A MÚSICA É A VOZ DE DEUS
Esta afirmação de Rão Kyao, que acaba de publicar “Aventuras da alma” nos 40 anos da sua
carreira, eleva-nos à transcendência
da arte e exprime a minha vivência, no dia 10 de abril na igreja da Lapa. Foi num
concerto solidário oferecido pela Academia de Música de Costa Cabral.
O Padre Ferreira dos Santos, depois de elogiar a ação desta
escola musical cujo trabalho classificou como “milagre”, afirmou que a música é
a arte mais dialogante com o ser humano. E fundamentou esta sua afirmação
mostrando como os elementos musicais da harmonia, melodia e ritmo, interagem
com o homem que é intelecto, simbólico e emotivo. Para o que evocou os
pensadores da Grécia clássica com destaque para Pitágoras. Ao ouvi-lo, pensei
no filósofo alemão Schopenhauer que, no século XIX, afirmava: “a música exprime
a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende”.
Seguiu-se o diretor da escola, maestro Francisco Ferreira
que dedicou as três primeiras músicas, pelo Ensemble de Metais e Percussão, ao
seu autor, “cónego Ferreira dos Santos, um compositor ímpar que faz parte da
cultura portuguesa”. Quão bem estiveram aqueles jovens instrumentistas! Um
presente aberto ao amanhã, a lembrar Victor Hugo para quem “a música é o verbo
do futuro”.
Esta afirmação ganhou maior relevo quando um coro
infanto-juvenil com muitas dezenas de vozes, acompanhado pela Orquestra
Sinfónica da Escola, cantou JESUS RESUSCITOU de Nick Perrin. Foi uma narrativa da Paixão, em Semana Maior,
contada por um leitor e pontuada pelo coro, a lembrar as tragédias gregas, que acentuava
os “passos” mais significativos: 1. HOSSANA,
JESUS! - exalta a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém; 2. QUANTO ME DÁS - narra a negociação de Judas
com os sacerdotes judeus e termina em desespero; 3. A ÚLTIMA CEIA - com toda a carga simbólica do lava-pés e instituição
da Eucaristia; 4. ESTOU FARTO DE OUVIR - centrado no Jardim das Oliveiras e na prisão
de Jesus; 5. QUEM VÃO ESCOLHER- enfatizando as palavras de Pilatos e a opção tumultuosa
do povo por Barrabás; 6. REI DOS JUDEUS - com todo o peso dramático e
contraditório do alto do calvário; 7. JESUS RESSUSCITOU - enfatiza o túmulo vazio e as aparições de Jesus.
Foi bonito ver uma igreja super-superlotada ouvir esta mensagem pascal que nos chegava
pela boca de juventude. Que bela catequese
Já Aristóteles dizia que “a música é celeste, de natureza
divina, e de tal beleza que encanta a alma e a eleva acima da sua condição”. Muitos
séculos mais tarde, Nietzsche afirmava que “sem música, a vida seria um erro”. Mas
será possível vida humana sem música? E a música, que exprime o inexprimível,
seria possível sem Deus? A música, como diz Rão Kyao, é a voz de Deus.
(17/5/2017)
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