O
CANTO DAS CRIATURAS
Na
primavera, um melro todas as manhãs me desperta com loas ao Criador. Quanto
lirismo nesta alma portuguesa capaz de se unir ao canto matinal das criaturas e
rezar com S. Francisco de Assis:
“Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas, especialmente o meu senhor e irmão Sol, o qual faz o dia e por ele nos alumia. E ele é belo e radiante, com grande esplendor: de ti, Altíssimo, nos dá ele a imagem. “
“Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas, especialmente o meu senhor e irmão Sol, o qual faz o dia e por ele nos alumia. E ele é belo e radiante, com grande esplendor: de ti, Altíssimo, nos dá ele a imagem. “
Como
sabe bem rezar assim!...
Ainda hoje, ao sentir o cheiro a erva fresca, sinto a nostalgia da meninice quando levava o gado para os montes. Os campos tinham sido lavrados para a sementeira do milho. E os animais precisavam de erva fresca. Não bastava o feno seco. A partir dos seis anos, era eu quem levava os bois, as vacas e as ovelhas para o pasto. Meus pais cumpriam o ditado: “o trabalho da criança é pouco mas quem o desperdiça é louco”… Precisavam da minha ajuda. E não fiquei traumatizado…Ainda não tinha lido S. Francisco mas já me deixava inebriar pela beleza dos campos e dos montes, Como recordo esses tempos. Lembro-os como se fossem hoje…. Andorinhas enchem os beirais, já se ouve o cuco nas serras. E, nas leivas, debicam lavandiscas. O pequeno pastor, no monte, sozinho, vigia o gado. E descobre um ninho de gaio lá bem no alto dos pinheiros. Um zumbido rodopia; nas flores, mourejam abelhas. Numa ramada, verdejam videiras onde as carriças escondem o ninho. Um chasco, cor de cinza, disfarça os ovos na touça da carqueja. É primavera. Tudo floresce. Giestas e carquejas matizam amarelos com o violeta da queiró que papoilas salpicam de sangue e estevas debruam de brancura. O tojo esconde espinhos no amarelo queimado das flores. Quanta delicadeza no ondular azulado das pequeninas flores de linho nos campos da beira-rio!... Borboletas esvoaçam suaves em lampejos de luz e cor. Os estorninhos riscam o céu com o negro das asas. Num sobreiro, duas pegas esvoaçam em augúrio de boa sorte. E num carvalho, o pica-pau marca o ritmo duma sinfonia sem partitura. O sino da capela toca a “Trindades”. O pequeno pastor descobre-se e dá graças por mais um dia que vai chegando ao fim. É tempo de regressar a casa.
Ainda hoje, ao sentir o cheiro a erva fresca, sinto a nostalgia da meninice quando levava o gado para os montes. Os campos tinham sido lavrados para a sementeira do milho. E os animais precisavam de erva fresca. Não bastava o feno seco. A partir dos seis anos, era eu quem levava os bois, as vacas e as ovelhas para o pasto. Meus pais cumpriam o ditado: “o trabalho da criança é pouco mas quem o desperdiça é louco”… Precisavam da minha ajuda. E não fiquei traumatizado…Ainda não tinha lido S. Francisco mas já me deixava inebriar pela beleza dos campos e dos montes, Como recordo esses tempos. Lembro-os como se fossem hoje…. Andorinhas enchem os beirais, já se ouve o cuco nas serras. E, nas leivas, debicam lavandiscas. O pequeno pastor, no monte, sozinho, vigia o gado. E descobre um ninho de gaio lá bem no alto dos pinheiros. Um zumbido rodopia; nas flores, mourejam abelhas. Numa ramada, verdejam videiras onde as carriças escondem o ninho. Um chasco, cor de cinza, disfarça os ovos na touça da carqueja. É primavera. Tudo floresce. Giestas e carquejas matizam amarelos com o violeta da queiró que papoilas salpicam de sangue e estevas debruam de brancura. O tojo esconde espinhos no amarelo queimado das flores. Quanta delicadeza no ondular azulado das pequeninas flores de linho nos campos da beira-rio!... Borboletas esvoaçam suaves em lampejos de luz e cor. Os estorninhos riscam o céu com o negro das asas. Num sobreiro, duas pegas esvoaçam em augúrio de boa sorte. E num carvalho, o pica-pau marca o ritmo duma sinfonia sem partitura. O sino da capela toca a “Trindades”. O pequeno pastor descobre-se e dá graças por mais um dia que vai chegando ao fim. É tempo de regressar a casa.
Todos estes pensamentos me vieram à
mente ao ler “Segredo”, de Miguel Torga: “Sei um ninho. / E o ninho tem um ovo. / E o ovo, redondinho, / Tem lá
dentro um passarinho / Novo. / Mas escusam de me atentar: / Nem o tiro, nem o
ensino. / Quero ser um bom menino / E guardar / Este segredo comigo. / E ter
depois um amigo / Que faça o pino / A voar...”
Também eu, com que enlevo, acompanhava
o crescimento dos pequeninos no ninho…e a canseira dos pais a alimentá-los!
Maravilhas de Deus…
E apetece-me terminar com Sophia: Amei a vida como coisa sagrada /E
a juventude me foi eternidade.
(26/4/2917)
EE
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