MEMÓRIA E GRATIDÃO (II)
O
cronista de Settimananews enaltece a
coragem de D. Manuel Martins:
“Em 1985 – dez anos após a revolução – Portugal
vivia ainda na incerteza política e económica. Tinha-se medo do regresso da
direita. Havia fome. Nas periferias de Lisboa, na zona de Setúbal, no Alentejo.
Havia fome. D. Manuel desafiava os políticos: «Os partidos políticos estão
longe, estão muito distantes do povo; a classe política não goza mais da estima
e da confiança do povo. Isto é dramático. Quer saber o que é que eu penso
destes dez últimos anos? No começo a euforia era enorme, veio depois o
desencanto, agora vivemos a desilusão. A seguir vai chegar o desespero.”
Havia quem não gostasse…
“ O Governador Civil de
Setúbal promoveu contra o Bispo uma campanha difamatória com o objetivo de
conseguir expulsá-lo de Portugal.
Pelos sectores tradicionalistas foi D. Manuel
acusado de não se opor corajosamente aos movimentos de secularização. Esta era
a sua defesa:
«Prefiro a secularização deste povo ao cristianismo frio de
algumas zonas do norte de Portugal, que têm devoções meramente exteriores, um
culto sociológico e não interiorizado, um culto que não revela sensibilidade
alguma para com o homem e seus problemas. Há infelizmente muitos católicos que
desejam confinar a Igreja às paredes da sacristia. Não querem ser incomodados.
Penso que a Igreja só se torna credível quando toma posição. Estou convencido
de que evangelizar quer dizer ajudar o homem a levantar-se, a abrir os olhos, a
exigir que sejam respeitados a sua vida e os seus direitos. O Presidente
socialista (Mário Soares) disse-me uma vez que os padres de Setúbal são muito
avançados, progressistas, demasiado progressistas. Respondi-lhe: Está enganado,
senhor Presidente. Olhe que o mais vermelho de todos eles sou eu.”
E Francesco
Strazzari conclui, em síntese:
“D.
Manuel tinha uma ideia fixa: «A Igreja, animada pelo Espírito de Deus, deve
estar presente exatamente ali onde a história joga o seu futuro. A história não
está parada. Se a Igreja permanece acorrentada sempre aos seus parâmetros, aos
critérios, às forças do passado, a Igreja não tem futuro e não serve, não vale
nada. Na fidelidade à mensagem evangélica, na fidelidade ao depósito da fé –
que é uma riqueza incomensurável para todos os tempos -, devemos todos ter a
coragem de aceitar os desafios desta novidade e andar para a frente. Quem na
Igreja tem responsabilidades tem obrigação de em cada dia
saber despojar-se para se vestir de hábitos novos, como ensina São Paulo». Dom
Manuel teve a coragem de proceder assim.”
Admirável!... Que esta voz penetre os
tempos e os templos.
Muito obrigado, Dom Manuel Martins, pela
frontalidade da sua palavra e exemplaridade do seu testemunho.
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça…”
(Mt 5,6)
(8/11/2017)
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