UMA BÊNÇÃO DO CÉU...
Foi na “Noite de Natal”. Cumprindo a tradição, a
família reuniu-se para a Ceia. Próximo da meia-noite, a emoção e o entusiasmo encheram
a sala. O neto mais velho, de sete anos, lia os nomes das prendas enquanto a
mais pequenina, de três, se encarregava de as entregar. A última prenda era um
pequenino volume com a indicação, “Para toda a família”. Escondia uma chupeta.
Fez-se silêncio… Os adultos rapidamente compreenderam a mensagem e sorriram.
Deram parabéns aos pais que, com esta surpresa, quiseram celebrar, de modo tão
significativo, este Natal. O menino, ao aperceber-se, levantou-se e foi dar um
beijo à mãe. A pequenita, ao ver a alegria que a rodeava, subiu para uma
cadeira e ordenou: ”Batam palmas!”. Houve festa. Aconteceu Natal…
Passados uns dias, no aniversário do casamento, os
pais trouxeram nova surpresa. Nessa semana, a ecografia revelara que, afinal,
eram dois os bebés que cresciam no ventre da mãe. E, com sorriso nos olhos,
acrescentaram: “Sempre desejamos ter mais um filho. Planeámos tudo para o
receber. Mas não contávamos com esta generosidade de Deus. Não é que já não o
tivéssemos admitido, mas não passava duma simples hipótese. Damos graças a Deus
e pedimos a vossa ajuda. Com quatro crianças, bem vamos precisar…” Os avós,
surpreendidos e felizes, comentaram: ”São mais dois rebuçados a adoçar-nos a
vida, mais duas «estrelinhas» a iluminar-nos o caminho”. E prometeram o seu
apoio.
Passados uns
dias, uma amiga, recém-chegada de Luanda, deu-lhes os parabéns redobrados
porque, disse, na sua cultura, os gémeos são vistos como um dom especial de
Deus, são uma bênção do Céu.
E a pergunta surge. Poderemos continuar a falar de Deus
quando a ciência nos esclarece que a conceção se dá no momento em que o
espermatozoide fecunda o óvulo e que o ovo original, uma célula única, se
divide em duas novas células e cada uma destas noutras duas e assim
sucessivamente até se formar a totalidade do organismo?
Podemos e devemos. A ciência limita-se a explicar o
“como” dos fenómenos mas não atinge os porquês. E as perguntas permanecem. A
quem se deve a vida que anima as células germinais? E a consciência - o
“terceiro infinito”, o “infinito em complexidade” de que fala Teilhard Chardin
- que irá fazer daqueles seres em botão pessoas únicas e originais?
Se os progenitores fossem os senhores da vida não
haveria filho que morresse enquanto eles fossem vivos. A morte dum filho é,
para os pais, a mais dolorosa experiência da sua própria finitude…
A quem se deve, então, a vida? Á natureza? Ao acaso?
Eu faço minha a resposta de D. António Francisco: “Sempre que uma vida nasce há razão para celebrarmos a surpresa e a bênção
do dom do amor de Deus, que essa vida significa.” (7/2/2018)
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