O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, maio 03, 2017


A IGREJA E O 25 DE ABRIL

No passado dia 25 de Abril, Portugal recordou Sophia: “Esta é a madrugada/ O dia inicial inteiro e limpo/ Onde emergimos da noite e do silêncio/E livres habitamos a substância do tempo”.

A freguesia de Campanhã homenageou os “primeiros Autarcas Eleitos Democraticamente em dezembro de 1976”.
Na Sessão Solene, os representantes das forças políticas lembraram outras personalidades a quem se deve Abril. Um dos homenageados disse que esta é a hora dos políticos mas tempos houve em que estes, se não sintonizassem com o Governo, eram silenciados. Então, o púlpito era o único local onde, apesar de muitas restrições, a resistência à opressão podia passar para o grande público, e casos houve em que passou.
Estas palavras trouxeram-me à mente um nome que, no sábado anterior no Cerco do Porto, o apresentador do livro «No Princípio foi assim…» tinha referido: “D. Manuel Vieira Pinto que foi durante vários anos coadjutor de Campanhã.”
E não pude deixar de evocar o frontão do pórtico desse livro: Quando era diretor espiritual no Seminário de Vilar, o P. Manuel Vieira Pinto, atual bispo emérito de Nampula, ilustrava dois modelos de sacerdócio com a seguinte parábola. Certo dia, estavam dois padres em amena conversa, no primeiro andar da residência paroquial, quando ouviram um grande barulho na rua. Vieram à janela e viram dois homens a agredirem-se com grande violência. Um dos padres foi buscar rapidamente a sobrepeliz, vestiu-a, voltou à janela e, lá do alto, aspergiu-os com água benta e disse: «Irmãos, amai-vos uns aos outros como Cristo nos amou». O outro tirou o casaco, galgou as escadas a correr, meteu-se no meio dos desavindos e separou-os. E comentava: Claro que este sujeitou-se a apanhar quatro murros, enquanto o primeiro…”

E Dom Manuel apanhou, como reconhece a Associação 25 de Abril:
“Em Março de 1974, D. Manuel Vieira Pinto aprovou um documento assinado pelos sacerdotes da sua diocese, sob o título "Imperativo de Consciência". O documento da discórdia defendia uma "resposta corajosa aos problemas graves do povo moçambicano"(…) D. Manuel recebeu ordens para se deslocar para Lourenço Marques, (…) Fica retido pela polícia com o falso pretexto de ser uma medida necessária para protecção da sua integridade física, ficou impedido de contactar com alguém e de receber visitas. Por ordem do Governo, abandona Moçambique, mas deixou uma declaração comprovada pelo advogado da sua diocese em que redigiu: «Fica bem claro que saio de Moçambique por ordem do Governo e contra a minha vontade». Na sua chegada ao aeroporto de Lisboa, o Bispo, foi impedido de dialogar com os jornalistas dos meios de comunicação nacional e estrangeiro e até mesmo com os seus familiares.”

Obrigado, Dom Manuel Vieira Pinto!

(2/5/2017)