
E quem é esse presbítero? O cronista identifica-o:
“Gostei muito das palavras do meu amigo frei Bernardo Domingues.”
Como é bom ver elogiado alguém que nos habituámos a
admirar…
(17/10/2018)
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