O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, maio 17, 2017


 A MÚSICA É A VOZ DE DEUS

 

Esta afirmação de Rão Kyao, que acaba de publicar “Aventuras da alma” nos 40 anos da sua carreira, eleva-nos à transcendência da arte e exprime a minha vivência, no dia 10 de abril na igreja da Lapa. Foi num concerto solidário oferecido pela Academia de Música de Costa Cabral.

O Padre Ferreira dos Santos, depois de elogiar a ação desta escola musical cujo trabalho classificou como “milagre”, afirmou que a música é a arte mais dialogante com o ser humano. E fundamentou esta sua afirmação mostrando como os elementos musicais da harmonia, melodia e ritmo, interagem com o homem que é intelecto, simbólico e emotivo. Para o que evocou os pensadores da Grécia clássica com destaque para Pitágoras. Ao ouvi-lo, pensei no filósofo alemão Schopenhauer que, no século XIX, afirmava: “a música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende”.

Seguiu-se o diretor da escola, maestro Francisco Ferreira que dedicou as três primeiras músicas, pelo Ensemble de Metais e Percussão, ao seu autor, “cónego Ferreira dos Santos, um compositor ímpar que faz parte da cultura portuguesa”. Quão bem estiveram aqueles jovens instrumentistas! Um presente aberto ao amanhã, a lembrar Victor Hugo para quem “a música é o verbo do futuro”.

Esta afirmação ganhou maior relevo quando um coro infanto-juvenil com muitas dezenas de vozes, acompanhado pela Orquestra Sinfónica da Escola, cantou JESUS RESUSCITOU de Nick Perrin.  Foi uma narrativa da Paixão, em Semana Maior, contada por um leitor e pontuada pelo coro, a lembrar as tragédias gregas, que acentuava os “passos” mais significativos: 1. HOSSANA, JESUS! - exalta  a  entrada triunfal de Jesus em Jerusalém; 2. QUANTO ME DÁS - narra a negociação de Judas com os sacerdotes judeus e termina em desespero; 3. A ÚLTIMA CEIA - com toda a carga simbólica do lava-pés e instituição da Eucaristia; 4. ESTOU FARTO DE OUVIR - centrado no Jardim das Oliveiras e na prisão de Jesus; 5. QUEM VÃO ESCOLHER- enfatizando as palavras de Pilatos e a opção tumultuosa do povo por Barrabás; 6. REI DOS JUDEUS - com todo o peso dramático e contraditório do alto do calvário; 7. JESUS RESSUSCITOU -  enfatiza  o túmulo vazio e as aparições de Jesus.

Foi bonito ver uma igreja super-superlotada  ouvir esta mensagem pascal que nos chegava pela boca de juventude. Que bela catequese

Já Aristóteles dizia que “a música é celeste, de natureza divina, e de tal beleza que encanta a alma e a eleva acima da sua condição”. Muitos séculos mais tarde, Nietzsche afirmava que “sem música, a vida seria um erro”. Mas será possível vida humana sem música? E a música, que exprime o inexprimível, seria possível sem Deus? A música, como diz Rão Kyao, é a voz de Deus.

(17/5/2017)