TERRA DE SANTA MARIA
Foi no
funeral de D. António Francisco que decidi escrever, em sua honra, dois textos
a publicar nas proximidades da Festa da Imaculada Conceição. O primeiro em
memória do nosso último encontro que aconteceu na única paróquia do Porto que
tem Santa Maria como padroeira. O segundo para agradecer suas palavras em 4 de
junho passado - “Dia da Voz Portucalense”- e o interesse com que seguiu a
visita ao “Monumento à Imaculada”, no Monte da Virgem.
Perde-se no tempo a devoção dos portugueses a Nossa
Senhora que, bem cedo, a invocaram como Santa Maria. Nem é preciso remontar ao
apóstolo São Tiago que a tradição coloca na origem de Nossa Senhora da
Oliveira, dedicada a Santa Maria, em Guimarães. E ainda hoje a medieval “Rua de
Santa Maria”, que lhe fica junto, é a menina bonita dos vimaranenses.
No século X, já a região litoral do Entre Douro e
Vouga tinha o nome de Terra de Santa
Maria. E, no século XI, no Algarve existiu a taifa de Santa Maria, como demonstra a evolução do nome da cidade
de Faro. Ossónoba, de origem fenícia,
manteve-se até ao séc. V quando passou a chamar-se Santa Maria de Ossónoba. No séc.
IX, o termo Ossónoba desaparece dando lugar a Santa Maria do Ocidente. No
século XI, após o governo de Said Inb Harun, na taifa de Santa Maria, passa a designar-se Santa Maria Ibn Harun. No
séc. XIII, os portugueses chamam-lhe Sancta Maria de Faaron, que, no
século XVIII, passa a ser, simplesmente, Faro.
No século
XII, já as catedrais de Braga, Coimbra, Porto, Lamego eram dedicadas a Santa
Maria. E São Pedro de Balsemão, perto da cidade de Lamego, de origem suevo-
visigótica, - “ a igreja mais antiga de Portugal”- tem uma capela em honra de
Santa Maria mandada construir pelo bispo do Porto, D. Afonso Pires, no século
XIV, que escolheu esta igreja para a sua sepultura.
D. Afonso Henriques e seu pai, Conde D. Henrique,
concederam à Sé bracarense grandes privilégios, elevando-a à categoria de
templo nacional. Santa Maria de Braga passou a ser padroeira do Portugal
nascente. Antes da batalha de S. Mamede (24/6/1128), para além doutras doações,
“ O Conquistador” confirmou o couto à sé de Braga e acrescentou que, se alguém
violasse essas concessões, incorresse na indignação da “Rainha Sancta Maria”.
Miguel de Oliveira, em “Santa Maria na História e na Tradição Portuguesa” diz: “Santa
Maria! Até ao fim da Idade Média, era esta a invocação mais comum e o mais
divulgado título da Mãe de Deus (…) Os poetas dedicavam-lhe trovas com o nome
de «Cantigas de Santa Maria». Os
livros dos seus devotos chamavam-lhe «Horas
de Santa Maria». As igrejas que se lhe consagravam, as festas litúrgicas em
sua honra, as terras que a tomavam por padroeira eram todas de «Santa Maria». O velho solar lusitano
orgulha-se de ser conhecido por Terra de Santa Maria”.
SENHORA DA CONCEIÇÃO, RAINHA DE PORTUGAL
Vem de longe a devoção à Imaculada Conceição, na
Península Ibérica. Já em 656, no Concílio de Toledo em que participou S. Frutuoso,
bispo de Dume, se fixou o dia 8 de dezembro como data da sua festa.
No início do século XIII, festejava-se a Imaculada,
no Mosteiro de Pombeiro, em Felgueiras. E em 1320, o bispo de Coimbra, por
influência de Santa Isabel, decretou: “Estabelecemos e mandamos que na nossa
igreja catedral de Coimbra façam festa em cada um ano, no oitavo dia do mês de
Dezembro, no qual dia a Virgem gloriosa Santa Maria foi concebida”. (A Virgem Maria – Padroeira e Rainha de
Portugal)
Na Idade Média, deu-se grande incremento à devoção
mariana por influência de S. Bernardo, de Santo António, e dos reis S. Luís, de
França e S. Fernando, de Castela. O povo peregrinava em massa para os
santuários que iam surgindo em sua honra.
Nos finais do século XIV, D. Nuno Álvares Pereira,
Condestável do Reino, dedicou, em Vila Viçosa, uma capela a Nossa Senhora para
a qual mandou vir de Inglaterra a imagem de Nossa Senhora da Conceição. E assim
a Casa de Bragança, de que é fundador, e Vila Viçosa ficarão para sempre
ligados ao culto à Senhora da Conceição. A devoção de D. Nuno era tal que,
quando deixou as lides militares, se recolheu ao Convento do Carmo por ele
fundado, em 1389, e adotou o nome de Frei Nuno de Santa Maria. Hoje,
veneramo-lo como São Nuno de Santa Maria.
Em dezembro de 1644, D. João IV, o primeiro rei da
Dinastia de Bragança, escreveu à Universidade de Coimbra avisando “haver
resoluto e ordenado que todas as cidades, vilas e lugares de seus reinos
tomassem por Padroeira a Virgem Nossa Senhora da Conceição”.
Em 25 de março de 1646, nas Cortes de Lisboa, os
três Estados do Reino decidiram aclamá-la Padroeira do Reino. E o rei sancionou
esta deliberação com uma provisão régia que dizia: “E da mesma maneira prometemos e juramos, com o Príncipe e Estados, de
confessar e defender sempre, até dar a vida, sendo necessário, que a Virgem
Senhora Mãe de Deus foi concebida sem pecado original”.
Como sinal, a partir dessa data, nenhum rei português usou a coroa real na
cabeça, direito que passou a pertencer apenas a Nossa Senhora. Em
cerimónias solenes, a coroa era colocada em cima de uma almofada, ao lado do
rei. Facto único no mundo.
A declaração de D. João IV pode ser lida na lápide
que ornamenta a face poente do “Monumento à Imaculada”, no Monte da Virgem.
Quando se aproxima o centenário da morte de “O Bispo
dos Pobres” e ainda choramos “O Bispo do Povo”,
o Monte da Virgem é um bom local para rezar e invocar a memória destes
bem-amados bispos do Porto: D. António Barroso que, em 25 de julho de 1905,
benzeu a “pedra fundamental” do Monumento à Imaculada e D. António Francisco
que, em 4 de junho passado, aí presidiu ao “Dia da Voz Portucalense”. Louvor e
ação de graças.
(13/12/2017)
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home