Coração evangélico (II)
Depois de acentuar que, somente
a partir do Amor de Deus, se pode organizar tudo, o teólogo galego, Torres Queiruga,
explicita as duas grandes preocupações que, em sua opinião, balizam a Alegria do Amor: o respeito democrático e o coração
evangélico.
- Quanto ao Respeito democrático, afirma:
“Nunca na história do papado se havia proclamado, com
tão unívoca energia, o valor do “sentir
dos fiéis”, nem exercido, com tão clara consequência, o direito a serem
consultados de forma direta. O último sínodo em volta dos problemas do amor e
da família, com todas as limitações iniciais, foi, nesse sentido, um começo
histórico.” Continua: “Sem dramatismos,
cabe adivinhar um conflito íntimo entre o respeito ao espírito democrático – “sinodal”, se assim se prefere chamar-lhe
– e a generosidade evangélica atenta ao coração. Quando se lê assim,
impressionam a elegantíssima sabedoria pastoral e o profundo acerto teológico
da Amoris laetitia. Creio realmente
que não existe melhor chave para a entender no seu verdadeiro sentido e
calibrar o alcance eclesial da sua mensagem.” E esclarece: “Notam-se duas preocupações claras. A primeira, a
decisão de ser fiel à sinodalidade
eclesial, que, em primeiro lugar e como é lógico, se manifesta na contínua
referência às conferências episcopais. Porém que se estende sem limite aos
demais membros da Igreja: aos teólogos, aos fiéis em geral, aos pensadores e
inclusive aos poetas, como a surpreendente citação de Benedetti, prontamente
acompanhada por outra de S. João da Cruz. Alguém reparou que, quando se dirige
aos fiéis que se encontram a viver situações complexas, os convida a que «se
aproximem com confiança a conversar com os seus pastores ou com leigos que
vivem em entrega ao Senhor» (nº 312). A isso se une a cuidadosa comunhão com a
doutrina dos seus predecessores, na qual, passando em silêncio aspetos
superados pela passagem eclesial e teológica do tempo, sabe aproveitar aqueles
que assinalam a continuidade autenticamente evangélica (leiam-se, por exemplo,
a esta luz, as suas referências à Humanae
vitae: n. 68 e 82”).
- No que concerne ao Coração evangélico, começa por afirmar: “A segunda preocupação constitui a
nota de fundo que dá vida e marca, sem forçá-la juridicamente, a abertura
renovadora. Não quer uma igreja paralisada pelo legalismo, mas sim aberta ao
espaço, nunca suficientemente explorado, do amor de um Deus, que “ama a alegria
dos seus filhos”, a alegria de todo “ser humano” (nº 147-148). É dentro desse
amor, sem o abandonar nem ferir, que Francisco procura a resposta aos novos
problemas.”
Este texto, que me foi
aconselhado por um teólogo do Porto atento aos documentos do Magistério e às
reflexões da Teologia, termina no próximo número.
(22/2/2017)
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