O SEMINÁRIO DO PORTO E S. TOMÁS DE AQUINO
Há dias,
ao revisitar velhas prateleiras, deparei-me com o suplemento dominical «Letras
e Artes» do jornal “Novidades”, de 8 de Março de 1959, - fez 59 anos - que
abria com a seguinte nota:
“O nosso número de hoje, dedicado a S. Tomás, foi organizado, como nos anos anteriores, por alunos do curso de Filosofia do Seminário Maior do Porto.”
Lembro que a festa litúrgica de S. Tomás celebrava-se, então, no dia 7 de março.
“O nosso número de hoje, dedicado a S. Tomás, foi organizado, como nos anos anteriores, por alunos do curso de Filosofia do Seminário Maior do Porto.”
Lembro que a festa litúrgica de S. Tomás celebrava-se, então, no dia 7 de março.
Nesse
ano, o reitor, Dr. Domingos de Pinho Brandão, convidou pessoalmente três alunos
do 3º ano de filosofia.
Manuel
Correia Fernandes inicia a sua dissertação sobre «Cristianismo e Filosofia até
S. Tomás de Aquino», dizendo: “O aparecimento do cristianismo, no meio de
heterogéneas concepções políticas, sociais e morais, e sobretudo no meio de um
sincretismo religioso e de ecletismo intelectual da Roma pagã, marca, sem
dúvida, o mais importante momento da História da Humanidade. A sua expansão,
obra heroica de sacrifícios de Apóstolos, obra realizada à custa do sangue de
mártires, veio provocar, na efervescência do Mundo romano, uma profunda
modificação no campo filosófico e cultural”. Depois de um longo e aprofundado
articulado, conclui: “A doutrina de S. Tomás é de um equilíbrio admirável, como
todo o sistema tomista: vemos nela a realização de um ponderado meio-termo
entre dois exageros: o misticismo agostiniano e o racionalismo averroísta”.
Já Joaquim Carneiro Dias, de saudosa memória,
abordou a “Teoria do Conhecimento” com o texto «Do Valor da Inteligência».
Depois de esclarecer os leitores sobre a complexidade do tema e circunscrever o
âmbito da sua análise, afirma: “Importa colocar S. Tomás como mestre
inconfundível da verdade porque só ele libertou e restaurou a inteligência,
atribuindo-lhe o papel que realmente desempenha na vida”. E afirma, perentório:
“S. Tomás é, por excelência, o filósofo da inteligência e, na frase de
Maritain, se a inteligência não for salva, nada será salvo”.
Eu, por
sugestão do Dr. Ângelo Alves, nosso professor de Filosofia, aventurei-me pelos
caminhos da Metafísica, com «Mudanças Substanciais e Hilemorfismo». Depois de
situar a problemática subjacente ao tema, descrevo as “soluções do problema das
mudanças na filosofia helénica”, desde Parménides a Aristóteles, passando por
Heráclito e Demócrito. E analiso, à luz dos dados científicos então conhecidos,
a “realidade das mudanças substanciais” nos “corpos orgânicos e inorgânicos”,
demorando-me nos “corpúsculos infra-atómicos”. E concluo: ”Se bem que o
argumento das mudanças substanciais, defendido por S. Tomás, fosse posto em
dúvida por alguns filósofos, podemos asseverar, com os melhores autores, ser
ele, nas circunstâncias presentes, a melhor prova a favor do hilemorfismo.”
O
Seminário do Porto era alfobre de cultura e escola de grande prestígio.
(21/3/2018)
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