O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, fevereiro 07, 2018

UMA BÊNÇÃO DO CÉU...


Foi na “Noite de Natal”. Cumprindo a tradição, a família reuniu-se para a Ceia. Próximo da meia-noite, a emoção e o entusiasmo encheram a sala. O neto mais velho, de sete anos, lia os nomes das prendas enquanto a mais pequenina, de três, se encarregava de as entregar. A última prenda era um pequenino volume com a indicação, “Para toda a família”. Escondia uma chupeta. Fez-se silêncio… Os adultos rapidamente compreenderam a mensagem e sorriram. Deram parabéns aos pais que, com esta surpresa, quiseram celebrar, de modo tão significativo, este Natal. O menino, ao aperceber-se, levantou-se e foi dar um beijo à mãe. A pequenita, ao ver a alegria que a rodeava, subiu para uma cadeira e ordenou: ”Batam palmas!”. Houve festa. Aconteceu Natal…

Passados uns dias, no aniversário do casamento, os pais trouxeram nova surpresa. Nessa semana, a ecografia revelara que, afinal, eram dois os bebés que cresciam no ventre da mãe. E, com sorriso nos olhos, acrescentaram: “Sempre desejamos ter mais um filho. Planeámos tudo para o receber. Mas não contávamos com esta generosidade de Deus. Não é que já não o tivéssemos admitido, mas não passava duma simples hipótese. Damos graças a Deus e pedimos a vossa ajuda. Com quatro crianças, bem vamos precisar…” Os avós, surpreendidos e felizes, comentaram: ”São mais dois rebuçados a adoçar-nos a vida, mais duas «estrelinhas» a iluminar-nos o caminho”. E prometeram o seu apoio.

 Passados uns dias, uma amiga, recém-chegada de Luanda, deu-lhes os parabéns redobrados porque, disse, na sua cultura, os gémeos são vistos como um dom especial de Deus, são uma bênção do Céu.

E a pergunta surge. Poderemos continuar a falar de Deus quando a ciência nos esclarece que a conceção se dá no momento em que o espermatozoide fecunda o óvulo e que o ovo original, uma célula única, se divide em duas novas células e cada uma destas noutras duas e assim sucessivamente até se formar a totalidade do organismo?

Podemos e devemos. A ciência limita-se a explicar o “como” dos fenómenos mas não atinge os porquês. E as perguntas permanecem. A quem se deve a vida que anima as células germinais? E a consciência - o “terceiro infinito”, o “infinito em complexidade” de que fala Teilhard Chardin - que irá fazer daqueles seres em botão pessoas únicas e originais?

Se os progenitores fossem os senhores da vida não haveria filho que morresse enquanto eles fossem vivos. A morte dum filho é, para os pais, a mais dolorosa experiência da sua própria finitude…

A quem se deve, então, a vida? Á natureza? Ao acaso? Eu faço minha a resposta de D. António Francisco: “Sempre que uma vida nasce há razão para celebrarmos a surpresa e a bênção do dom do amor de Deus, que essa vida significa.” (7/2/2018)