SUBSÍDIOS PARA OS DIAS DE HOJE
Ao
iniciar-se um novo ano letivo, faço-me eco de alguns desafios que Clóvis de
Barros Filho, professor de Ética na Universidade de S. Paulo - «o filósofo da felicidade»
- nos deixou aquando da sua passagem pelo Porto em março passado. Depois duma
conferência no dia 14, o Jornal de Notícias publicou, no dia 19, uma entrevista
de que, com vénia, respiguei algumas das ideias que suscitaram a minha
reflexão.
Face
à pergunta “Os limites do corpo são mais fáceis de superar que os da mente?”,
responde: “Vivemos numa época em que a sobrevalorização da estética se tornou
escravizante. É urgente introduzir um pouco mais de inteligência, de subtileza,
de delicadeza”. E acrescenta: “Os meios de comunicação, turbinados pelas redes
sociais, consagram modelos tirânicos que inviabilizam a felicidade daqueles que
buscam uma aproximação que nunca conseguirão”.
-
“Estamos escravos de estereótipos?” Eis a resposta: -“É difícil não estar. Para
onde quer que olhemos, encontramos um aviso de como deveríamos ser para sermos
belos”.
-
Sobre o papel das escolas, comenta “A escola é um espaço de preparação. Mas
hoje ela encara a vida vindoura como sendo o momento de maior valor. Os professores
vendem a vida que é, por uma vida que não é ainda, ou que talvez não seja
nunca. Perdem a oportunidade de mostrar aos alunos que a escola é um espaço de
livre pensamento e que nunca mais será possível fora dali. É a
instrumentalização da educação.” E profetiza, com mágoa: ”Teremos uma sociedade
acrítica porque os alunos foram impedidos de aprender a refletir criticamente”.
-
“A perda de importância da religião na sociedade influi no desinteresse
crescente pelo bem comum?” A sua resposta surge sem hesitações: -”Não tenho
dúvidas”. E logo continua: “Mas a família também se acobardou na educação dos
filhos. Quer apenas compensá-los da ausência dos pais a qualquer preço.
Educação implica, muitas vezes, dor, mão firme, autoridade legítima. Implica um
redirecionamento das energias vitais que espontaneamente os filhos não têm”. E
conclui: “A escola, por sua vez, tornou-se um espaço de clientes. Onde existe
relação de clientela não há educação”.
-
“É por essa ausência de hierarquia que muitos pais se sentem muitas vezes
impotentes para ensinar os filhos a serem felizes?”A resposta é clara: ”Muitas
vezes, essa sensação de impotência abriga o comodismo, a preguiça. Ou mesmo a
cobardia. A educação foi terceirizada pelas demandas cada vez maiores do mundo
profissional. Sem educação, vamos ter gerações inteiras ao sabor dos apetites.
A civilização é um espaço de reorganização das pulsões” E termina questionando:
“ Se isso não é ensinado, por que razão esperar que alguém saiba lidar com os
seus anseios ou as suas expectativas, em nome de valores e do bem-estar do
outro?”
Tecnologias
sim, mas ao serviço duma inteligência reflexiva, crítica e dialogante…
(19/9/2018)
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