O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, novembro 08, 2017


MEMÓRIA E GRATIDÃO (II)

         O cronista de Settimananews enaltece a coragem de D. Manuel Martins:
“Em 1985 – dez anos após a revolução – Portugal vivia ainda na incerteza política e económica. Tinha-se medo do regresso da direita. Havia fome. Nas periferias de Lisboa, na zona de Setúbal, no Alentejo. Havia fome. D. Manuel desafiava os políticos: «Os partidos políticos estão longe, estão muito distantes do povo; a classe política não goza mais da estima e da confiança do povo. Isto é dramático. Quer saber o que é que eu penso destes dez últimos anos? No começo a euforia era enorme, veio depois o desencanto, agora vivemos a desilusão. A seguir vai chegar o desespero.”

Havia quem não gostasse…
“ O Governador Civil de Setúbal promoveu contra o Bispo uma campanha difamatória com o objetivo de conseguir expulsá-lo de Portugal.
Pelos sectores tradicionalistas foi D. Manuel acusado de não se opor corajosamente aos movimentos de secularização. Esta era a sua defesa:
«Prefiro a secularização deste povo ao cristianismo frio de algumas zonas do norte de Portugal, que têm devoções meramente exteriores, um culto sociológico e não interiorizado, um culto que não revela sensibilidade alguma para com o homem e seus problemas. Há infelizmente muitos católicos que desejam confinar a Igreja às paredes da sacristia. Não querem ser incomodados. Penso que a Igreja só se torna credível quando toma posição. Estou convencido de que evangelizar quer dizer ajudar o homem a levantar-se, a abrir os olhos, a exigir que sejam respeitados a sua vida e os seus direitos. O Presidente socialista (Mário Soares) disse-me uma vez que os padres de Setúbal são muito avançados, progressistas, demasiado progressistas. Respondi-lhe: Está enganado, senhor Presidente. Olhe que o mais vermelho de todos eles sou eu.”

 E Francesco Strazzari conclui, em síntese:
 “D. Manuel tinha uma ideia fixa: «A Igreja, animada pelo Espírito de Deus, deve estar presente exatamente ali onde a história joga o seu futuro. A história não está parada. Se a Igreja permanece acorrentada sempre aos seus parâmetros, aos critérios, às forças do passado, a Igreja não tem futuro e não serve, não vale nada. Na fidelidade à mensagem evangélica, na fidelidade ao depósito da fé – que é uma riqueza incomensurável para todos os tempos -, devemos todos ter a coragem de aceitar os desafios desta novidade e andar para a frente. Quem na Igreja tem responsabilidades tem obrigação de em cada dia saber despojar-se para se vestir de hábitos novos, como ensina São Paulo». Dom Manuel teve a coragem de proceder assim.”
Admirável!... Que esta voz penetre os tempos e os templos.

Muito obrigado, Dom Manuel Martins, pela frontalidade da sua palavra e exemplaridade do seu testemunho.

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça…” (Mt 5,6)

(8/11/2017)