O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, fevereiro 21, 2018

VENHO DA SERRA ALTA...


 

Há dias, o P. Justino Lopes, pároco de Vila Nova de Paiva e colega de D. António Francisco no seminário de Lamego, ofereceu-me, em 2ª edição de 2004, o livro A Aldeia, escrito pelo seu antecessor, Padre Joaquim Rodrigues da Cunha, falecido em 1972.

Aquando da primeira edição, em 1950, “O Século” escreveu: “Lêem-se com enlevo os quarenta e cinco poemas de Rodrigues da Cunha e reconhece-se como é forte e brilhante a personalidade deste poeta lírico que na fé, no amor de Deus e da Terra, na ternura pelas coisas simples, nos vários incidentes e figuras da vida rural encontra motivos de arte e de beleza”. E “O Comércio do Porto” dizia: “A ALDEIA é como que uma mensagem de exaltação da vida mística, esse quadro bíblico onde tudo exprime graça e singeleza”. 

Em “A Minha Homenagem”, o P. Justino enaltece o “Homem de letras que, consciente do valor da comunicação oral e escrita, dedicou parte da sua vida pregando e escrevendo” e acrescenta: ” Mestre Aquilino Ribeiro, seu grande amigo, felicitou «o poeta inspirado e a sua musa tão bucólica como formosa». E termina: “Aqui lhes abro, em 2ª edição, o livro «A ALDEIA» dum «poeta diurno, poeta de luz, de claridade e de alegria» que deu à estampa enquanto paroquiou estas Terras de Deus”. Um bem-haja, amigo, por este gesto de elogio ao seu antecessor. Não é frequente…

No Prefácio desta edição, o Cónego J. Mendes de Castro, escritor e professor ilustre, grande divulgador da obra do P. Rodrigues da Cunha, saudou o “aparecimento de mais um livro dos que constituem o roteiro mais iluminado das alturas onde viveu e descansa o insigne escritor”.

No Prelúdio do livro, o autor começa por esclarecer: “Leitor, eu venho da serra alta coroada de searas e despenhadeiros negros trazer-te a mensagem da beleza, na religiosidade da paisagem, na estância florida e bucólica das lombadas, na grandeza luminosa das almas simples, na candura da sua fé, na fereza das suas lendas, no simbolismo de seus costumes, no colorido das suas romagens. É cristão o meu poema”. Para depois continuar: “Pela beleza das coisas subirás à fonte da Beleza transcendente. Oh, se tu visses os pôr de sóis na serra! Os fenos a desdobrarem-se pelas encostas! O incenso das cavadas! O lavrador a escrever com seu arado o poema sinfónico das leiras! Que simplicidade! E que grandeza! Ah, se tu visses os giestais floridos!”

Dos poemas, apenas uns versos do Hino ao lavrador:

 “Bendita seja a fadiga /Que faz do grão uma espiga./ Louvado seja o Senhor! / Enxadas, forquilhas, arados, cantai. / Sacholas, gadanhas e foices, cantai. / Louvado seja o Senhor!”

Ressonâncias do Cântico de Daniel: “Obras do Senhor, bendizei todas o Senhor. Louvai-O e exaltai-O eternamente!” (3,57)

 “Terras de Deus” ou “Terras do Demo”? A resposta está no sentir e no olhar… (21/2/2018)