PAIXÃO E UTOPIA
Várias paróquias estão a celebrar as suas “bodas de
ouro”. Nasceram em tempos do Vaticano II e a sua criação só pode ser
compreendida dentro desse contexto de profunda transformação da Igreja. O novo paradigma
pastoral assentava na visão conciliar que dava relevo à Igreja missionária e
pobre, dialogante e servidora da humanidade, mistério de comunhão de todos em
Cristo pela força do Espírito e sacramento de salvação da humanidade, presente
no meio dos homens e atenta aos sinais dos tempos, povo de Deus que peregrina
rumo à Igreja Celeste. Acrescia a tudo isto a espiritualidade de Charles de
Foucauld que tinha por lema: “gritar o Evangelho de Cristo com a vida”.
Destas
raízes nasceram intuições, bem simples, que ajudaram a balizar os caminhos que
as novas paróquias queriam percorrer, tais como: estamos em terra de missão; a
Igreja só será missionária se for pobre; importa privilegiar a função
deontológica da Igreja, ao serviço da sua missão teleológica, sabendo que o
processo está em nossas mãos e a ele nos dedicamos, os resultados
ultrapassam-nos e por eles rezamos; nunca esquecer o estudo, o silêncio e a
oração; o missionário não é um angariador de clientela, mas testemunha viva de
Cristo que se dá sem exclusivismos nem proselitismos; Cristo oferece a salvação
a todos sem aceção de pessoas; sou um simples instrumento – pobre entre pobres;
a Igreja é uma instituição teândrica (divina e humana) a quem o poder e o
dinheiro muito mal têm feito; o “pastor” deve viver para, com e no meio do seu
povo e em comunhão com ele nas alegrias e tristezas; o pároco está sempre em
serviço - quando estiver livre, sai para a rua…; não são as pessoas que vão à
igreja, é a Igreja que vai às pessoas; a paróquia não é um “pronto-a-servir”,
nem uma “estação de serviço” de sacramentos e atos de piedade; mais que um
espaço, a paróquia é um processo e uma atmosfera geradora de fraternidade; cada
pessoa vale pelo que é e não pelo que tem; em Igreja, mais vale pouco feito por
muitos que muito feito por poucos; o tapete da entrada da igreja tem o mesmo
mérito que a lamparina do Santíssimo - a dignidade está no modo como cada um
cumpre a sua função; mais que pelo património material – que, muitas vezes, é
contra-testemunho - a Igreja vale pela sua riqueza espiritual; a paróquia é uma
comunidade integradora de comunidades que deve gerar a unidade no respeito pela
diversidade; perante o fracasso, a verdadeira atitude evangélica é a
compreensão e o acolhimento; a transcendência de Deus revela-se na imanência do
Homem e a omnipotência divina na fragilidade humana.
Sonhos coloridos pela paixão. Os tempos
passam… mas os ideais permanecem.
Como dizia o bom João
XXIII: “Sem uma pitada de loucura, a Igreja não cresce”.
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