TENHO O TEU NOME
“Eu também me chamo Francisco… António Francisco.” Quatro
meses são passados e a ternura destas palavras continua a emocionar-me.
A Associação Nun’Álvares de Campanhã nasceu, em 6 de
novembro de 1934, à sombra da Igreja. Esta matriz fundacional é recordada no
dia do seu aniversário com uma romagem ao cemitério onde se presta homenagem ao
fundador, P. Domingos Moreira de Azevedo. É também este o espírito que preside
à festa de Natal que realça a sua vivência cristã, como aconteceu este ano, com
uma sofrida palavra de gratidão a D. António Francisco. Mas este vínculo ganha
maior significado na tarde da festa da padroeira quando leva à igreja as
crianças do jardim infantil e ATL bem como os idosos do Centro de Dia.
Este ato
de louvor a “Santa Maria”, culmina com um momento de amorosa ternura quando
cada criança se dirige ao altar e oferece à Senhora de Campanhã a flor que
segura em suas mãos pequeninas. É o futuro a sorrir nos seus olhos. –“Eu levei
uma cor-de-rosa, avô”, diz a minha neta Clara. E de sentida oração quando, com
mãos enrugadas pelo tempo e pelo trabalho, os “mais idosos” colocam flores aos
pés da Virgem. O futuro e o passado entrelaçam-se num presente feito de
esperança e gratidão.
Este ano, D. António Francisco quis participar nesta
cerimónia. Quanta felicidade em seus olhos! E que carinho na sua voz! Lembrou
que, no primeiro Natal que passou na diocese, veio consoar ao “Natal dos Sós”,
na Associação Nun’Álvares a quem louvou e agradeceu por tudo o que tem feito pelos
mais pequeninos e pelos mais frágeis.
Na simplicidade da sua palavra, havia ternura e
emoção. Como foi surpreendente, ouvi-lo recitar, de cor e com brilho nos olhos,
o poema de Fernando Pessoa: “Grande é a poesia, a
bondade e as danças... Mas o melhor do mundo são as crianças”.
E se as palavras comoviam, mais ainda seus gestos.
Com que delicadeza dava a mão aos idosos que tinham dificuldades em abeirar-se
do altar! E com que delicia recebia os abraços das crianças. Quando os mais
pequeninos se lhe agarravam ao pescoço, era um avô que os acolhia. Muitos dos
que ali estávamos éramos avós para quem os netos são rebuçados que nos adoçam vida….
Como nos sentíamos irmanados…Como lhe ficámos gratos!
À saída, como gostava de fazer, foi distribuindo
sorrisos e cumprimentando toda a gente. Ao passar por mim, deu um abraço ao meu
neto e disse: - “Tu és o Francisco. Sabes, eu também tenho o teu nome. Chamo-me
António Francisco”. E sorriu com o encanto que só ele tinha. Três dias após,
partiria para a Casa do Pai. Foram estas as últimas palavras que lhe ouvi. Este
foi o último sorriso que lhe vi. Jamais esquecerei. “Quem meus filhos beija…”
(17/1/2018)
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