CORAÇÃO EVANGÉLICO (III)
Falando
do Papa Francisco, Andrés Torres Queiruga afirma: “Tal
como Jesus, não deixa de expressar, com clara precisão, o ideal, nunca
irrenunciável. Mas, também como Jesus, é compreensivo com os erros e as
deficiências na concretização. Não por uma resignação passiva ou, relativismo
acomodatício, mas sim como impulso para avançar. Desse modo, não se recusa à
exploração de novos caminhos, inclusive em temas tão delicados como os
distintos modos de convivência antes ou depois do matrimónio. E, de igual modo,
sensível à dor de tantas pessoas que, nas difíceis circunstâncias atuais, viram
naufragar o seu matrimónio, procura e promova o acolhimento cordial, a inclusão
comunitária e a participação sacramental máxima possível.” E concretiza: “A
quase ninguém passou despercebido que, na modesta prudência da nota 351, abre
aquele que é o seu claro desejo: sem forçar ninguém, anuncia-o e justifica-o,
animando todo aquele que, em consciência, creia que deve segui-lo: «aos
sacerdotes lembro que o confessionário não deve ser uma câmara de tortura, mas
o lugar da misericórdia do Senhor. (E.G.44)
E de igual modo assinalo que a Eucaristia não é um prémio para os perfeitos,
mas um remédio generoso e um alimento para os fracos» (Ibid, 47)”
Quanto aos detratores do Santo Padre, denuncia: “A
última observação impõe, ainda que a contragosto, aludir ao estranhíssimo
fenómeno da aberta oposição à atitude pastoral do nosso papa, justamente por
aqueles que deveriam ser os primeiros a secundá-la e apoiá-la. Não se encontra
algo semelhante na história dos pontificados recentes. A fidelidade ao papa
costumava ser o argumento definitivo e sem apelação. Mas, de repente,
justamente quando surge um papa com ânimo democrático, centrado no seu papel
pastoral, entregue de corpo e alma à promoção dos valores evangélicos e
respeitoso do papel e da liberdade do carisma teológico, falam de autoritarismo
e rebelam-se contra a autoridade do papa. E não têm pudor em proclamar-se
defensores da fé, contra os erros papais. Fazem-no, além disso, desde uma
teologia que, crendo-se a única legítima, se revela, em geral, de um
escolasticismo abstrato, uma hermenêutica pobre e uma clara falta de sentido
histórico.”
E conclui: “Podem parecer duras estas palavras. No
entanto, pretendem, acima de tudo, chamar a atenção para o problema objetivo; e
são ditadas pela, acredito, necessária e justa defesa de uma Exortação nascida
da generosidade evangélica e motivada pela urgência de anunciar o amor fiel e incansável
do Deus de Jesus. Obscurecer este anúncio com acusações veladas e rebeliões
mais ou menos abertas, não é bom para a Igreja nem para o mundo.”
Torres Queiruga, um amigo de longa data, aprovou esta
adaptação e autorizou-me a publicá-la. Obrigado.
(1/3/2017)
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