O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, abril 05, 2017


BOAS PALAVRAS...

Ti’ Zé Mineiro trabalhava na “pedreira ” de ardósia. O “pó nos pulmões”, a silicose, matou-o ainda novo. Bom homem. No pouco tempo livre que a mina lhe deixava, cultivava umas leiras arrendadas e ajudava a vizinhança. Porém, raro era o domingo em que chegava “direitinho” a casa por causa duns “copitos”... Do mesmo mal sofria seu filho mais velho. Contava-se, em tom de brincadeira, que, numa dessas tardes, ao chegar a casa viu o filho deitado na sua cama. Protestou, mas não obteve qualquer resposta porque ele dormia embalado pelo álcool. Abanou-o e o jovem, ao vê-lo tão zangado, começou a cantar uma canção então muito em voga: “Daqui não saio, daqui ninguém me tira. E o senhor faça favor de esperar…” Ao ouvir, o pai, emocionado, logo lhe disse: - “Assim, sim! Boas palavras, filho!... “ E, sem mais, retirou-se para dormitar no preguiceiro da cozinha enquanto o filho dormia na sua cama.

Recordei este episódio da minha infância, ao ler o nº 133 da Exortação Apostólica A Alegria do Amor em que o Santo Padre transcreve parte do discurso que fez às famílias do mundo inteiro por ocasião da sua peregrinação a Roma no Ano da Fé (26 de outubro de 2013). Dizia então: “Na família, é necessário usar três palavras: com licença, obrigado, desculpa. Três palavras-chave”. E acrescenta, citando suas palavras ditas no Angelus do dia 29 de dezembro de 2013: “Quando na família não somos invasores e pedimos «com licença», quando na família não somos egoístas e aprendemos a dizer «obrigado», e quando na família nos apercebemos de que fizemos algo incorreto e pedimos «desculpa», nessa família existe paz e alegria”. E termina, aconselhando: “Não sejamos mesquinhos no uso destas palavras, sejamos generosos repetindo-as dia-a-dia, porque «pesam certos silêncios, às vezes mesmo em família, entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre irmãos». Pelo contrário, as palavras adequadas, ditas no momento certo, protegem e alimentam o amor dia após dia”.

Com algum humor, apetece-me dizer que, se o papa Francisco tivesse conhecido Ti’ Zé Mineiro, teria acrescentado “Faça favor”.

Nesta sociedade em que muitas pessoas, vindas de tempos longos de opressão, confundem falta de educação com liberdade e pensam que ser educado é sinal de inferioridade e servilismo, é preciso voltar insistir nas boas maneiras. São estas que adoçam a convivência social. Sem elas, a humanidade torna-se fria, insensível; desumaniza-se. O direito regula a convivência mas não lhe dá sabor…  

Os educadores, a começar pelos pais e avós, devem, e bem cedo, ensinar às crianças estas “palavras mágicas” que abrem as portas ao sorriso. Quão bem me sabe ouvir minha neta Clarinha tartamudear: - “Poe favoe, avô! Abigada!“

(
5/4/2017)