LEGALIDADE E LEGITIMIDADE
Eutanásia e Cuidados Paliativos
Não deixa de ser imoral que um administrador
bancário receba uma pensão de 167 mil euros mensais, só porque o Tribunal da
Relação lhe reconheceu esse direito. E a Igreja não pode calar-se. O aborto não
se legitimou quando passou a ser permitido em Portugal. Assim também a
eutanásia não se tornaria lícita só por ser legalizada. Legalidade e
legitimidade não se identificam nem se confundem.
Ética e Direito, embora conexos, situam-se em
patamares diferentes. A ética indica preceitos ideais que visam promover o bem
e determinam as condutas legítimas. Indicia o que, em consciência, se deve ou
não fazer. Está conectada com legitimidade, licitude, dignidade. Por sua vez, o
direito positivo estabelece normas jurídicas, leis, que regulam a convivência
social. Diz o que se pode ou não fazer numa sociedade. Está conectado com
legalidade.
A Igreja – “Ide e ensinai.(Mt 28,19)” – porque atua
no plano ético, diz: “O direito à vida é indisponível. Não pode justificar-se a
morte de uma pessoa com o consentimento desta. O homicídio não deixa de ser
homicídio por ser consentido pela vítima”. E acrescenta: “A dignidade de uma
pessoa não se mede pela sua utilidade para a sociedade, nem diminui com o
sofrimento ou a proximidade da morte. A vida não pode ser concebida como um
objeto de uso privado. Não está de forma incondicional à disposição do seu
proprietário”. A liberdade individual não é um valor absoluto. A vida, sim. Daí
a «abolição da pena de morte». Portugal foi o primeiro a decretá-la em 1867.
O Estado age no plano do direito que deve
concretizar os princípios de ordem ética que o legitimam. Não é por acaso que o
artigo 24 da Constituição de 1976 afirma sem subterfúgios: “A vida humana é
inviolável”. Os deputados constituintes tinham ainda na sua memória próxima os
campos de concentração nazis e os gulagues soviéticos, bem como o Tarrafal – “O
campo da morte lenta” - onde alguns tinham penado. Temiam fissuras no dique da
vida. Sabiam que as brechas uma vez abertas…
Mas viver humanamente é viver e morrer com
dignidade. Daí a exigência dos cuidados paliativos que a Igreja defende. E o
que faz o Poder Político? ”Entre 69 a 82% dos doentes que morrem no nosso país
necessitam de cuidados paliativos. Mas mais de 80% não os têm porque as
respostas são insuficientes. E mais de 70 mil doentes continuam sem acesso a
esses cuidados” (JN, 22/5/2018). É
indigno e injusto. A Igreja, por exigência da sua missão profética, tem de o
denunciar.
Não quero terminar sem manifestar o meu
reconhecimento aos profissionais dos Cuidados Paliativos do IPO do Porto onde
nosso filho José, apesar da violência do sarcoma de Ewing que, aos 29 anos, o
vitimou, viveu, sereno e sem sofrimento, a sua fase final. Deus o tenha na Sua
glória. (20/6/2018)
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