BOAS PALAVRAS...
Ti’ Zé Mineiro trabalhava na “pedreira ” de ardósia. O “pó
nos pulmões”, a silicose, matou-o ainda novo. Bom homem. No pouco tempo livre que
a mina lhe deixava, cultivava umas leiras arrendadas e ajudava a vizinhança. Porém,
raro era o domingo em que chegava “direitinho” a casa por causa duns “copitos”...
Do mesmo mal sofria seu filho mais velho. Contava-se, em tom de brincadeira,
que, numa dessas tardes, ao chegar a casa viu o filho deitado na sua cama.
Protestou, mas não obteve qualquer resposta porque ele dormia embalado pelo
álcool. Abanou-o e o jovem, ao vê-lo tão zangado, começou a cantar uma canção
então muito em voga: “Daqui não saio, daqui ninguém me tira. E o senhor faça favor de esperar…” Ao ouvir, o pai,
emocionado, logo lhe disse: - “Assim, sim!
Boas palavras, filho!... “ E, sem mais, retirou-se para dormitar no
preguiceiro da cozinha enquanto o filho dormia na sua cama.
Recordei este episódio da minha infância, ao ler o nº 133 da
Exortação Apostólica A Alegria do Amor
em que o Santo Padre transcreve parte do discurso que fez às famílias do mundo
inteiro por ocasião da sua peregrinação a Roma no Ano da Fé (26 de outubro de
2013). Dizia então: “Na família, é necessário usar três palavras: com licença, obrigado, desculpa. Três
palavras-chave”. E acrescenta, citando suas palavras ditas no Angelus do dia 29 de dezembro de 2013: “Quando
na família não somos invasores e pedimos «com
licença», quando na família não somos egoístas e aprendemos a dizer «obrigado», e quando na família nos
apercebemos de que fizemos algo incorreto e pedimos «desculpa», nessa família existe paz e alegria”. E termina,
aconselhando: “Não sejamos mesquinhos no uso destas palavras, sejamos generosos
repetindo-as dia-a-dia, porque «pesam certos silêncios, às vezes mesmo em
família, entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre irmãos». Pelo
contrário, as palavras adequadas, ditas no momento certo, protegem e alimentam
o amor dia após dia”.
Com algum humor, apetece-me dizer que, se o papa Francisco tivesse
conhecido Ti’ Zé Mineiro, teria acrescentado “Faça favor”.
Nesta sociedade em que muitas pessoas, vindas de tempos
longos de opressão, confundem falta de educação com liberdade e pensam que ser educado
é sinal de inferioridade e servilismo, é preciso voltar insistir nas boas
maneiras. São estas que adoçam a convivência social. Sem elas, a humanidade torna-se
fria, insensível; desumaniza-se. O direito regula a convivência mas não lhe dá
sabor…
Os educadores, a começar pelos pais e avós, devem, e bem
cedo, ensinar às crianças estas “palavras mágicas” que abrem as portas ao
sorriso. Quão bem me sabe ouvir minha neta Clarinha tartamudear: - “Poe favoe,
avô! Abigada!“
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