O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, junho 07, 2017


 

RECONHECIMENTO...


Foi em 1976. Um estágio juntara-nos numa cidade do interior. Unia-nos a satisfação da meta alcançada mas também a dor do afastamento das famílias. Éramos uns estranhos. Tu, o mais velho, chegaste no dia seguinte mas logo procuraste criar laços entre nós. Nas primeiras aulas, descobriste que a mãe dum aluno tinha um pequeno restaurante onde servia moiras com grelos. E, por sugestão tua, lá fomos nós apreciar esses petiscos transmontanos. A partir daí, esbateram-se barreiras e construímos amizades que ainda perduram.
 
 

 Soubemos então que nasceste numa família pobre e trabalhadora. Foste criado nos campos até ires para o volfrâmio nas minas da Borralha. Com o pouco que aí amealhaste, compraste uma vaca que puseste a engordar em casa dum vizinho. E depois outra e mais outra… Com o quinhão que te cabia na venda, pagaste a tua frequência no colégio onde, mais tarde, foste professor de História. Estudaste e fizeste o Curso do Magistério. Professor primário, lecionaste também na telescola e abriste-te ao serviço à comunidade, como presidente da Junta de Freguesia e vereador da Câmara Municipal. Já bem adulto, entraste na Faculdade de Letras do Porto onde te licenciaste. E, com mais de 50 anos, sujeitaste-te a novo estágio pedagógico. Os vossos três filhos frequentavam, então, um seminário missionário. Colaboravas na tua paróquia onde eras muito estimado. Com muito sacrifício, tinhas comprado uma quinta, a “menina dos teus olhos”, que passou a ser lugar de encontro de amigos e familiares.
 
No domingo de pascoela, dá gosto ver a tua alegria quando os congregas para receber o compasso. Com que felicidade dás a cruz a beijar! Nos primeiros anos, o sacerdote era o “Abade de Singeverga”, D. Gabriel de Sousa. Quanto apreciávamos a sua conversa! E devemo-lo a ti e à tua esposa que sempre te acompanhou. Nas bodas de ouro matrimoniais, quisestes que o Coro Gregoriano do Porto fosse solenizar a Eucaristia na aldeia serrana onde vos tínheis casado. Mesmo não vivendo na nossa diocese, inscreveste-te na Voz Portucalense e angariaste vários assinantes. Todos os anos, envias a sua lista com o pagamento. Por isso, no último “Dia Voz Portucalense”, quando acabavas de celebrar o teu 92º aniversário, foste agraciado com o “Diploma Reconhecimento”. Infelizmente, como aconteceu a outros, a saúde não te deixou vir recebê-lo ao Monte da Virgem. Que Deus te conserve.

Foste sempre um “fazedor de pontes”, na linha das palavras do Papa Francisco em Fátima: “devemos antepor a misericórdia ao julgamento e, em todo o caso, o julgamento de Deus será sempre feito à luz da sua misericórdia. Possamos, com Maria, ser sinal e sacramento da misericórdia de Deus que perdoa sempre, perdoa tudo”.

Dou graças a Deus pelos amigos que pôs no meu caminho…

(7/6/2017)