O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, março 01, 2017


CORAÇÃO EVANGÉLICO  (III)
 


Falando do Papa Francisco, Andrés Torres Queiruga afirma: “Tal como Jesus, não deixa de expressar, com clara precisão, o ideal, nunca irrenunciável. Mas, também como Jesus, é compreensivo com os erros e as deficiências na concretização. Não por uma resignação passiva ou, relativismo acomodatício, mas sim como impulso para avançar. Desse modo, não se recusa à exploração de novos caminhos, inclusive em temas tão delicados como os distintos modos de convivência antes ou depois do matrimónio. E, de igual modo, sensível à dor de tantas pessoas que, nas difíceis circunstâncias atuais, viram naufragar o seu matrimónio, procura e promova o acolhimento cordial, a inclusão comunitária e a participação sacramental máxima possível.” E concretiza: “A quase ninguém passou despercebido que, na modesta prudência da nota 351, abre aquele que é o seu claro desejo: sem forçar ninguém, anuncia-o e justifica-o, animando todo aquele que, em consciência, creia que deve segui-lo: «aos sacerdotes lembro que o confessionário não deve ser uma câmara de tortura, mas o lugar da misericórdia do Senhor. (E.G.44) E de igual modo assinalo que a Eucaristia não é um prémio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos» (Ibid, 47)”


Quanto aos detratores do Santo Padre, denuncia: “A última observação impõe, ainda que a contragosto, aludir ao estranhíssimo fenómeno da aberta oposição à atitude pastoral do nosso papa, justamente por aqueles que deveriam ser os primeiros a secundá-la e apoiá-la. Não se encontra algo semelhante na história dos pontificados recentes. A fidelidade ao papa costumava ser o argumento definitivo e sem apelação. Mas, de repente, justamente quando surge um papa com ânimo democrático, centrado no seu papel pastoral, entregue de corpo e alma à promoção dos valores evangélicos e respeitoso do papel e da liberdade do carisma teológico, falam de autoritarismo e rebelam-se contra a autoridade do papa. E não têm pudor em proclamar-se defensores da fé, contra os erros papais. Fazem-no, além disso, desde uma teologia que, crendo-se a única legítima, se revela, em geral, de um escolasticismo abstrato, uma hermenêutica pobre e uma clara falta de sentido histórico.”


E conclui: “Podem parecer duras estas palavras. No entanto, pretendem, acima de tudo, chamar a atenção para o problema objetivo; e são ditadas pela, acredito, necessária e justa defesa de uma Exortação nascida da generosidade evangélica e motivada pela urgência de anunciar o amor fiel e incansável do Deus de Jesus. Obscurecer este anúncio com acusações veladas e rebeliões mais ou menos abertas, não é bom para a Igreja nem para o mundo.”
 

Torres Queiruga, um amigo de longa data, aprovou esta adaptação e autorizou-me a publicá-la. Obrigado.

(1/3/2017)