PACTO SEM COMPROMISSO
PACTO SEM COMPROMISSO
Monumento
comemorativo do Acordo de Belfast em Derry
A celebração dum acordo costuma terminar com um aperto de
mão que sela o compromisso de o cumprir. Não assim no monumento de Londonderry
comemorativo do “Acordo de Belfast” de 1998 - entre o governo britânico e
irlandês- que pôs fim ao conflito que devastou a Irlanda, durante quarenta
anos. Nele, dois homens, hirtos e de rosto fechado, estendem os braços sobre o
fosso que os separa mas as mãos não se tocam nem se cumprimentam… É um acordo
sem compromisso. As bombas calaram-se mas o conflito, que vem de longe, está
lá…
Começou no século XII quando Henrique II de Inglaterra impôs
à Irlanda o domínio inglês. Recrudesceu no século XVI quando a rainha Isabel I
confiscou as terras irlandesas e entregou-as a colonos protestantes idos da
Grã-Bretanha, reduzido à servidão os irlandeses, católicos, cristianizados por
S. Patrício e S. Columbano. E a luta que era entre colonizados (Irlandeses) e
colonizadores (Ingleses) ganhou a roupagem duma guerra de religião entre
católicos e protestantes. Após a “peste da batata” no século XIX, que levou à
morte ou à emigração cerca de 4 000 irlandeses, os protestantes tornaram-se
maioria em seis condados do Ulster.
O conflito ganhou novos contornos quando, em 1948, a
Inglaterra reconheceu a independência da República da Irlanda mas manteve o seu
domínio nos condados onde tinha maioria de votos, criando a Irlanda do Norte.
Os irlandeses revoltaram-se, iniciando um conflito violento que matou 3 000
pessoas. A paz regressou em 1998, mas o fosso permanece. Ainda hoje católicos e
protestantes vivem em bairros diferentes, em alguns casos como vi em Belfast,
separados por muros com portões que se fecham nos momentos mais conturbados, e
as crianças brincam e estudam em escolas e parques separados. Estas feridas são
visíveis no “Memorial do Domingo Sangrento” onde a mão - símbolo do Ulster
agrilhoada por arame farpado - que sustenta a pomba da paz se apoia num bloco
fendido. As feridas continuam abertas e prontas a sangrar…
Memorial do Domingo Sangrento
Nem imagino o que acontecerá se acabar a “fronteira
invisível” que tem vigorado e se impuser uma “fronteira física” entre as duas
Irlandas…Essa a grande preocupação do Reino Unido nas negociações do Brexit.
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