EM LOUVOR DE SANTA JUSTA
Era uma vez um menino da aldeia, o benjamim duma
família de lavradores.
Naquela manhã, não saiu para o campo nem foi tocar os
bois no engenho. Porque era dia de arranque da batata, ficou a ajudar mãe a
fazer o jantar (agora, diz-se almoço). Enquanto ela ia com o caneco à fonte,
ele deveria ir ao quinteiro buscar queirós para atear a fogueira.
Ao descer a escadaria
de granito, sem corrimão, na ânsia de, cá do alto, descobrir as melhores
acendalhas, nem reparou que se abeirava do vão da escada. Caiu desamparado.
Sozinho, arrastou-se até à porta da rua para pedir ajuda. Quando regressou, a
mãe, muito aflita, levou-o ao colo para a cama.
À refeição, ainda se levantou
para ir à mesa comer com os vizinhos que tinham vindo ajudar a família. Mas ninguém
lhe deu grande importância porque, pensavam, tudo não passaria de traquinice
dos 7 anos… Mas, não…
Foi tarde e noite de sofrimento atroz, com fortíssimas
picadelas na barriga.
Na manhã seguinte, o médico, Dr. João Vale, ao vê-lo, chamou
imediatamente a ambulância para o transportar para a Ordem do Carmo onde
operava o bem conhecido cirurgião, Professor Fernando Magano. Este logo diagnosticou
uma rotura do baço. Na queda, ao bater no granito, as costelas flutuantes
perfuraram o baço, o sangue espalhou-se por todo o corpo e já se acumulava na virilha.
A infeção seria rápida e fatal.
Com autorização do pai que assumiu a responsabilidade
pelos custos, foi anestesiado com clorofórmio e sujeito a uma “operação de
barriga aberta”.
Foram quatro dias, com delírios e febres altíssimas, entre a
vida e a morte. Recebeu a “Extrema-Unção”.
Durante esse tempo, sua mãe não mais
abrira as janelas da casa e a chaminé da cozinha não mais deitou fumo… A
vizinhança também chorava e as senhoras faziam promessas. A quem? Naquele
fim-de-semana, celebrava-se a festa de Santa Justa, na capelinha que
branquejava lá longe no cume da serra que tem o seu nome.
E aconteceu…
Na noite
de domingo para 2ª feira, o dia da festa, a febre foi descendo… e, para espanto
de todos, o menino começou a melhorar.
Salvou-se e sem sequelas, até porque o
baço não lhe foi retirado… Este regresso à vida de quem esteve às portas da
morte, foi visto como um milagre de Santa Justa. Por isso, o menino subiu várias
vezes a serra, amortalhado, e acompanhou, de vela acesa na mão, as vizinhas que,
de joelhos, davam as prometidas voltas à capela. Milagre. Da medicina? Do amor
dos pais? Do carinho dos vizinhos? De Santa Justa?
A verdade é que, ainda hoje,
passados mais de 70 anos, aquele menino, sempre que avista a capela, reza a Santa
Justa pelos dois médicos, pelos pais e irmãos e, também, pelos vizinhos. E, na
próxima 2ª feira, irá novamente subir a serra para agradecer a Deus o dom da
vida. (19/7/2017)
1 Comments:
Cloroformio faz unção
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Claudio Elias Do Nascimento 348.438.21 visualizações, at 7:00 da manhã
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