O BOM SENSO
A
celebração do “Dia Mundial das Comunicações Sociais” fez-me recordar a homilia
que, há tempos, ouvi na igreja de Santo Ildefonso em Madrid. O celebrante começou
por perguntar às crianças: - “Quais os sentidos que conheceis”. E elas lá foram
dizendo: visão, audição, tato, gosto, olfato. – “Falta um, continuou o
sacerdote, falta o sexto que é o «bom senso» e que muita falta faz…”
E
o que é o bom senso?
O
filósofo R. Descartes, na introdução ao “Discurso do Método”, escreveu:
“O bom senso é a coisa do mundo melhor partilhada, pois
cada qual pensa estar tão bem provido dele, que mesmo os que são mais difíceis de
contentar em qualquer outra coisa não costumam desejar tê-lo mais do que o têm.
(…) O poder de julgar de forma correta e discernir entre o verdadeiro e o falso, que
é justamente o que é denominado bom senso.” O bom senso radica na
capacidade de se assumir uma posição reflexiva face aos problemas que levará a
bem julgar.
Já o teólogo Leonardo Boff escreveu:
“O Papa Francisco
revoluciona o pensamento da Igreja remetendo-se à prática do Jesus histórico.
Ela resgata o que hodiernamente se chama “a Tradição de Jesus”.
O que mais ressalta em Jesus
é o bom-senso. Dizemos que alguém tem bom senso quando para cada situação tem a
palavra certa, o comportamento adequado e quando atina logo com o cerne da
questão. O bom-senso
está ligado à sabedoria concreta da vida. É distinguir o essencial do
secundário. É a capacidade de ver e de colocar as coisas em seu devido lugar. O
bom-senso é o oposto ao exagero. Por isso, o louco e o gênio que em muitos
pontos se aproximam, aqui se distinguem fundamentalmente. O gênio é aquele que
radicaliza o bom-senso. O louco, radicaliza o exagero.
Jesus evidenciou-se como um
gênio do bom-senso. Um frescor sem analogias perpassa
tudo o que diz e faz. Deus em sua bondade, o ser humano com sua fragilidade, a
sociedade com suas contradições e a natureza com seu esplendor comparecem numa
imediatez cristalina. Não faz teologia. Nem apela para princípios morais
superiores. Nem se perde numa casuística tediosa e sem coração. Suas palavras e atitudes mordem em cheio no concreto onde a realidade sangra é levada
a tomar uma decisão diante de si mesmo e de Deus.
Esse bom-senso
tem faltado à Igreja institucional (Papas, bispos e padres), não à Igreja da
base, especialmente em questões morais. Aqui é severa e implacável. Sacrifica
as pessoas em sua dor aos princípios abstratos. Rege-se antes pelo poder do que
pela misericórdia.
Como é diferente o Papa Francisco…”
Se Descartes valoriza o
pensar, L. Boff acentua o agir segundo a “Tradição de Jesus”
Termino com uma afirmação
que vem do século XVII: “ Raramente atribuímos o bom senso aos outros, a não
ser àqueles que estão de acordo connosco”.
Quão necessário ele é em
nossos dias…
(24/5/2018)
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