RECONHECIMENTO...
Foi em 1976. Um estágio juntara-nos numa cidade do
interior. Unia-nos a satisfação da meta alcançada mas também a dor do
afastamento das famílias. Éramos uns estranhos. Tu, o mais velho, chegaste no dia
seguinte mas logo procuraste criar laços entre nós. Nas primeiras aulas,
descobriste que a mãe dum aluno tinha um pequeno restaurante onde servia moiras
com grelos. E, por sugestão tua, lá fomos nós apreciar esses petiscos
transmontanos. A partir daí, esbateram-se barreiras e construímos amizades que
ainda perduram.
Soubemos então que nasceste numa família pobre e trabalhadora.
Foste criado nos campos até ires para o volfrâmio nas minas da Borralha. Com o
pouco que aí amealhaste, compraste uma vaca que puseste a engordar em casa dum
vizinho. E depois outra e mais outra… Com o quinhão que te cabia na venda,
pagaste a tua frequência no colégio onde, mais tarde, foste professor de
História. Estudaste e fizeste o Curso do Magistério. Professor primário, lecionaste
também na telescola e abriste-te ao serviço à comunidade, como presidente da
Junta de Freguesia e vereador da Câmara Municipal. Já bem adulto, entraste na
Faculdade de Letras do Porto onde te licenciaste. E, com mais de 50 anos,
sujeitaste-te a novo estágio pedagógico. Os vossos três filhos frequentavam,
então, um seminário missionário. Colaboravas na tua paróquia onde eras muito
estimado. Com muito sacrifício, tinhas comprado uma quinta, a “menina dos teus
olhos”, que passou a ser lugar de encontro de amigos e familiares.
No domingo
de pascoela, dá gosto ver a tua alegria quando os congregas para receber o
compasso. Com que felicidade dás a cruz a beijar! Nos primeiros anos, o
sacerdote era o “Abade de Singeverga”, D. Gabriel de Sousa. Quanto apreciávamos
a sua conversa! E devemo-lo a ti e à tua esposa que sempre te acompanhou. Nas
bodas de ouro matrimoniais, quisestes que o Coro Gregoriano do Porto fosse
solenizar a Eucaristia na aldeia serrana onde vos tínheis casado. Mesmo não
vivendo na nossa diocese, inscreveste-te na Voz Portucalense e angariaste
vários assinantes. Todos os anos, envias a sua lista com o pagamento. Por isso,
no último “Dia Voz Portucalense”,
quando acabavas de celebrar o teu 92º aniversário, foste agraciado com o
“Diploma Reconhecimento”. Infelizmente, como aconteceu a outros, a saúde não te
deixou vir recebê-lo ao Monte da Virgem. Que Deus te conserve.
Foste sempre um “fazedor de pontes”, na linha das
palavras do Papa Francisco em Fátima: “devemos antepor a misericórdia ao
julgamento e, em todo o caso, o julgamento de Deus será sempre feito à luz da
sua misericórdia. Possamos, com Maria, ser sinal e sacramento da misericórdia
de Deus que perdoa sempre, perdoa tudo”.
Dou graças a Deus pelos amigos que pôs no meu
caminho…
(7/6/2017)
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