A BONDADE do SILÊNCIO
Ainda há
dias, num programa sobre Fátima, no Porto Canal, onde também participava o
biblista Frei Fernando Ventura, a teóloga Teresa Toldy interrogava-se sobre o
significado do longo silêncio que cerca de um milhão de pessoas observou
enquanto o Papa rezava na “Capelinha das Aparições”. E é de facto de enfatizar
tal atitude quando vemos as assistências dos estádios de futebol preencherem “um
minuto de silêncio” com um “imbecil” bater de palmas… Quando se inaugurou o
metro do Porto, dava gosto aproveitar o
silêncio da manhã para ler ou meditar. Agora, toda a gente fala ao telemóvel como se
estivesse no mais recôndito de suas casas: barafustam, ralham, trocam meiguices,
discutem negócios… Já para não falar daquela jovem com o telemóvel colada à
orelha, enquanto, no carrinho, o seu bebé não parava de chorar… Sentimo-nos,
simultaneamente, intrusos e invadidos…
Mesmo nos locais mais convidativos ao silêncio… Ainda
há dias, numa tranquila manhã de praia, quando o marulhar do mar nos envolvia
em ondas de silêncio, uma senhora, ao telemóvel, “berrava” com o filho que, em
casa, estava atrasado para as aulas… E eu pensava: quando é que as pessoas se
aperceberão que estão a expropriar um bem dos outros - o silêncio?
E como ele é tão necessário… Não é por acaso que,
hoje, alguns professores iniciam as suas aulas com um tempo de meditação
silenciosa. E também não foi por acaso que a visita que, com o Grupo Boa
Memória, fiz ao Parque Arbutus do Demo em Vila Nova de Paiva, terminou com uns
momentos de olhos fechados para sentirmos o cheiro da verdura e os sons do
silêncio. Foi uma delícia…
Tempos atrás, ao visitar o mosteiro cisterciense de
Sobrado dos Monxes, na Galiza, surpreendi-me com várias pessoas em silêncio, no
parque do mosteiro: umas liam; outras olhavam as folhas ou orientavam o olhar
para as lonjuras… Quando meu neto, na traquinice dos cinco anos, começou a
cantar, o Torres Queiruga, que nos acompanhava, fez-lhe sinal e explicou: estão
num “Encontro de Silêncio”. Um “Retiro” diferente…
Precisamos de meter silêncio dentro de nós. Conheço
pessoas, como fez Frei Alfredo, dos capuchinhos de Fidenza, que percorrem os caminhos
de Fátima e de Santiago para meditar e respirar silêncio.
Como faz bem! É urgente educar para o silêncio.
Mesmo nas famílias, mesmo nas igrejas…
Deus está no murmúrio
de uma brisa suave… (cf.IRs, 19,12) Quem o poderá ouvir?
(14/6/2017)
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