O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, janeiro 17, 2018


TENHO O TEU NOME
 
“Eu também me chamo Francisco… António Francisco.” Quatro meses são passados e a ternura destas palavras continua a emocionar-me.

A Associação Nun’Álvares de Campanhã nasceu, em 6 de novembro de 1934, à sombra da Igreja. Esta matriz fundacional é recordada no dia do seu aniversário com uma romagem ao cemitério onde se presta homenagem ao fundador, P. Domingos Moreira de Azevedo. É também este o espírito que preside à festa de Natal que realça a sua vivência cristã, como aconteceu este ano, com uma sofrida palavra de gratidão a D. António Francisco. Mas este vínculo ganha maior significado na tarde da festa da padroeira quando leva à igreja as crianças do jardim infantil e ATL bem como os idosos do Centro de Dia.
 
 Este ato de louvor a “Santa Maria”, culmina com um momento de amorosa ternura quando cada criança se dirige ao altar e oferece à Senhora de Campanhã a flor que segura em suas mãos pequeninas. É o futuro a sorrir nos seus olhos. –“Eu levei uma cor-de-rosa, avô”, diz a minha neta Clara. E de sentida oração quando, com mãos enrugadas pelo tempo e pelo trabalho, os “mais idosos” colocam flores aos pés da Virgem. O futuro e o passado entrelaçam-se num presente feito de esperança e gratidão.
 

Este ano, D. António Francisco quis participar nesta cerimónia. Quanta felicidade em seus olhos! E que carinho na sua voz! Lembrou que, no primeiro Natal que passou na diocese, veio consoar ao “Natal dos Sós”, na Associação Nun’Álvares a quem louvou e agradeceu por tudo o que tem feito pelos mais pequeninos e pelos mais frágeis.

Na simplicidade da sua palavra, havia ternura e emoção. Como foi surpreendente, ouvi-lo recitar, de cor e com brilho nos olhos, o poema de Fernando Pessoa: “Grande é a poesia, a bondade e as danças... Mas o melhor do mundo são as crianças”.

E se as palavras comoviam, mais ainda seus gestos. Com que delicadeza dava a mão aos idosos que tinham dificuldades em abeirar-se do altar! E com que delicia recebia os abraços das crianças. Quando os mais pequeninos se lhe agarravam ao pescoço, era um avô que os acolhia. Muitos dos que ali estávamos éramos avós para quem os netos são rebuçados que nos adoçam vida…. Como nos sentíamos irmanados…Como lhe ficámos gratos!
 

À saída, como gostava de fazer, foi distribuindo sorrisos e cumprimentando toda a gente. Ao passar por mim, deu um abraço ao meu neto e disse: - “Tu és o Francisco. Sabes, eu também tenho o teu nome. Chamo-me António Francisco”. E sorriu com o encanto que só ele tinha. Três dias após, partiria para a Casa do Pai. Foram estas as últimas palavras que lhe ouvi. Este foi o último sorriso que lhe vi. Jamais esquecerei. “Quem meus filhos beija…” (17/1/2018)