A IGREJA E O 25 DE ABRIL
No passado dia 25 de Abril, Portugal recordou
Sophia: “Esta é a madrugada/ O dia inicial inteiro e limpo/ Onde emergimos da
noite e do silêncio/E livres habitamos a substância do tempo”.
A
freguesia de Campanhã homenageou os “primeiros Autarcas Eleitos
Democraticamente em dezembro de 1976”.
Na Sessão Solene, os representantes das
forças políticas lembraram outras personalidades a quem se deve Abril. Um dos
homenageados disse que esta é a hora dos políticos mas tempos houve em que
estes, se não sintonizassem com o Governo, eram silenciados. Então, o púlpito
era o único local onde, apesar de muitas restrições, a resistência à opressão
podia passar para o grande público, e casos houve em que passou.
Estas palavras
trouxeram-me à mente um nome que, no sábado anterior no Cerco do Porto, o
apresentador do livro «No Princípio foi assim…» tinha referido: “D. Manuel Vieira Pinto que foi durante vários anos coadjutor de
Campanhã.”
E não pude deixar de evocar o frontão do pórtico desse livro: “Quando era diretor espiritual no Seminário de Vilar,
o P. Manuel Vieira Pinto, atual bispo emérito de Nampula, ilustrava dois
modelos de sacerdócio com a seguinte parábola. Certo dia, estavam dois padres em
amena conversa, no primeiro andar da residência paroquial, quando ouviram um
grande barulho na rua. Vieram à janela e viram dois homens a agredirem-se com
grande violência. Um dos padres foi buscar rapidamente a sobrepeliz, vestiu-a,
voltou à janela e, lá do alto, aspergiu-os com água benta e disse: «Irmãos, amai-vos uns aos outros como Cristo
nos amou». O outro tirou o casaco, galgou as escadas a correr, meteu-se no
meio dos desavindos e separou-os. E comentava: Claro que este sujeitou-se a
apanhar quatro murros, enquanto o primeiro…”
E Dom Manuel apanhou, como reconhece a Associação 25 de Abril:
“Em Março de 1974, D. Manuel Vieira Pinto aprovou um
documento assinado pelos sacerdotes da sua diocese, sob o título
"Imperativo de Consciência". O documento da discórdia defendia uma
"resposta corajosa aos problemas graves do povo moçambicano"(…) D.
Manuel recebeu ordens para se deslocar para Lourenço Marques, (…) Fica retido
pela polícia com o falso pretexto de ser uma medida necessária para protecção
da sua integridade física, ficou impedido de contactar com alguém e de receber
visitas. Por ordem do Governo, abandona Moçambique, mas deixou uma declaração
comprovada pelo advogado da sua diocese em que redigiu: «Fica bem claro que
saio de Moçambique por ordem do Governo e contra a minha vontade». Na sua
chegada ao aeroporto de Lisboa, o Bispo, foi impedido de dialogar com os
jornalistas dos meios de comunicação nacional e estrangeiro e até mesmo com os
seus familiares.”
Obrigado, Dom Manuel Vieira Pinto!
(2/5/2017)
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home