O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, setembro 19, 2018

SUBSÍDIOS PARA OS DIAS DE HOJE


 

Ao iniciar-se um novo ano letivo, faço-me eco de alguns desafios que Clóvis de Barros Filho, professor de Ética na Universidade de S. Paulo - «o filósofo da felicidade» - nos deixou aquando da sua passagem pelo Porto em março passado. Depois duma conferência no dia 14, o Jornal de Notícias publicou, no dia 19, uma entrevista de que, com vénia, respiguei algumas das ideias que suscitaram a minha reflexão.

Face à pergunta “Os limites do corpo são mais fáceis de superar que os da mente?”, responde: “Vivemos numa época em que a sobrevalorização da estética se tornou escravizante. É urgente introduzir um pouco mais de inteligência, de subtileza, de delicadeza”. E acrescenta: “Os meios de comunicação, turbinados pelas redes sociais, consagram modelos tirânicos que inviabilizam a felicidade daqueles que buscam uma aproximação que nunca conseguirão”.

- “Estamos escravos de estereótipos?” Eis a resposta: -“É difícil não estar. Para onde quer que olhemos, encontramos um aviso de como deveríamos ser para sermos belos”.

- Sobre o papel das escolas, comenta “A escola é um espaço de preparação. Mas hoje ela encara a vida vindoura como sendo o momento de maior valor. Os professores vendem a vida que é, por uma vida que não é ainda, ou que talvez não seja nunca. Perdem a oportunidade de mostrar aos alunos que a escola é um espaço de livre pensamento e que nunca mais será possível fora dali. É a instrumentalização da educação.” E profetiza, com mágoa: ”Teremos uma sociedade acrítica porque os alunos foram impedidos de aprender a refletir criticamente”.

- “A perda de importância da religião na sociedade influi no desinteresse crescente pelo bem comum?” A sua resposta surge sem hesitações: -”Não tenho dúvidas”. E logo continua: “Mas a família também se acobardou na educação dos filhos. Quer apenas compensá-los da ausência dos pais a qualquer preço. Educação implica, muitas vezes, dor, mão firme, autoridade legítima. Implica um redirecionamento das energias vitais que espontaneamente os filhos não têm”. E conclui: “A escola, por sua vez, tornou-se um espaço de clientes. Onde existe relação de clientela não há educação”.

- “É por essa ausência de hierarquia que muitos pais se sentem muitas vezes impotentes para ensinar os filhos a serem felizes?”A resposta é clara: ”Muitas vezes, essa sensação de impotência abriga o comodismo, a preguiça. Ou mesmo a cobardia. A educação foi terceirizada pelas demandas cada vez maiores do mundo profissional. Sem educação, vamos ter gerações inteiras ao sabor dos apetites. A civilização é um espaço de reorganização das pulsões” E termina questionando: “ Se isso não é ensinado, por que razão esperar que alguém saiba lidar com os seus anseios ou as suas expectativas, em nome de valores e do bem-estar do outro?”

Tecnologias sim, mas ao serviço duma inteligência reflexiva, crítica e dialogante…

(19/9/2018)