Memória
e Gratidão (I)
Um mês é passado. Mas os ecos da morte de D.
Manuel Martins continuam. Este chegou-me de Itália através dum email que me foi
enviado da Galiza. O original poderá ser lido em www.settimananews.it/profili/portogallo-morto-vescovo-rossona.
Francesco
Strazzari começa por dar a notícia: “No passado dia 24 de Setembro, faleceu na
cidade da Maia, arredores do Porto, o Bispo Dom Manuel Martins.” E acrescenta
em nota pessoal:
“A última vez que eu estivera com ele
foi a meados de Agosto. Conhecia Dom Manuel Martins desde os anos 80, quando
ele era Bispo de Setúbal: foi o primeiro Bispo daquela Diocese populosa e
«vermelha», lá na margem sul do Tejo, acabada de destacar do Patriarcado de
Lisboa”.
Depois de informar que aí nem todos
receberam bem o bispo que “provinha do norte de Portugal, região rica, burguesa
e tradicionalista”, esclarece: “ Mas bem depressa se percebeu que Dom Manuel
era de outra têmpera. Não tardou por isso a chamarem-lhe «Bispo Vermelho».
E
conclui: “Não havia no aspeto de Dom Manuel nada de extraordinário, para além
de um olhar de homem muito vivaz e inteligente, numa mistura equilibrada de
racionalidade, fruto dos estudos que cursara, com o sentimento típico das
gentes lusitanas. A casa onde morava era muito simples, mesmo espartana. E
tinha um falar melodioso, doce e convincente.”
Após
esta nótula de quem conhecia bem D. Manuel, enquadra a sua ação no contexto
histórico da Igreja em Portugal, antes e após a «revolução dos cravos» - “A mão
esquerda de Deus”
“Em
25 de Abril de 1974, fora Portugal sacudido pela revolução que Dom Manuel
considerava e dizia ter sido uma bofetada da mão esquerda de Deus. A bofetada
da mão direita de Deus fora o Concílio Vaticano II. Eram os tempos da ditadura
de Salazar. A Igreja oficial dava cobertura ao Regime. O controverso cardeal
patriarca de Lisboa, Gonçalves Cerejeira, não mexeu um dedo quando o bispo do
Porto, Dom António Ferreira Gomes, um homem de vasta cultura filosófica e
teológica, ao regressar do estrangeiro viu fecharem-se lhe as fronteiras. Teve
de vaguear pela Europa ao longo de dez anos, tão somente por ter posto em causa
e em discussão a política ditatorial de Salazar, sobretudo a guerra colonial”.
Comenta:
“A «revolução dos cravos» foi delineando um novo rosto da Igreja portuguesa:
abandonar o modelo clerical e dar mais espaço aos leigos. Estes saíram para a
ribalta e pressionaram a hierarquia a fazer escolhas precisas tanto no campo
económico como no campo social.”
E
deixa um reparo: “Lamentava-se Dom Manuel por essa altura: «A Igreja deve estar
com os homens. Mas não o tem feito suficientemente. Tem ainda muito medo. É
preciso arriscar. A Igreja não vive a pobreza”.
(Continua) (31/10/2017)
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