O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, fevereiro 15, 2017


 
CORAÇÃO EVANGÉLICO (I)

Há tempos, li o artigo “Espírito democrático em coração evangélico ”, um comentário muito interessante sobre aAmoris laetitia” que decidi  adaptar para partilhar convosco.
Começa assim: “O papa de Roma é, hoje, a sentinela mais atenta e incansável sobre os problemas do mundo. Mas também, para aqueles que não querem viver de olhos fechados e coração seco, o farol mais brilhante e a orientação mais autêntica na urgência do consolo e o longo caminho das soluções, nunca acabadas.
Seu olhar debruça-se sobre o mundo e os seus grandes problemas, sem se deixar fascinar pelos problemas imediatos. Não os evita, mas trata-os a seu tempo e com a devida perspetiva. Falando do amor e das suas diferentes realizações humanas, procura oferecer o seu significado profundo, insistindo na sua função inclusiva e estruturante da convivência humana. Somente a partir do centro se pode organizar tudo, sem que a teoria confunda as distâncias ou distorça a proporcionalidade. E o centro, repetindo-o com a paciência incansável de quem vive apaixonadamente o fundamental, é o amor de Deus, a sua ternura sempre inclinada sobre a margem do sofrimento e a sua misericórdia, maior que toda a culpa humana. O amor de Deus é o fundamento do seu apelo. O único capaz de conseguir que, face aos problemas humanos, os nossos juízos de valor, as nossas crenças e as nossas rejeições permaneçam na órbita evangélica. As suas palavras são um alerta moral que pode, inclusivamente, vestir-se com tons de uma dureza profética intensa: «É mesquinho deter-se a considerar apenas se o agir de uma pessoa corresponde ou não a uma lei ou norma geral, porque isto basta para discernir e assegurar uma plena fidelidade a Deus na existência concreta do ser humano.» (nº 304)
E prossegue: “Seja-me permitido manifestar o gozo pessoal de ver que um princípio, insistentemente repetido há anos, encontra garantia e confirmação na doutrina do papa. Cabe formulá-lo assim: se Deus é amor (1Jn 4.8.16), torna-se teologicamente óbvio que toda a doutrina que confirme e clarifique esse amor, é, por isso mesmo, verdadeira. Quem não compreenda este princípio, não entenderá nunca as tomadas de posição deste papa que chegou, com o Evangelho debaixo do braço, do contacto com o sofrimento dos pobres e da exclusão dos abandonados. Em concreto, não entenderá a sua resposta aos problemas concretos que, de algum modo, motivaram esta Exortação. Um texto que pede para ser interpretado tendo em conta o duro, às vezes seguramente muito doloroso, realismo de um pastor, cujas palavras e decisões nem sempre podem estender-se até onde ele, pessoalmente, desejaria. Nesta tensão radica uma chave indispensável para compreender a sua mensagem… e interpretar muitas reações.”   (Continua)

(15/2/2017)